Flor e glória da Cristandade – II

O cavaleiro era o varão católico destinado a viver para o emprego da força em defesa da Cristandade. Piedoso, humilde, generoso, previdente e casto, era o terror dos maus e o encanto dos bons. Seu amor a Deus e ao próximo se exteriorizava pelos modos de ser, que o tornavam gentil, distinto, apreciador do cerimonial. Tudo isso define o perfil de quem, em nossos dias, é contrarrevolucionário do fundo da alma.

 

O cavaleiro, tal como existiu na Idade Média, é o varão católico apostólico romano destinado a viver para o emprego da força em defesa da Cristandade. Para melhor compreendermos esse papel do cavaleiro, consideremos alguns dados históricos.

Um alicate gigantesco: mouros e bárbaros

Na Chanson de Roland – obra lendária, épica, mas que retrata uma situação histórica –, chama-nos a atenção e comove notar que se fala dos doze pares de Carlos Magno com admiração, canta-se a glória deles como sendo grandes guerreiros, mas não há uma referência aos filhos do grande Imperador, pois estes eram uns songamongas, incapazes de carregar o fardo glorioso do Império que o pai deles tinha sabido estabelecer.

Resultado: a partir de sua divisão em três reinos, correspondentes aos três filhos de Carlos Magno, iniciou-se o esboroamento do Império. Somava-se a isso a precariedade das estradas, tornando tão difíceis as comunicações entre o poder central e as grandes propriedades rurais que, embora cada proprietário rural ainda obedecesse teoricamente ao monarca, na prática constituía-se à maneira de um reizinho do local. Assim, o Império se esmigalhou, no sentido etimológico da palavra.

Consideremos que esse Império estava sob a pressão, à maneira de um alicate gigantesco, das invasões dos mouros, dos hunos e outros bárbaros. Portanto, assim esboroado, tinha ainda que oferecer resistência a essas hordas de invasores.

Consequentemente, os homens mais poderosos começaram a construir, em torno de suas terras, muralhas para abrigar sua família, seus trabalhadores, seu gado, suas colheitas e, sobretudo, a capela com o Santíssimo Sacramento, imagens e relíquias. Quando ouviam falar que, de longe, vinha o adversário, todos se refugiavam atrás das muralhas, de onde passavam a combater o inimigo.

À medida que o invasor encontrava em seu caminho essas fortificações, ia se tornando enfraquecido. Ainda quando não fosse esmagado diretamente, avançava mais ou menos como um touro cada vez mais crivado de banderillas. Em determinado momento, ele caía e morria. Era um modo jeitoso de cada proprietário, defendendo a si e aos seus, proteger a todos.

Constituiu-se, assim, uma situação singular: o proprietário rural, que era como um fazendeiro de hoje, ficou com a incumbência de construir as muralhas e dirigir a guerra. Por conseguinte, deveria dar o exemplo sendo o guerreiro por excelência que ia montado a cavalo, de espada em punho; o mais corajoso tinha de ser ele. Depois, vinham seus filhos e sua parentela. Só mais para trás estavam os camponeses. Porque os primeiros do lugar deveriam ser os primeiros na luta e no sacrifício.

Desta maneira, estabeleceu-se uma espécie de identificação pela qual a classe dos proprietários rurais era a dos guerreiros, dispostos a dar a vida por aqueles a quem governavam. Sendo pequenos “reis” locais, eles compunham a nobreza – o barão, o conde, o marquês – sob a direção de outro “rei” maior, que era o duque, o qual, por sua vez, estava sob as ordens do rei propriamente dito. Constituía-se, assim, a hierarquia feudal.

Havia, portanto, uma classe dos homens mais ricos, poderosos e nobres, que eram também os mais corajosos e guerreiros, aos quais os outros deviam obediência, mas os primeiros tinham uma dedicação como raras vezes um pai possui em relação a seu filho. Era o equilíbrio social estabelecido, com uma sabedoria extraordinária, em função das condições militares e políticas do tempo.

Guerreiros descendentes de bárbaros, mas civilizados pela ação da Igreja

Esses guerreiros eram descendentes de bárbaros como, por exemplo, os germanos, cujo perfil os romanos deixaram descrito para a História. Eram tipos louros de olhos azuis, mas como quase todos sofriam de oftalmia, aquele azul ficava banhado num mar de sangue das oftalmias mal curadas, o que, juntamente com a melena loura suja, mal cuidada, caída para trás, lhes davam um aspecto monstruoso. Avançavam brandindo armas e se despejando em cima das populações com uma ferocidade medonha, matando os homens, despedaçando os cadáveres, quebrando objetos e monumentos preciosos, tomando conta das cidades e reduzindo os romanos moleirões a servos, de maneira que eles – imundos e broncos – ficavam mandando nos homens cultos, finos, numa inversão completa de valores.

Conta-se que, antes das batalhas, eles passavam a noite no alto das montanhas bebendo e cantando para se adestrarem para o combate. Ao amanhecer, desciam em hordas silvando, uivando como bichos, com uma parte do corpo nua e toda pintada, tendo amarrados por cima da cabeça crânios de animais. Era o uso da força no que ela tem de mais hediondo e brutal. Enquanto os homens desciam as encostas da montanha, as mulheres ficavam em cima, bebendo e cantando canções guerreiras para estimulá-los.

Os funcionários do Império Romano fugiam todos para o Sul, onde os bárbaros ainda não tinham chegado. Havia, entretanto, quem não fugisse: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Os padres e os bispos permaneceram em meio à barbárie e começaram a converter os bárbaros nos quais, após várias gerações de gente batizada, entrou a doçura de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desses bárbaros batizados nasceram os cavaleiros, herdeiros daquela força, daquele senso da luta, daquele gosto pelo combate e pela aventura que, quando bem entendidos, devem caracterizar o homem.

Por outro lado, uma vez convertidos, esses guerreiros se tornaram verdadeiros artesãos da paz porque não empregavam a força para fazer mal, mas a fim de se defenderem do mal que os outros iam lhes fazer. E se promove a paz quem não faz mal a ninguém, também é um promotor da paz aquele que defende a ordem por meio da força, se necessário for. Pois se, como vimos, a paz é a tranquilidade da ordem, quando alguém luta para restabelecer a ordem e a tranquilidade está defendendo a paz. Assim, quando em seus castelos eles defendiam as suas populações, suas riquezas honestamente acumuladas e, sobretudo, o Santíssimo Sacramento, agiam enquanto guerreiros da paz.

Sendo a paz um bem, deve ser amada com amor maior do que a paixão desregrada com que o celerado se entrega ao mal; eles precisariam ser ardentíssimos defensores da paz, guerreiros mais ferozes no combate pelo bem do que os outros eram na luta pelo mal.

O perfil moral do cavaleiro…

Vai surgindo, assim, a figura do cavaleiro: um guerreiro tremendo, que metia medo no adversário, mas sem ódio individual. O verdadeiro cavaleiro católico não podia matar por ódio pessoal. São Bernardo diz na regra dos Templários, da qual ele foi o autor, que o cavaleiro deve ser sereno e sem ódio individual, sem nenhuma dessas paixões que degradam tanto o homem quando ele fica com os furores do egoísmo; mas precisa ser terrível para fazer prevalecer a ordem que o Criador quer na Terra, os direitos de Deus contestados.

Por isso o cavaleiro, terror dos maus, é um encanto dos bons. Termina a batalha, o cavaleiro volta para o seu castelo, sua presença é a alegria de todos, porque ele afaga, é bom, não é vaidoso, recebe as homenagens que lhe são devidas, mas tem gosto de exaltar o valor dos outros: “Aquele combateu muito bem… Fulano, você foi um herói, eu lhe dou um título e tal parte de minhas terras…” Recompensas aceitas pelos outros, não por egoísmo, mas por encantamento. “Como é bom o senhor! Como ele é generoso! Como é grande! Que encanto sua presença no castelo! Lá fora ele era o terror, aqui é a flor do castelo!”

Então aparece outro lado do cavaleiro: herói por amor a Deus, piedoso antes de tudo. Acaba a batalha, ele entra na capela do castelo, ajoelha-se e dá graças por ter escapado ileso. Agradece, sobretudo, por ter conseguido afugentar o bárbaro ou o maometano e levar à vitória os fiéis, fazendo brilhar a glória de Deus sobre o adversário. Diante de uma imagem de Nossa Senhora, ele reza especialmente agradecido, enternecido. Todos cantam juntos. Seria uma das maneiras como se poderia imaginar a celebração da vitória.

No dia seguinte recomeça o trabalho. Todos já estão saindo da fortaleza, levando para suas casas seus pertences, as famílias vão se reinstalando, as mulheres retomam seus afazeres domésticos, os homens voltam a cuidar da agricultura. Enquanto isso, o castelão está tomando providências: “A fortaleza ficou quebrada em tal ponto, devemos consertar depressa, porque ninguém sabe quando o adversário vem. Quantas armas perdemos? Precisamos mandá-las refazer logo. A experiência atesta que tal arma tem melhor efeito se elaborada de tal maneira…” Então, ele dá ordem para fabricar as novas armas daquele modo. Quando o castelo é grande, tem no seu interior uma verdadeira aldeiazinha de carpinteiros, ferreiros e artesãos que vão preparando todo o necessário para o próximo combate. Porque o descanso é apenas a respiração entre duas batalhas.

