Desde toda a eternidade, foi designado para cada homem um Anjo Custódio a velar incansavelmente, dia e noite, por seu protegido, inspirando os bons pensamentos, defendendo dos assaltos inimigos. Aos Anjos devemos rogar em todos momentos difíceis da vida.
Deus dispensa a água às criaturas em condições muito diferentes. Se considerarmos o globo terrestre, notaremos como a água nos é concedida aos borbotões. Em primeiro lugar o oceano, depois
todos os rios que saem de dentro da terra e correm para o mar e o enchem continuamente, além de tudo aquilo que na natureza está colocado em estado gasoso nas nuvens. Com esta criatura água quantas coisas maravilhosas Deus fez!
Uma gota de orvalho
Entretanto, Ele realizou também com a água uma pequena joia e a multiplicou indefinidamente por todos lugares onde há plantas. Quem não viu e não se encantou com uma gota de orvalho, contemplando-a tão pura, tão límpida e com um tal modo de guardar a luz que bate sobre ela, que a luz parece passear dentro da gotinha e se regalar de imergir naquela pureza?!
De tal maneira a gota de orvalho me encanta que me lembro, em pequeno – quando estava sozinho porque não queria passar por extravagante –, de que, vendo o orvalho numa folha, eu a aproximava dos lábios e sorvia uma gota. Porque, sendo menininho, não podia me convencer de que uma coisa tão linda não tivesse um sabor muito gostoso.
Quando punha aquilo nos lábios percebia que não era saboroso, mas arranjava um pretexto para mim mesmo a fim de conservar minha ilusão. E pensava: “Quando for adulto – sem essa gente que está por aí e não entende nem vê nada –, algum dia irei com um copo numa mata e o encherei de orvalho. Só essa gota não me faz sentir o inteiro sabor, mas se eu tivesse um copo cheio, que beleza e delícia seria! Mais gostosa do que o champanhe”.
Algo semelhante ocorre com relação aos discursos, às conferências, à oratória…
No momento, só tenho a oferecer uma gota de orvalho. É uma pequena reflexão sobre matéria piedosa. Embora tenha tratado desse assunto em diversas ocasiões, é um tema tão bonito, tão admirável, que merece ser aprofundado um pouco: os Anjos da Guarda.
Anjos que regem os corpos celestes
Como ensina a Teologia, os Anjos são divididos em nove categorias sobrepostas umas às outras. A mais alta é a dos Serafins, que veem Deus mais direta e plenamente, conhecem maravilhas que as categorias inferiores não chegam a ver, e lhes contam aquilo que eles contemplaram.
Muita coisa que em Deus é mistério, Ele quer, na sua bondade, que os Anjos superiores entendam e contem para os que lhes estão abaixo. E assim as noções a respeito do Criador vão descendo e chegam à categoria menos excelsa, básica, que são exatamente os Anjos da Guarda.
Entretanto, esses também são tão esplendorosos, tão magníficos, que, às vezes, os Santos aos quais aparecem pensam que eles são Deus. E os Anjos precisam dizer-lhes: “Não, Deus é excelsamente mais alto, não tem comparação!” Eles veem Deus face a face e contam um pouco a respeito do Criador.
Deus outorgou para cada criatura humana um Anjo da Guarda. Como também se admite, cada estrela tem um Anjo especial para regê-la, de maneira que se tudo anda tão certo é porque os espíritos celestes estão conduzindo aquilo a funcionar direito. Os Anjos têm meios para isto porque são puros espíritos e recebem de Deus diretamente as ordens de como fazer. Então tudo sai perfeito.
Recentemente, Júpiter foi perfurado por um outro corpo celeste. Isso sucedeu por ordem de Deus, pois tudo se dá porque o Criador quer e na medida em que Ele quer. É possível que de futuro aquilo tenha uma explicação, foi um aviso misericordioso para os homens: “Prestem atenção, aí vem o castigo, qualquer hora pode acontecer isto com a Terra!”
Nossos Anjos da Guarda, que não nos perdem de vista de dia nem de noite, pois quando dormimos eles velam por nós, veem que estamos lendo a notícia sobre Júpiter e obtêm a graça de Deus de poderem sussurrar à alma de cada um de nós – sem que percebamos que estão sussurrando, temos a impressão que é pensamento nosso – o seguinte: “Pense nisto porque, de repente, se houver um castigo, a ponta de um outro planeta poderá tocar na Terra e atingirá você; tenha medo, arrependa-se!” É o Anjo da Guarda que fala para a alma com carinho, bondade e, se diz com força, faz como o bom pai quando, às vezes, chicoteia o seu filho.
Afirma a Sagrada Escritura: “O pai que poupa a vara ao seu filho odeia seu filho” (cf. Pr 13, 24). Poupar aqui quer dizer não chicotear quando é necessário. É a palavra de Deus, ditada pelo Espírito Santo.
Sob a tutela de fiéis custódios
O Anjo da Guarda está continuamente debruçado sobre a pessoa. E quando um de nós, por exemplo, precisar andar sozinho pelas ruas das cidades contemporâneas, tão cheias de poluição e imorais, peça ao Anjo da Guarda na hora de sair de casa:
“Meu Santo Anjo, acompanhai-me, protegei-me, falai à minha alma, livrai-me dos maus olhares, evitai os inimigos que possivelmente querem me liquidar, os desastres que podem me massacrar, trazei-me todo o bem, fazei acontecer isto, aquilo e aquilo outro”.
E quando estiver caminhando, lembre-se de uma coisa reconfortante: o Anjo da Guarda nunca abandona o seu protegido. De maneira que, à medida que avança ouvindo os próprios passos ressoarem sobre