Vemos, então, mais dois traços do cavaleiro: ele é piedoso, humilde, gosta de se curvar diante de Deus, é generoso, sente prazer em dar, elevar os outros, dignificar os talentos alheios, sua alegria está não em ser o único, mas o chefe de gente que tem valor. Outro traço: ele é previdente e já se prepara para a próxima guerra.

Tudo isso vai constituindo o perfil moral do cavaleiro. Ele é doce, afável, bondoso, mas essa afabilidade, esse amor cristão que o cavaleiro tem ao próximo se traduz nas boas ações, como também nas boas maneiras, que são o modo de exteriorizar a bondade interior. O cavaleiro é gentil, distinto, trata as pessoas bem. Por ser filho da paz, ele quer a ordem, e esta prescreve que cada um seja tratado de acordo com a sua categoria. Assim, o cavaleiro acolhe cada um segundo a respectiva categoria, mas quer que o respeitem. E se alguém lhe faltar com o respeito, vem a repreensão e, conforme for, a punição. É natural.

…define o perfil do autêntico contrarrevolucionário

Em torno dele vai se constituindo um cerimonial, ao qual gradualmente são incorporadas sua família e pessoas dos outros castelos, que são como ele e com ele convivem, e vão formando uma classe onde a educação é mais excelente, o palavreado mais elevado, mais florido e bonito, a distinção dos trajes e das maneiras floresce e surge a cortesia, a distinção própria dos cavaleiros.

Essa classe não rebaixa as outras, ela vai subindo mais ou menos como um balão que, ao elevar-se, fosse levando toda a população consigo. A ascensão dos cavaleiros era a ascensão da nação inteira. Com os cavaleiros, os outros mais chucros aprimoravam a linguagem, a educação, iam se cultivando e acabando de se desbarbarizar.

O cavaleiro era sinônimo de nobre? Todo nobre era cavaleiro, e todo cavaleiro era nobre? Não era tanto assim. Concebiam-se, numa situação excepcional, certos plebeus se tornarem cavaleiros, bem como determinados nobres não serem cavaleiros, mas não era o normal. A maioria dos cavaleiros era nobre, e muitos dos plebeus que se tornavam cavaleiros pela sua coragem ascendiam à nobreza. A fonte do recrutamento da nobreza era principalmente a Cavalaria.

Temos, então, o sentido do cavaleiro em nossos dias. Por que a palavra é tão respeitada, bela e significa tanta coisa? É por ser esse tipo ideal do católico posto na sociedade temporal e que tem como um dos traços mais preponderantes de sua alma a combatividade, não a serviço de seus interesses, mas de Deus, da Igreja, da Cristandade.

Ora, é isso que propriamente define o perfil de quem, em nossos dias, é contrarrevolucionário do fundo da alma. Este é corajoso, terrível, admirável, bondoso, gentil, acolhedor. Sua palavra vale como escritura pública, porque um cavaleiro não peca e, portanto, não mente nunca. Ele é casto, porque a impureza é o contrário da Cavalaria.

No cavaleiro reluziam todas as qualidades do verdadeiro católico

Na Idade Média, era normal que os cavaleiros que não entrassem para uma Ordem Religiosa de Cavalaria se casassem. O cavaleiro era o homem virgem que se casava com a dama virgem; Cavalaria e virgindade eram complementares. A força dele era a do homem casto, puro, não a do cafajeste frequentador de botequins.

No cavaleiro reluziam, com o brilho do aço, todas as qualidades do verdadeiro católico.

Tanto quanto me lembre, os meus primeiros encontros com a Cavalaria foram saboreando esta palavra, e compreendendo que ela era como uma misteriosa pedra preciosa que não brilhava com a luz vinda de fora, mas com um fulgor proveniente de dentro. As palavras “Cavalaria” e “cavaleiro” pareciam-me ter em si mesmas uma beleza, uma dignidade, uma distinção extraordinárias. Eram como um brilhante ou um rubi que rutilava por si mesmo.

Nos remotos anos de minha infância, usava-se a palavra “cavalheiro” um pouco mais do que hoje, e ela teve um importante papel em minha formação. Algumas vezes, recebi de minha governanta a recomendação de ser um cavalheiro.

Por exemplo, fui educado junto com minha irmã e uma prima, e com certa frequência fazíamos passeios a pé para exercitar. As regras de educação, com vagos restos da Cavalaria, prescreviam que o cavalheiro deveria dar atenção e precedência à dama por esta ser mais frágil. E as duas meninas, às vezes, deixavam cair alguma coisa.

Eu, perpetuamente distraído, começava por não notar aquele objeto jogado no chão. Primeira repreensão da Fräulein Mathilde: “Quem está com senhoras – imaginem menininhas de quatro, cinco anos… – deve prestar contínua atenção nelas para ver se não estão precisando de qualquer coisa. É assim que age um cavalheiro. Você não procedeu como um cavalheiro porque não estava com sua atenção fixa nelas para saber que cortesia deveria fazer. Agora vá e apanhe o objeto.”

Eu pensava: “Vai me dar menos trabalho apanhar esse objeto do que brigar com essa alemã. Vou pegar para não ter amolação.” Pegava e dava para a menina que o tinha deixado cair. Mas a governanta continuava:

“Não senhor, sorria! Na hora de entregar, precisa mostrar sua alegria por ter prestado serviço, sorria!”

Além disso, por vezes as crianças tendem a ser descuidadas quando estão à mesa, deixando cair comida, o que não é bonito. Quando isso se dava, logo vinha a recomendação: “Cavalheiro não deixa cair grãos de arroz, entretanto se acontece recolhe-os não com seu dedo, mas com uma colher…” E assim tantas outras regras de educação. “Cavalaria” foi para mim uma palavra que tinha um som de ouro, mas batia como uma chicotada, e isso me fez extraordinariamente bem.             v

 

 

(Extraído de conferência de 26/5/1984)

Igreja audaciosa, cheia de Fé, batalhadora

A grande batalha dos povos não se trava fora das fronteiras da Igreja, mas dentro delas. Quando a Igreja está ereta, audaciosa, cheia de Fé, batalhadora, os adversários não são nada. Podem ter o ouro e o domínio que quiserem, podem inclusive matar os que são fiéis, não tem importância, se eles tiverem fervor, tudo vai para a frente.

Todos os mártires romanos, desde a chegada de São Pedro à cidade eterna até o decreto de Constantino dando liberdade à Igreja Católica – portanto, séculos de martírio –, poderiam subscrever estas minhas palavras. Eles foram perseguidos, caluniados, calcados aos pés, enfim, fizeram de tudo contra eles. Porém houve fervor, vida interior, a Santa Igreja continuou, tornou-se invencível e o Império Romano ruiu pelo chão.

(Extraído de conferência de 22/5/1987)

O joio e o trigo

Na parábola do joio e do trigo (Mt 13, 24-30) a boa semente, segundo a interpretação que lhe deu o próprio Senhor (Mt 13, 38), são os filhos do Reino, os que ouviram a palavra de Deus, aceitaram-na e com ela conformaram sua vida. Na sociedade visível instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja, o trigo seriam os fiéis. Há de notar-se, entretanto, que o joio, isto é, os filhos da iniquidade (Mt 13, 38), encontra-se no mesmo campo, cresce ao lado, bem junto do bom grão. Seria mesmo difícil arrancá-lo sem danificar o trigo.

A lição do Mestre insinua, pois, que está nos desígnios da Providência permitir também a existência de maus no seio da sua Igreja. E dispôs assim que prosseguisse ela sua finalidade até o tempo da colheita, que é a consumação dos séculos, quando o Reino dos Céus receberá seu último complemento na Jerusalém celeste, onde não entrará nada de imperfeito.

Não nos escandalizemos, portanto, se encontrarmos algum dia nos nossos templos também o joio, onde absolutamente ele não deveria estar. Nosso Senhor o predisse para que não se infirmasse nossa Fé. Para permiti-lo tem razões divinas que aos limites de nossa inteligência nem sempre é dado perscrutar.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de O Legionário  n. 334, de 5/2/1939)
Revista Dr Plinio 269 (Agosto de 2020)

Visão de conjunto do verum, bonum e pulchrum

A Idade Média tendia para pulcritudes que se fundiriam numa só ordem grandiosa apontando para o Reino de Maria. O Humanismo procurou provocar sensações meramente sensíveis e fragmentadas, prometendo ao homem uma falsa felicidade nesta Terra. Desse conceito errado de felicidade deriva todo o desabamento tortuoso pelo qual precipitou-se o mundo contemporâneo

 

Um homem privado inteiramente de qualquer forma de “pulchrum”, mesmo das mais modestas, pereceria primeiro se deformando, depois definhando em sua personalidade. Levaria uma vida tão arrastada, tão difícil, tão inconveniente de ser vivida que equivaleria quase a uma morte.

O homem tem necessidade do “pulchrum”

Pode-se realizar bem isso imaginando o que se conta a respeito do Delfim de Luís XVI e Maria Antonieta, na prisão do Templo. Murado vivo, nunca se limpando, se lavando, não tendo ar livre, perpetuamente na escuridão, sem interlocutor, recebendo a alimentação – pode-se imaginar que comida e que bebida… – por meio de uma dessas rodas junto a uma porta, e o resto do tempo completamente isolado.

Era um ente inteiramente privado de “pulchrum”. Dir-se-ia que o mais terrível era estar privado do afeto paterno e materno. Isso é evidente, e é nocivo no mais alto grau. Porém ainda que recebesse demonstrações desse amor, se ele não tivesse algum contato com uma realidade sensível bela, por exemplo, jamais visse o pai e a mãe – apenas tomasse conhecimento de bilhetes que lhe mandavam, porque estavam proibidos de entrar –, ele teria a noção da perseverança do afeto de seus pais, mas isso não bastaria. Precisaria ter algo de belo.

Absolutamente falando, a necessidade do “pulchrum” não é como a do ar, sem o qual a pessoa morre, mas é a que conduz a uma situação quase intermediária entre o estar vivo e o estar morto.

No campo doutrinário, há aqueles que, ao ensinarem o tomismo, embora não afirmem claramente, insinuam que para compreender bem o pensamento de São Tomás é preciso afastar o “pulchrum” de qualquer cogitação e pôr-se numa atitude onde só joga o raciocínio. Isso é completamente falso e anti-tomista.

Tudo o que é verdadeiramente belo favorece a virtude

O trecho sobre Maria Antonieta, do historiador inglês Edmund Burke que tivemos ocasião de comentar(1), tem uma beleza inegável. Porém, trata-se de um “pulchrum” moral.

Tudo aquilo que é autenticamente belo, de si, favorece a virtude. Não me refiro, é claro, a uma obra de arte esteticamente bonita, mas imoral, a qual em seus detalhes poderá despertar lubricidade. Essa é uma outra questão. Mas se uma obra de arte é verdadeiramente bela, ela desperta a pureza, porque a inocência se compraz com a beleza.

O “pulchrum” moral da Contra-Revolução está no fato de que tudo quanto ela diz e quer, os caminhos por ela trilhados têm um aspecto de beleza, do contrário não seria Contra-Revolução. Entretanto, a natureza dessa beleza varia muito. Por exemplo, Godofredo de Bouillon galgando as muralhas de Jerusalém, tomando conta da cidade e dirigindo-se ao Santo Sepulcro, seguido por seus guerreiros, tem uma beleza de arrepiar. É uma ação de caráter religioso-moral, tanto mais moral quanto é religiosa, e possui um “pulchrum” duplo: é a beleza do estabelecimento de uma ordem e da destruição da desordem que se opunha a essa ordem.

Na Idade Média, o “pulchrum” não era tomado apenas em uma determinada linha. Explico-me tomando como exemplo um nome que exprime uma certa ideia de “pulchrum” moral: Ricardo Coração de Leão. Refiro-me exclusivamente ao nome, pois o personagem não valia nada. O rugido do leão tem sua majestade, sua beleza. Um homem que se chama Coração de Leão dá a entender que ele quer ter essa coragem. E como ele era ligado ainda ao ambiente medieval, pensa-se num homem da Idade Média que tem coração de leão. Ora, fica muito bonito para um medieval ter coração de leão.

Mas o “pulchrum” medieval não consistia apenas em tomar um conceito assim – homem com coração de leão –, mas em uma ideia sintética da colaboração de todas as belezas para a constituição de uma resultante da soma de todos as pulcritudes, a fim de causarem ao mesmo tempo uma impressão única que seria quase uma visão sensível do belo enquanto belo, de uma beleza metafísica.

É propriamente o que medieval procurava, por exemplo, com aqueles vitrais da Sainte-Chapelle. Aquilo é uma sinfonia de cores onde cada nota tem seu efeito para produzir não apenas um bonito lilás ou vermelho em tal caquinho de vidro; isso existe e teríamos vontade de mandar fazer uma capela só com tons daquele vermelho ou daquele lilás. Porém o que fica no espírito humano de ideia e de sensação viva do “pulchrum” é o que decorre da coexistência e da coordenação de tudo isso junto.

Engana-se, portanto, quem pensa que são os vitrais o que há de mais bonito na Sainte-Chapelle. O mais belo é uma espécie de arqui-cor aparentemente incolor ali existente, como se estivéssemos num líquido composto de todas aquelas cores ao mesmo tempo. É o sublime da beleza da Sainte-Chapelle.

Ordem grandiosa que apontava para o Reino de Maria

Em geral, a Idade Média tendia para sínteses gigantescas dessa natureza, em que pulcritudes de vários tipos, de si, já constituíam pirâmides de belezas particulares, fundindo-se numa só ordem grandiosa que apontaria para algo – que o medieval não sabia, mas que seria o Reino de Maria – onde tudo fosse de uma harmonia arquetípica, desde a ordenação das ruas até a plantação das árvores, à maneira do Céu empíreo, e as pessoas se sentissem envoltas por tudo isso junto e, prelibando o Paraíso, dariam um brado de contentamento: “Ó beleza! Ó alegria!”

Isso nos dá uma ideia do coração humano reto que procura, já nesta Terra, uma forma de felicidade ordenadíssima que produz a suma felicidade.

A Revolução – sobretudo no seu começo nascente no fim da Idade Média, no Humanismo – procurou provocar sensações meramente sensíveis e fragmentadas, prometendo ao homem a felicidade nesta Terra se ele procurasse qualquer desses prazeres isoladamente e fizesse disso o campo da sua felicidade. A promessa era: “Goze disso e de várias coisas assim à vontade, mas não constitua uma síntese, porque a síntese o tirará da realidade!” Eis a grande mentira. Desse conceito errado de felicidade deriva todo o desabamento tortuoso pelo qual nos precipitamos onde estamos.

A verdadeira felicidade

Para o medieval, a noção de felicidade consistiria na tendência contínua para o “verum, bonum, pulchrum”.

Não se pode conceber um homem que procurasse o “pulchrum” o tempo inteiro e não buscasse, nas devidas proporções, também o “verum” e o “bonum”, até mesmo um artista. Evidentemente, ele não os procuraria separadamente, mas teria a visão de conjunto do “verum, bonum e pulchrum” de sua obra de arte.

Se bem que essa visão global dê a verdadeira felicidade nesta Terra, é necessária muita retidão para a pessoa querer tê-la. Por isso ela horripila o homem moderno, mas extasia o verdadeiro católico, embora este se encontre carregado de cruzes. Eu quase ousaria dizer que extasia no sentido místico da palavra. Isso porque a sede da contemplação, e o fato de encontrar-se dessedentado somente na medida em que se realiza a contemplação, corresponde a uma primeira graça que a pessoa recebe de um modo germinativo, um primeiro toque, com a inocência. O mundo atual está feito para excitar no indivíduo o abandono disso para se jogar nos prazeres fragmentados.

Antigamente os transatlânticos procuravam realizar isso. Eram palácios flutuantes onde a todo momento se oferecia um pequeno prazer. Então, salões magníficos nos quais garçons serviam sorvetes, bebidas, sanduíches, etc. Num desses salões se tocava música, em outro tinha jogo, noutro havia não sei o quê…

No tombadilho ficavam dispostas umas cadeiras espreguiçadeiras anatômicas, idealmente cômodas, com colchão de revestimento macio, enfim, tudo era mole. E quando a pessoa se encontrava inteiramente à vontade, vinha um empregado que fazia um salamaleque e oferecia, numa bandeja, refrescos segundo o gosto do cliente, que bebericava aquilo enquanto olhava o esplendor do mar.

Ficava subjacente a ideia de que viver num navio desses, ou num mundo todo ele feito de uma soma justaposta de sensações agradáveis, era a própria definição de felicidade.

Ora, eu, que por temperamento e modo de ser tenho uma enorme tendência a apreciar essas coisas e a procurar nelas a felicidade, estou certo de que, quando tivesse me saciado com tudo isso, dar-me-ia conta de haver em mim um vazio que essas delícias não preencheram, mas se eu entrasse na Sainte-Chapelle, diria: “Encontrei a felicidade!” v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 21/8/1994)
Revista Dr Plinio 269 (Agosto de 2020)

 

1) Ver Revista Dr. Plinio n. 268, p. 12-18.

 

Um rio de humildade no Paraíso do novo Adão

São Luís Grignion afirma que em Maria Santíssima, Paraíso do novo Adão, “há um rio de humildade que surge da terra, e que, dividindo-se em quatro braços, rega todo este lugar encantado: são as quatro virtudes cardeais”.

As virtudes cardeais – justiça, temperança, fortaleza e prudência – são aquelas que regulam todas as ações do homem. Dessa poética figura podemos deduzir que quem for verdadeiramente humilde possui as quatro virtudes cardeais.

Ora, verdadeiramente humilde é aquele que, antes e acima de tudo, o é em relação a Deus. A humildade para com o Criador consiste em reconhecer o que devemos a Ele, tributando-Lhe nossa enlevada e submissa adoração. Consiste, portanto, em sermos para com Deus amorosos e filiais paladinos da causa d’Ele – que é a mesma da Igreja Católica – até o último extremo de nossas forças. Portanto, a verdadeira humildade dispõe a alma do homem para viver num holocausto contínuo em relação a Deus, ao mesmo tempo em que o faz adquirir as quatro virtudes cardeais. Assim era a humildade de Nossa Senhora, Paraíso do novo Adão.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/6/1972)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

Sacralidade, renúncia e força de impacto

O cavaleiro medieval era fundamentalmente religioso, persuadido de sua Fé e da legitimidade, e até da obrigação, de usar o máximo de força a serviço da verdadeira Religião. Imbuído da liceidade dos meios que empregava, ele se deu por inteiro à Causa católica, estando disposto a ir até o fim e a morrer por ela.

 

Vamos fazer algumas considerações em torno de uma estátua que representa um guerreiro medieval, ostentando uma faixa com a palavra “Credo”.

Diálogo de increpação com quem se encontra diante dele

É uma peça típica do século XIX. Em geral, as figuras da Idade Média nada têm de teatral. Por exemplo, as esculturas que ornamentam as catedrais, postas em nichos, estão para ser vistas, mas o artista teve a preocupação de esculpi-las como se ignorassem os espectadores. De maneira que não têm nada de teatral.

O século XIX foi o século do teatro, como o XX foi o do cinema. Porque a arte teatral teve uma expansão no século XIX fabulosa, como quantidade e importância na vida concreta, em comparação com o século posterior.

Esse caráter teatral é o lado fraco não só da arte, mas da mentalidade de todo o mundo no século XIX, inclusive dos contrarrevolucionários.

Assim, esse guerreiro foi representado de maneira a estar tomando posição perante outrem, num diálogo de increpação com quem se encontra diante dele.

Por outro lado, o autor representou bem um lado admirável da alma do cavaleiro medieval: enquanto guerreiro, de tal maneira fundamentalmente religioso que, visto de um aspecto, ele não é senão religioso e só se ocupa com a Religião.

Ademais, está por inteiro persuadido de sua Fé e da legitimidade, e até obrigação, de usar o máximo de força, dentro das regras moralmente nobres da Cavalaria, a serviço da verdadeira Religião. Ele está altamente imbuído da legitimidade dos meios que emprega e se deu por inteiro a essa Causa, disposto a ir até o fim e a morrer por ela. Há, portanto, a meu ver, uma ideia de sacralidade, de renúncia, de determinação e de força de impacto extraordinária nesse guerreiro.

Se o comparamos com um guerreiro do século XV, notamos como são profundamente diferentes. Entretanto, o cavaleiro do panache(1) acrescenta algo que faltava ao medieval, embora tenha havido uma defasagem em pontos fundamentais.

Avançando nos séculos, poderíamos confrontar o cavaleiro medieval com um guerreiro de Napoleão, e encontraríamos diferenças ainda mais marcantes, por onde se vê que a coragem não é apenas a determinação de enfrentar o fogo e a morte, mas uma deliberação da pessoa inteira de empreender qualquer coisa em qualquer campo.

Um guerreiro de Napoleão fora da guerra poderia ser mentiroso, ladrão, acovardado. Ney(2), por exemplo, não era obrigado a ser bravo e ter as virtudes militares na vida civil, bastava possuí-las na vida militar. O medieval não era assim. Esse modo como ele está aqui representado é o mesmo pelo qual enfrenta qualquer outro perigo, adversário ou dever. A guerra para ele é um estilo de vida; para Ney é um estilo de luta. Na hora do combate, o soldado napoleônico é o bravo, mas na vida civil é um sujeito qualquer.

Sacral como uma torre de catedral

Um aspecto que me agrada especialmente nessa figura de cavaleiro medieval é a suprema sacralidade. Ele é sacral como uma torre de catedral, de uma sacralidade que leva às mais altas considerações do espírito, misturadas com muito bom senso. Não vejo esse predicado nos guerreiros que vieram depois. No extremo oposto disso estaria Dom Quixote, por exemplo. O medieval não vai por cima de um moinho de vento, não tem perigo. Entretanto, Dom Quixote manifesta qualquer coisa que o medieval possui, mas não desdobrou. Por exemplo, nesse cavaleiro da Idade Média o gosto da aventura não se encontra. Está o senso do dever aceito por inteiro, com uma determinação de alma completa, até admirável, mas não se pode dizer que está alegre de ser guerreiro. Não há aquela alegria específica da proeza, com a qual a pessoa pega a espada, a lança e diz: “Afinal!”

Alguns tinham isso; a maioria, porém, ia para a guerra porque era preciso, mas não se tinha chegado a destilar aquilo que se destilou depois, isto é, o gosto da proeza pela proeza. Contudo – aqui está o mal – deveriam apreciar a proeza por ser ela um reflexo de Deus, mas eles gostavam da proeza pela proeza por uma vaidade, um esporte, e isto é errado. Não obstante, há um gosto metafísico da proeza que eu encontro nos heróis da Reconquista espanhola, mas vejo menos nas Ordens de Cavalaria.

A proeza enquanto tal é uma linda posição da alma, que atinge essa beleza para se parecer com Deus, seu Criador. Os pregadores, quando viram despontar o amor da proeza, deveriam ter dito isto para canalizar esse amor. Este cavaleiro, representado nesta estátua, leu no compêndio que se deve morrer pela Fé e resolveu cumprir seu dever de modo fabuloso; pode ser um santo, mas não tem aquele “élan” que corresponde à alegria de realizar essa proeza por ser boa em si, porque reflete a Deus.

Nostalgia da proeza

Nessa outra representação o gosto da proeza está expresso de modo bem mais explícito, porque se nota nesse guerreiro montado a cavalo uma leveza que procede de uma alegria interior, simbolizada até no modo de a auriflama tremular ao vento, e na posição da lança; tudo isso representa a alegria de atacar com todas as forças, expondo-se ao risco. Os ornamentos do cavalo e do cavaleiro têm por objetivo nobilitar o estado de proeza em que esse homem se encontra. A viseira erguida indica o desafio ao risco.

A iconografia do século XIX representou muito mais o cavaleiro na guerra do que os próprios medievais representaram. É mais uma prova de que eles não tinham sabido ainda explicitar toda a beleza da proeza que possuíam. Os heróis que realizaram as proezas não tiveram tanto a ideia do “pulchrum” da proeza quanto o século da burguesia com saudades da proeza, e que soube cantar o que os outros possuíam.

A partir desse fenômeno poder-se-ia afirmar um princípio: o século que perdeu uma determinada qualidade e a considera com nostalgia, embora já não possua esse predicado, tem dele uma noção mais definida do que aquele que o possuiu. Essa nostalgia não é um elemento de fantasia, mas de definição.

Então, há uma pós-Idade Média baseada na História, mas vista por nós de um modo que não estava inteiramente na consciência dos medievais. Seria um erro afirmar que eles não possuíam esse espírito e essas qualidades. Tinham, mas os homens de séculos posteriores souberam exprimir melhor do que eles, por causa da nostalgia e do contraste produzidos pela falta que sentiam dessas riquezas.

Isso aponta para um aspecto da tradição até agora não considerado. Talvez a alma da tradição seja essa lembrança sublimada, com lucidez, que é o melhor legado que uma geração confere a outra.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 23/5/1974)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

 

1) Do francês, em sentido figurado: galhardia, brio.

2) Michel Ney (*1769 – †1815). Comandante francês nas guerras revolucionárias francesas e nas guerras napoleônicas, e um dos dezoito Marechais da França instituídos por Napoleão Bonaparte.

Na encruzilhada entre a cordialidade e a combatividade

Em sua primeiríssima infância, Dr. Plinio tinha a alma em extremo delicada, afetiva e amiga da paz. Em certo momento, pôs-se diante dele uma alternativa: ou sua delicadeza se completava com uma grande combatividade, ou não defenderia aquilo que o entusiasmava. Seria ele capaz de sacrificar suas primaveris afetividades?

 

O  ponto de partida do assunto a ser tratado é o seguinte: deve-se ter fortaleza ou bondade com as pessoas, e a que regras da Moral isto se relaciona? A Moral indica as circunstâncias, as situações em que ora a fortaleza, ora a bondade é necessária e se impõe como imperativo moral.

Se todos recorressem ao Espírito Santo, o pecado de Revolução pesaria muito menos sobre as pessoas

Essas regras são universais, não variam. Mas há outro conjunto de circunstâncias que pesam muito na fixação da conduta e se ligam ao modo de a Providência querer tocar as almas. Há almas às quais a Providência, por um desígnio misterioso especial, quer fazer o bem por meio da bondade, e outras sendo exigente para com elas. Devemos ter o discernimento necessário para perceber quando é o caso para uma coisa ou para outra.

No mundo contemporâneo, os espíritos são movidos pelo princípio de que toda desigualdade é uma injustiça e corresponde a um trato de uma certa crueldade, dureza de alma, porque a desigualdade faz sofrer quem é inferior. Ora, fazer sofrer é uma falta de clemência, de bondade; portanto deve-se ser a favor da igualdade porque é a ordem de coisas em que ninguém sofre os pesares da desigualdade. Por causa disso, metafisicamente falando, a igualdade é um bem e a desigualdade um mal.

Há muita gente que tem disso uma noção confusa e não é capaz de formular este erro como estou dizendo, pois a ideia não está explícita, a pessoa nunca conseguiu ou não quis exprimir em palavras, mas tem isso na cabeça. Entretanto quem pensa assim é levado a tomar uma posição igualitária diante das coisas, e entra na caudal da Revolução.

Se essas pessoas tivessem visto claramente isso, elas teriam resistido à Revolução? Seriam contrarrevolucionárias? Neste caso, não se poderia dizer que a graça não as ajudou e elas caíram no poço da Revolução sem a ajuda do Espírito Santo e, portanto, sem culpa? É uma pergunta odiosa, mas que pode surgir.

A resposta só pode ser negativa. O Espírito Santo ajuda todos que a Ele recorrem, esta é uma promessa de Nosso Senhor. Logo, essa quantidade enorme de pessoas não chegou a ver bem porque não quis, não se aplicou, não deu importância ao problema, teve vontade de ceder à opinião dos outros, pois, do contrário, teriam visto. Por esse motivo o pecado de Revolução pesa muito fortemente sobre um número colossal de pessoas.

Ora, como se explica que se aproxima de nós um rapaz, às vezes muito novo, dizemos-lhe essas verdades e ele aceita de boa vontade, contente? E o mais curioso é que antes de tomar contato conosco ele não aceitaria. Mais ainda, ele adere tanto que, praticamente, acaba dedicando toda a sua vida para a defesa desses princípios. O que aconteceu para que tão poucos pensassem assim e tantos outros não?

Uma graça especial, à medida da correspondência

Devemos, pois, concluir que nós, pensando assim, recebemos uma graça especial, à qual, em alguma medida, correspondemos, e que nos leva a fazer um ato de Fé, de coragem e uma renúncia muito grande que a Providência nos pede. Por causa disso Ela quer também tratar nossas almas de modo especial.

Então, para pessoas que lutam tanto contra o espírito revolucionário e, portanto, aguentam um fardo muito grande, é compreensível que seja reservada uma bondade igualmente grande, toda especial.

Entretanto, os que se colocam como inimigos da Igreja e da Civilização Cristã estão na posição oposta. São almas endurecidas que não têm nenhuma reverência, são capazes de todos os desaforos e de toda indecência. São pessoas que devem ser tratadas do modo oposto. Portanto, enquanto devemos fazer o possível para ser pai e mãe para uns, temos que ser leões em relação aos outros. É natural.

Se estou tratando com uma pessoa que me considera como um pai, devo tratá-lo como um filho. Mas se alguém está procurando qualquer ocasião para me ridicularizar e, na minha pessoa, zombar da Fé, da Doutrina Católica, da Igreja, perseguir Nosso Senhor Jesus Cristo, eu tenho a obrigação de mostrar a esse indivíduo e a terceiros qual é a força de alma que a Fé pode dar. Donde o princípio adotado por nós: devemos ser cordeiros para os de dentro e leões para os de fora.

A força simbolizada pelo leão é majestosa e provém da grandeza.  Com efeito, da grandeza, enquanto se mostrando na sua superioridade, emana uma certa força inerente à majestade e que esmaga, derruba, contunde o adversário, o que nosso leão exprime muito bem na dignidade daquele gesto de garra magnífico.

O primeiro estandarte da TFP

Aliás, cabe aqui um parêntese para contar a origem desse leão e desse estandarte. Na Vila Formosa, bairro da Zona Leste de São Paulo, havia um convento de dominicanas que eram muito amigas nossas. Às vezes íamos lá, aos domingos. Havia uma madre que era francófona – não me lembro se francesa, canadense ou belga, mas falava francês – e tinha muita habilidade para desenhar.

Nessa época, éramos seis ou sete pessoas remanescentes do Grupo do Legionário. Mas, tendo a convicção de que nosso grupo um dia cresceria e precisaria de um símbolo, pensei: “Vou cuidar do emblema enquanto o Grupo é pequeno, porque quando for grande já não terei tempo para isso.” Então consultei os demais, eles concordaram, e fomos pedir a essa madre que desenhasse um leão com as características que indicássemos. Ela desenhou, eu gostei bastante porque a madre apanhou muito bem o movimento de patas do leão. Dissemos, então, que mandaríamos bordar. Ela mesma bordou o nosso primeiro estandarte.

Com o tempo, fui indicando mudanças com vistas a tornar nosso leão elancé(1), de maneira a conferir-lhe esse aspecto de força majestosa que faltava no original.

Notem como ele está bem firme sobre suas patas traseiras, numa atitude ereta, a cabeça alta, olhando de frente como quem não teme o olhar de ninguém. Esse leão dá a entender que sua força não é a de um aventureiro, de um brutamontes, mas a de quem tem o direito de mandar.

No fundo da ideia de majestade está o direito e a superioridade intrínseca que confere certa força própria a quem sente que tem razão. A noção do bem encontra-se muito marcada nisso.

Táticas para todas as circunstâncias

Consideremos outro animal também muito forte, o qual, entretanto, não dá a impressão de ter o direito de mandar: o tigre. Ele tem o “direito” de ser admirado – há tigres lindos –, mas não possui o direito de ser obedecido. Se alguém afirmasse que o tigre é o rei das selvas, não diria a verdade. Porque ele não é, por sua natureza, um dominador. Ele capta as situações e dá um pulo quando a oportunidade se apresenta. É, portanto, um explorador de oportunidades, um aventureiro que sabe aproveitar a ocasião, não um governador. E como tem força se impõe, mas não com a força do direito e sim a do músculo.

O tigre é um “grand seigneur” que impõe admiração e medo, não obediência. A agilidade do tigre está, antes de tudo, na percepção. Ele tem notícia dos perigos e dos movimentos da presa. É a agilidade da surpresa. Com efeito, uma das mais altas formas de agilidade é saber pregar surpresa.

Assim, a Providência deu a cada animal o seu processo de defesa e de ataque especial. Vejam como os bichinhos muito pequenininhos têm facilidade de fugir. A desproporção de forças entre o tigre e o homem é muito menor do que a existente entre o homem e a mosca. Mas a mosca foge. Para o homem pegar uma mosca, que trabalho!

Há animais pequenos que encontram na sua própria pequenez a defesa. Uma pulga é tão pequenina que dificilmente a vemos. De repente ela pula, mas não sabemos onde ela caiu. São as defesas dos pequeninos.

A cobra, por exemplo, arrasta-se pelo solo e, como ninguém olha com atenção para o chão, ela tem mais condições de nos pegar de surpresa, ainda mais quando se oculta no meio das ervas e passa um homem. Ela é uma das rainhas da agilidade, mas se erra o bote está liquidada.

Há, portanto, nos animais uma espécie de equilíbrio que a Providência pôs entre a capacidade de atacar e de defender, que é colossal. A seu modo, eles não erram, seus instintos se desenvolvem corretamente e sempre agem de acordo com a lei inerente à natureza deles, embora não sejam dotados de inteligência.

Quem erra somos nós. De maneira que de um general ou de um advogado pode-se dizer que adotou uma tática errada. Já não se pode afirmar o mesmo de um leão, de um tigre, nem de uma pulga. É aquela mesma tática que serve para todas as circunstâncias.

O poder limitado do ser humano

Isso porque fomos concebidos no pecado original e eles não. O resultado é que em nós existe o erro. Para nós é uma lição e uma humilhação tremendas. Por exemplo, só de pensar na dificuldade de capturar uma pulga… Conforme o lugar onde ela se esconda, não há inseticida que a alcance. Quer dizer, ficamos pequenos em comparação com a pulga.

Mas também se passa com certas belezas da natureza. Como temos vontade de pegar uma borboleta azul e prateada, que voa perto de nós! Entretanto ela vai embora, não temos domínio sobre ela.

Para mim, as mais belas aves são a arara e o pavão. Por vezes acontece que estamos admirando o pavão, e ele fecha a cauda; não podemos mandar-lhe que a abra porque estamos com vontade de vê-la. A arara, por sua vez, é de uma beleza maravilhosa, uma joia. Suas penas são sempre lindíssimas. Mas é o único bicho que conheço o qual tem o corpo lindo e a cara nojenta, com a carne de que é composta e aquela espécie de olheiras medonhas com uns olhos imbecis dentro; um bico bonito feito para agredir, mas pendendo de uma cabeça mole sobre um pescoço incapaz de agressão. No Paraíso, se araras havia, tenho a impressão de que não eram assim, mas se assemelhavam a mini-águias, voando esplendidamente.

Tudo isso nos leva a considerar o que perdemos com o pecado original, e como o nosso poder é limitado. Entretanto convida-nos a nos voltarmos amorosamente a Nossa Senhora com esperança do Céu, porque no Paraíso Celeste nossa situação será muito melhor do que a de Adão no Paraíso Terrestre.

Nesta Terra é muito difícil haver criaturas que conjuguem capacidades aparentemente opostas. Por exemplo, para que um ser majestoso possa ser ágil, é fácil que perca algo de sua majestade; como também um ente ágil facilmente perderia alguma coisa de sua agilidade ao tentar ser majestoso. Não são qualidades contraditórias, mas com facilidade se chocam entre si.

Houve Quem tivesse todas as qualidades no mais alto grau e na mais perfeita harmonia: Nosso Senhor Jesus Cristo; e, abaixo d’Ele, Nossa Senhora. Porém a Providência tem um modo peculiar de tocar cada alma com vistas a realizar sua missão.

Num pequeno hotel de São Vicente

Na minha primeiríssima infância, eu tinha a alma em extremo delicada, afetiva e, portanto, em sumo grau amiga da paz, da ordem, das coisas que andam bem e não se chocam entre si. As brigas me causavam verdadeiro horror, como episódios que não deveriam ocorrer.

Eu me lembro de que minha mãe me contava um caso ocorrido numa ocasião em que ela foi passar uma temporada em São Vicente conosco, e se hospedou numa pensão de um alemão chamado Herr Kinker. Era um estabelecimento muito bom, bem mantido, perto do mar, para que minha irmã e eu respirássemos o ar marítimo muito saudável. Mas o Herr Kinker, dotado de uma porção de qualidades de hoteleiro, não tinha a virtude da temperança, especialmente quando estava em presença de uma garrafa; e, de vez em quando, entregava-se a bebedeiras ferozes.

Meu pai estava em São Paulo, as ligações interurbanas eram muito difíceis naquele tempo, tudo muito mais atrasado do que hoje, e não podendo voltar para São Paulo a fim de fugirmos do bêbado, minha mãe ficava sumamente preocupada, esperando que meu pai chegasse em breve para resolver o que fazer. Um dia caiu uma chuva medonha e ela me perdeu um pouco de vista. Em certo momento, começou a me procurar na casa inteira e não encontrava. Naturalmente sua aflição aumentou muito e ela, ao deparar-se com o Herr Kinker, perguntou-lhe onde eu estava, mas ele deu uma resposta pastosa, ambígua. Então Dona Lucilia foi ao terraço em frente da casa e me viu embaixo, sentado bem no meio de um canteiro, com a chuva caindo às torrentes sobre mim, e dizendo:

— Isso é uma injustiça, eu não merecia isso.

Eu tinha uns dois anos, mais ou menos, e repetia em voz alta essa frase, sem ninguém me ouvir.

Evidentemente ela foi correndo, pegou-me e me levou para dentro de casa, cumulando-me de carinhos. Até o fim da vida ela contava emocionada esse contraste entre minha inocência e o castigo imerecido que eu tinha sofrido.

Havia uma predisposição minha para manter as coisas como me parece que devem ser, mas com muita paz. Não fiz nenhum desaforo contra o Kinker, eu não estava irritado, protestava em paz. Porém se é injusto, é injusto.

Destinado pela Providência a sofrer os choques mais duros

Em certo sentido, essas são matrizes que Nossa Senhora pôs em minha alma. Em outros Ela colocará matrizes diversas. Depende de como Ela queira orientar e formar cada alma.

Essa minha disposição de alma estava, entretanto, destinada pela Providência a sofrer os choques mais duros no que eu tinha de bom. Em meus oitenta anos de vida, a Revolução não fez outra coisa senão chocar os meus lados bons o tempo inteiro.

Como não podia deixar de ser, pôs-se diante de mim uma alternativa: “Ou essa sua delicadeza se completa com uma grande combatividade, ou você será rejeitado, liquidado, porque não soube lutar contra os inimigos de Deus. Se não soube lutar contra os inimigos de Deus, todo o maravilhoso, todo o grandioso que você ama, toda a hierarquia que o entusiasma tiveram em você um mau defensor, um admirador vazio e sem valor, digno de ser rejeitado, porque não foi capaz de se sacrificar. Agora vamos ver, sacrifique-se!” Não era um sacrifício qualquer, mas um holocausto, uma vida feita de dor. “Você aguenta ou não aguenta essa vida feita de dor? Agora toque para a frente!”

Notem, portanto, que não é uma contradição, mas uma antítese, duas posições em extremo contrárias. Lembro-me de que, vendo-me na contingência de ser tão combativo, eu me perguntava o que faria das minhas primeiras cordialidades, das minhas primaveris afetividades. Aquilo tudo estaria liquidado? Minha resposta para comigo mesmo foi: “Não! Não renuncie a isso. Conserve no fundo de sua alma para quando algum dia acontecer de você tratar com gente que mereça isso. Mas por ora, se você vive no meio dos jaguares, saiba ser jaguar com os jaguares, saiba lutar! E, portanto, força!”

Mais tarde, compreendi que a hora da bondade tinha chegado quando comecei a perceber as novas gerações que se aproximavam de mim. Ao passar-lhes uns pitos, como eu fazia ao pessoal de minha idade, ao invés de tentar se revoltar – para o que eu já estava armado –, choravam. Então levei uma surpresa: “Que negócio é esse?! Bem, então começou outra canção…”            v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/9/1988)
Revista Dr Plinio  268 (Julho de 2020)

 

1) Do francês: esbelto, esguio.

 

Elegância, distinção, leveza e superioridade

Maria Antonieta, Rainha da França, surgiu como uma estrela da manhã que, em plena noite, cintila e vai enchendo de vida, esplendor e alegria todos os ambientes. Era tão delicada, fina, formosa, que sua presença comunicava beleza à corte. Ela realizou de um modo deslumbrante o papel social da rainha.

 

Vamos comentar um trecho do historiador inglês Edmund Burke(1), que considero como um dos textos mais impressionantes escritos sobre Maria Antonieta, e não só sobre ela, mas a respeito da situação geral da Europa no tempo da Revolução Francesa.

Ela desponta no horizonte como uma estrela

Fazem já dezesseis ou dezessete anos que vi a Rainha de França, em Versailles, quando era ainda Delfina. Sem dúvida, nunca tinha descido a este mundo – que ela mal parecia tocar – uma visão mais deleitável.

A primeira nota que ela dava era a delicadeza. Em termos diferentes, Burke diz que ela parecia um ente sobre-humano, insinuando ser mais angélico do que qualquer outra coisa, quando afirma que ela parecia uma pessoa como igual nunca tinha descido a este mundo.

Notem como na descrição o autor completa a ideia da delicadeza com a de leveza, ao dizer que ela mal parecia tocar na terra. Quer dizer, ela parecia mais voar, como se tivesse asas invisíveis, do que tocar com os pés. Essa ideia de delicadeza extrema ele apresenta como sendo realmente deleitável.

Vi-a precisamente despontar no horizonte, adornando e animando a elevada esfera na qual começava a mover-se, cintilando como a estrela matutina, cheia de vida, esplendor e alegria.

Ele descreve muito bem a missão de uma rainha que deseja desempenhar o seu papel na sociedade dando da realeza, na sua versão feminina, a visão que se deve ter. Então, ela desponta no horizonte como uma estrela, não aparece como o comum das pessoas que entram, mas é tão luminosa, graciosa, elevada que, ao ingressar, tinha-se a impressão de que era um astro que entrava.

Nessa ocasião, Maria Antonieta não era rainha ainda. Casada com o príncipe herdeiro do trono francês e recém-chegada da Áustria, sua terra natal, estava começando a viver na França. Pois bem, com esse noviciado tão mínimo de contato com a França, eis que ela realiza de um modo deslumbrante o papel social da rainha.

Os verbos adornar e animar, utilizados pelo autor, não foram postos a esmo, sem refletir. Adornar significa aumentar a beleza do ambiente em que está. Portanto, a presença dela tornava mais bela a mais alta sociedade francesa. A sociedade que, exatamente, destacava-se de todas as cortes da Europa por sua beleza era adornada pela jovem princesa austríaca. Maria Antonieta era tão delicada, tão fina, tão formosa, que sua presença comunicava beleza à corte francesa.

Papel do rei e da rainha

Vem a propósito fazer aqui uma consideração muito interessante a respeito do papel do verdadeiro rei. É próprio ao rei mandar. E também à rainha? Sim, em termos. O rei dever ser o mais sério e o mais vigoroso ornato de seu reino. Ele precisa saber ornar, como o faz o homem, pela manifestação da elevação de seu espírito, por suas qualidades morais e intelectuais, pela firmeza de seu braço na direção do timão do país, pela sua estatura avantajada e forte que faz ver nele o varão disposto a todos os heroísmos, amoroso da paz justa, mas também da guerra justa.

À rainha esses atributos cabem, entretanto mais delicadamente, na sua versão feminina. O adorno que a mulher deve trazer é de outra natureza. Estamos vendo bem o adorno que Maria Antonieta portava consigo.

Animar é comunicar vida, despertar os espíritos, entusiasmá-los, levá-los a admirar. Então, provocar admiração, entusiasmo é um dom que a rainha deve proporcionar aos seus súditos. Quando se faz admirar, ela está se dando aos seus súditos e, ao mesmo tempo, concedendo-lhes a ocasião de praticarem esse ato de virtude específico e magnífico que é a admiração.

Admiração traz animação. Num ambiente onde todos admiram, há vontade de comentar:

— Que beleza!

— Que magnífica!

— Que delicada!

— Mas, que nobre!

— Que majestosa!

— Que imponente!

Esses e outros comentários que esvoaçam pelo ar dão animação ao ambiente.

Segundo esta concepção monárquica, o papel do rei e da rainha, quando eles se elevam muito, é de doação. Os revolucionários, pelo contrário, querem ver no rei que está muito elevado um orgulhoso.

Ora, a ideia antiga era de que o rei e a rainha devem saber fazer-se admirar, ter qualidades que possam mostrar para que sejam analisadas. O povo francês analisava intensamente a rainha, mas as suas qualidades eram autênticas e por isso ela resistia ao exame.

Vida, esplendor e alegria

Houve um escritor francês que fez a seguinte comparação entre Luís XIV, o Rei Sol, e Napoleão, o intruso, o ladrão de tronos: Luís XIV sabia discernir, reunir e inspirar todos os homens de gênio – com genialidade, de grande capacidade intelectual, talentos artísticos, etc. – que ele encontrava em torno de si. De maneira que ao redor dele tudo floresceu. Napoleão, pelo contrário, tinha um modo de ser que levava os homens todos a se curvarem diante dele, e diante dessa multidão curvada ele dizia: “Só eu que valho”.

O rei autêntico é aquele que se dá de maneira a todos serem algo e tudo cresça em torno dele. O tirano não, ele faz com que todos se abaixem diante dele, ninguém se sobressaia a não ser ele.

Maria Antonieta conseguia isso fazendo o mesmo papel que a “stella matutina”, quando aparece ainda em plena noite. Quer dizer, sem essa estrela tudo seria muito mais apagado. Mas com ela cintilando, tudo se enche de vida, esplendor e alegria.

Esplendor é a fulguração da luz. Diz-se que uma luz fulgura quando ela tem uma forma especial e mais fascinante de brilho. E, nota final, “cheia de alegria”. Entretanto que alegria séria dentro de tanta elegância, distinção, leveza e superioridade! Como era preciso uma pessoa estar se dominando, ser senhora de si e saber o que realizava, para quem e como olhava, como saudava, o que fazia das mãos, dos pés, do tronco, como inclinava a cabeça na hora de cumprimentar alguém ou de responder a um cumprimento! Tudo isso constitui uma espécie de ascese contínua contra a qual luta a preguiça humana. A vontade de não prestar atenção, de ir fazendo de qualquer jeito, ao invés de entrar na sala quase em passo de minueto e percorrer o recinto com todo o esplendor, como uma estrela cruza o horizonte, e não com a vulgaridade com que passa pela rua um banal holofote de automóvel.

Entre hienas e serpentes, ela caminhava com confiança na Providência

Oh, que revolução! E que coração precisaria ter eu para contemplar sem emoção tal ascensão e tal queda!

Então, essa figura tão radiosa passar daquele extremo de elevação à posição de uma mulher, vestida como uma qualquer e sentada num banquinho de um carro sem encosto, com as mãos atadas atrás, um boné feio, todo amarfanhado, já usado por outras pessoas, e deixando aparecer os restos do cabelo que tinha sido cortado para não embaraçar a guilhotina!

Na véspera da execução de Maria Antonieta, esteve na sua enxovia, no seu cárcere, um cabeleireiro que cortou o cabelo dela a fim de abrir caminho para a guilhotina. Podemos imaginar o que significou para ela, que morreria no dia seguinte, sentir o frio do aço da tesoura deslizar sobre a sua nuca, traçando mais ou menos o itinerário da lâmina da guilhotina, sendo quase uma espécie de pequena guilhotinação antes da verdadeira execução. Uma coisa terrível!

Sobre essa Rainha pousavam séculos de glória, ligada à Casa mais nobre que pudesse casar-se com a Casa dela, que era a dos Bourbons. Rainha da França, portanto da nação primogênita da Igreja, caminhando entre feras, hienas e serpentes para ser morta, e caminhando com confiança na Providência. Deus, permitindo que nem isto lhe fosse poupado, pediu-lhe este ato de Fé, de confiança. E Maria Antonieta teve que confiar em que Deus tinha os olhos postos sobre ela, a amava e a guiava até o lugar da extrema imolação.

Olhar para Deus, que permitira que um tal peso caísse sobre ela, com tanta confiança e continuar o itinerário para a morte, era a seu modo, a meu ver, uma forma de martírio.

Não é uma forma vergonhosa. É compreensível que ela tenha sentido isto como uma vergonha. Mas se ela olhou para Deus no mais alto da glória d’Ele e pensou no que disse Nosso Senhor: não cai um fio de cabelo de nossa cabeça e nem um passarinho de uma árvore sem que Deus saiba, era impossível que isso acontecesse com a Rainha da França sem que o Criador tomasse conhecimento. Deus conhece tudo.

Podemos imaginar a placidez da Rainha e o ato de confiança que ela deve ter feito n’Ele nesse momento: “Meu Deus, tudo está me acontecendo. Vós permitis contra mim tudo, mas eu confio em Vós!” Como isso deve ter cintilado no Céu, mais do que resplandecia ela quando entrava na sala de bailes de Versailles!

A era da Cavalaria tinha passado

Não podia sequer sonhar – quando ela inspirava não só a veneração, mas também um amor entusiástico, distante e cheio de respeito – que alguma vez ela se veria obrigada a levar, escondido no seu seio, o pungente antídoto contra o opróbrio.

Vemos como o autor fala mais uma vez de como o povo recebia essa distribuição de beleza, de dignidade dadas com efusão. Era a generosidade dela que distribuía a todos a ocasião de conhecê-la e de louvarem a Deus por haver criado uma tal obra-prima, exaltavam a Civilização Cristã por ter modelado, através da corte da Áustria e da educação de Maria Teresa, aquele primor, louvavam a França por ter levado essa excelência a esse paroxismo difícil de imaginar. Vê-se como ela desenvolvia exuberantemente a tarefa de rainha.

Não podia imaginar que viveria para ver semelhantes desgraças abaterem-se sobre ela numa nação de homens galhardos, numa nação de homens honrados e de cavaleiros.

Supus que dez mil espadas teriam saltado para fora das suas bainhas a fim de vingar tão somente um olhar que a ameaçasse de um insulto.

Então se alguém pousasse sobre ela um olhar que apenas a ameaçasse de um insulto – não é, portanto, lançar um insulto –, dez mil espadas se teriam desembainhado para liquidar esse miserável. Entretanto, as circunstâncias estavam mudadas e a estrela da manhã se tinha transformado no símbolo da dor.

Porém a era da Cavalaria passou.

O entibiamento já começara a transformar todos os homens em vis ganhadores de dinheiro, preocupados apenas em comer, beber, ter casarões confortáveis onde se refocilarem, gastar muito em prazeres imorais. A era da Cavalaria tinha passado. Assim, porque a Idade Média acabava de morrer, essa infâmia se realizava.

Sucedeu-a a dos sofistas, economistas e calculistas; e a glória da Europa está extinta para sempre.

Embora com muito talento e tintas de conservador, Burke era um protestante e não possuía a visão católica das coisas. Se ele tivesse essa visão, conservaria no fundo da alma uma esperança, uma determinação: “Se eu falecer, estarei pedindo a Deus que faça morrer a Revolução e vencer a Contra-Revolução.”

Se a Contra-Revolução vencer, a glória da Europa não estará extinta, mas renascida com esplendor ainda maior, como aconteceu provavelmente com Lázaro. Se a Revolução vencesse e a Contra-Revolução não a esmagasse, estaríamos rolando para o fim do mundo mais ignominioso; neste caso, sim, ter-se-ia extinguido a glória da Europa. Mas no dia em que a Europa não tiver mais glória, no dia em que, sobretudo, a Santa Igreja Católica tenha deixado de fazer luzir a sua glória, ainda merecerá o mundo existir? A Santa Igreja não pode morrer. Antes que ela morra, Deus matará o mundo.

Nada se compara com a glória do Batismo

Nunca, nunca mais contemplaremos aquela generosa lealdade para com a categoria do sexo frágil…

Vejam a ênfase dele: “Nunca, nunca mais…” É um protestante sem nossas esperanças. Ele não seria capaz de crer na promessa de Nossa Senhora de Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”, pela simples razão de que, sendo protestante, a crença que ele tem não lhe comunicaria bastante força para o ato de Fé.

Burke se refere neste trecho à “generosa lealdade para com a categoria – quer dizer, a respeitabilidade, a distinção – do sexo frágil”. Hoje, com esta mania maldita de nada discriminar – o que equivale a dizer tudo igualar, nivelar, confundir, pôr na desordem e no caos –, o sexo frágil não podia estar reduzido a menos do que está. Com a permissão de, ao lado de um homem, representar o papel de esposa outro homem, o sexo feminino ficou reduzido a não sei o quê…

…aquela ufana submissão…

É uma linda ideia: uma submissão cheia de ufania! É assim a submissão que nós, católicos, temos à infalibilidade papal. Não é possível levar mais longe o senso da obediência do que nos submetermos à infalibilidade papal. Mas isso, que é um ato de obediência, é nossa honra.

Tomem o rei mais glorioso e poderoso do mundo, imaginem Maria Antonieta no auge de sua glória, isso é nada em comparação com a glória do Batismo, pelo qual nos tornamos filhos de Deus, da Santa Igreja e templos do Divino Espírito Santo.

…aquela obediência dignificada, aquela subordinação do coração, que mantinha vivo, até na própria servidão, o espírito de uma liberdade enaltecida.

A própria servidão – não creio que ele aluda à escravidão, mas se refira à submissão que os plebeus prestavam aos nobres e estes ao rei – tinha o sentido de uma liberdade enaltecida, e não de uma liberdade surpresa por ferros de humilhação e de prisão. Essa é a ideia que se tinha no Ancien Régime(2), por tradição medieval remontando à Santa Igreja, do senso de obediência e de disciplina.

“Eu apelo a todas as mães de França”

Concluo estes comentários contando um episódio, que é outro aspecto da tortura sofrida por Maria Antonieta.

Luís XVI teve de Maria Antonieta dois filhos: um menino, que deveria ser o futuro herdeiro do trono, e uma menina. Esse filho e essa filha foram transportados pela multidão revolucionária de Versailles para Paris, e encarcerados com o Rei, a Rainha e uma irmã do Rei, a Princesa Elisabeth, na Torre do Templo.

Certa noite apareceram alguns revolucionários, dizendo terem ordem de levar embora o filho de Maria Antonieta. O menino dormia. Ela se opôs entrando em luta contra eles, que eram homens fortíssimos. Imaginem essa princesa delicada lutando com aqueles chacais… Naturalmente ela não conseguiu vencê-los, imobilizaram-na e levaram embora o menino, em meio aos prantos da pobre mãe.

O príncipe foi conduzido para um outro recinto da Torre do Templo, e Maria Antonieta queria saber notícias dele – sendo mãe, era mais do que explicável –, como ia sua saúde, se ele estava se alimentando bem, e eles não davam resposta. O sentimento de compaixão mais elementar levaria a responder. Se ele não estivesse bem, poderia haver a tentação de contar uma mentira e dizer que se encontrava bem, para aquietar aquele coração materno.

Ela não viu mais o filho e, morto o Rei, foi feito um processo contra Maria Antonieta, que acabou sendo condenada à morte também.

Ao longo desse processo fizeram contra ela as piores acusações. Durante um julgamento iníquo, trouxeram o príncipe, a quem tinham embriagado, e induziram-no a testemunhar contra a própria mãe, acusando-a de ter praticado com ele uma torpeza.

Maria Antonieta teve este gesto sublime. Levantou-se e disse: “Eu apelo a todas as mães de França para que digam aqui se acreditam nesse depoimento.”

A sala estava cheia de mulheres, todas elas se levantaram e aplaudiram a Rainha até ao delírio. O presidente do tribunal – para chamar de tribunal essa conjuração de celerados – tocava a sineta para obrigar as mulheres a ficarem quietas, mas elas batiam palmas com mais entusiasmo, o que era um modo de protestarem contra aquilo tudo.

Ele ficou indignado e mandou expulsar à ponta de espada todas as mulheres de dentro do auditório, porque percebeu que a partir daquele momento as mulheres ali presentes aplaudiriam tudo o que Maria Antonieta dissesse, desmentindo a tese de que era o povo quem tinha feito a Revolução.

Maria Antonieta voltou para o seu lugar de ré, e dali a pouco o presidente do tribunal encerrou o debate e disse: “Agora os senhores juízes vão emitir a sentença sobre esta ré.” Maria Antonieta, quieta, ouvia cada um pronunciar a sentença. Ela foi condenada à morte por unanimidade de votos.

Todos foram saindo da sala, bem entendido, sem olhar para ela. O que teria pensado ela nesses momentos? Ninguém sabe. Algum tempo depois, a sentença foi executada.   v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 19/8/1994)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

 

1) BURKE, Edmund. Reflections on the Revolution in France, in Two Classics of the French Revolution. Nova Iorque: Anchor Books-Doubleday. 1989, p. 89.

2) Do francês: Antigo Regime. Sistema social e político aristocrático em vigor na França entre os séculos XVI e XVIII, extinto em 1789, com a Revolução Francesa.

O homem-saúva

O homúnculo luta contra todas as formas de luta. Ele trava uma batalha cedendo, fugindo, capitulando, deixando-se esmagar. A esta família de almas pertencem os incondicionais do ecumenismo. Temendo as disputas entre as religiões, querem fundir todas numa só pan-religião. Quanto mais igualdade melhor, para lá vão seus anelos pacifistas, rumo ao comunismo ou ao anarquismo.

 

Conheço o caso de um antigo fazendeiro paulista, senhor de vastos cafezais e de uma espaçosa mansão: quadrilátero com dois andares, porta ao centro e janelas de guilhotina iguais ao longo de toda a fachada. Ornamento externo nenhum. O fazendeiro, segundo o estilo tradicional, era também advogado e político.

Ruína de um laborioso fazendeiro

Família unida, títulos de propriedade seguros, terra roxa, casa firme, colonos submissos, vizinhos pacíficos, nada faltava ao sossego daquele laborioso fazendeiro. Mas um adversário inopinado atacou, no cerne, o feudo tão sólido. No cerne, digo, pois irrompeu inopinadamente dentro da própria casa. E, mais surpreendente ainda, esse adversário vinha de baixo para cima.

Um só adversário? Mais exatamente milhares, talvez milhões. Pequenos, conquistando terreno aos milímetros, no silêncio, despercebidos, dominaram o subsolo, enquanto em cima, na casa, o fazendeiro e sua família trabalhavam, comiam, bebiam, dormiam e se divertiam.

Um belo dia, uns poucos irromperam na copa. O fazendeiro os matou e ordenou uma investigação. E percebeu que já eram numerosos a ponto de ser inútil qualquer resistência. As saúvas – pois eram elas – haviam construído por todo o subsolo um labirinto tão vasto que inútil seria destruí-lo.

Para resumir a história, o fazendeiro mudou-se, a casa ficou abandonada, o cafezal começou a ser invadido. Esse fazendeiro, que julgava nada ter a temer de qualquer potentado, foi arruinado por essas miríades de adversários pequenos, escuros e silenciosos.

Os vastos e obscuros porões da mediocridade

Lembrei-me disto quando comecei a escrever o presente artigo. Pois o tema sobre o qual queria escrever era o triunfo dos homúnculos na sociedade moderna. Por homúnculos entendo aqui os homens de espírito pequeno, que cabem, cada qual por inteiro, em um dos mil alvéolos da vida cotidiana, os que querem uma vida feita pela banalidade de cada dia, para os quais ontem foi incolor, inodoro e insípido, como hoje e como amanhã. O oxigênio que respiram é a banalidade, e o prazer das coisas está essencialmente na repetição.

Para homúnculos assim, incômodo é tudo quanto é grande, venerável pela antiguidade ou magnífico pelo futuro que abre; tudo, enfim, que sai das dimensões cotidianas: holocausto, valentia, genialidade, delicadeza, excelência, infortúnios trágicos, e tantas outras coisas. É preciso acabar com tudo isto, com todos os que são assim, ou que algo disso refletem em seu espírito, em suas maneiras, sua linguagem, seu modo de ser ou sua conduta.

As incontáveis mudanças ocorridas em nosso século, em quase todos os domínios da vida, constituem vitórias dos homúnculos, pois elas sempre diminuem algo ou alguém. A sociedade humana se vai afeiçoando cada vez mais ao gosto das almas-saúva. O que tem como consequência que as almas grandes se sentem, neste mundo minado em torno delas, como o meu fazendeiro. Quem hoje aspira a qualquer forma de grandeza, máxime a da virtude, ou se disfarça ou sobre ele se precipitam imediatamente as saúvas saídas dos vastos e obscuros porões da mediocridade. E o expulsam para as regiões da incompreensão, da indiferença e do isolamento, nas quais a mediocridade reduz a viver quantos não cabem nos padrões dela.

Os incondicionais do ecumenismo

Vejo neste gigantesco fenômeno sociopatológico, nessa insurreição universal dos homúnculos contra os que os sobrepujam, uma das causas do entreguismo do Ocidente. O homúnculo, o homem-saúva, detesta a luta mais do que tudo. Esta acarreta grandes esforços, só entusiasma as grandes almas, ocasiona a fulguração de grandes infortúnios. O homem-saúva luta, por isso, contra todas as formas de luta. Singular batalha que ele trava cedendo, fugindo – para baixo, bem entendido –, capitulando, deixando-se esmagar até, se não houver outra solução.

A esta família de almas pertencem os incondicionais do ecumenismo. Temendo o aceso das disputas entre as religiões, o homem-saúva quer fundir todas numa só pan-religião, aliás mais ou menos ateia. Para o homem-saúva, todas as crenças e todas as descrenças devem confundir-se no mesmo ralo do ecumenismo.

Pela mesma razão, o homem-saúva está pronto a dar de barato sua pátria, como faz com suas crenças. O inimigo, ele prefere não o ver. Se é obrigado a vê-lo, imagina-o em vias de conversão, “desestalinizado”1, de face humana, transformado em pacato – e ambíguo… – socialismo.

Se o inimigo penetra nos setores políticos do país, ele lhe sorri e o rotula de “pra-frente” e “no vento”. Se se infiltra nos meios católicos, qualifica-o analogamente de “progressista”. Quando o inimigo cresce tanto que se torna ameaçador, o homem-saúva proclama irreversível o perigo, e tenta, como meio-termo, uma estratégia de “convergência”, inspirada no lema “vão-se os anéis e fiquem os dedos”. E, por fim, se o inimigo, depois de tomados os anéis, exige os dedos, o homem-saúva sussurra “vão-se os dedos e fique a vida”.

Mas todas essas concessões, o homem-saúva só as faz à esquerda. Toda a sua ação silenciosa e inexorável, de infiltração, de corrosão, de erosão, ele a faz na direita e no centro, onde costuma instalar-se. E então não cede, não foge, não converge, ele mina.

Por quê? Detestando tudo quanto é elevado, nobre e harmoniosamente desigual, para o homem-saúva, quanto mais igualdade melhor. E para uma igualdade totalmente rasa, totalmente plana, para lá vão seus anelos pacifistas. Rumo ao comunismo ou ao anarquismo.

Vivemos numa época de revolução. É banal dizer-se. Sim, da revolução dos homens-saúva contra tudo quanto tenha qualquer grandeza…      v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Transcrito de A Folha de São Paulo, 11/7/1981)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

 

1) Sem os excessos de Stalin.

 

Igreja audaciosa, cheia de Fé, batalhadora

A grande batalha dos povos não se trava fora das fronteiras da Igreja, mas dentro delas. Quando a Igreja está ereta, audaciosa, cheia de Fé, batalhadora, os adversários não são nada. Podem ter o ouro e o domínio que quiserem, podem inclusive matar os que são fiéis, não tem importância, se eles tiverem fervor, tudo vai para a frente.

Todos os mártires romanos, desde a chegada de São Pedro à cidade eterna até o decreto de Constantino dando liberdade à Igreja Católica – portanto, séculos de martírio –, poderiam subscrever estas minhas palavras. Eles foram perseguidos, caluniados, calcados aos pés, enfim, fizeram de tudo contra eles. Porém houve fervor, vida interior, a Santa Igreja continuou, tornou-se invencível e o Império Romano ruiu pelo chão.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 267 (Junho de 2020)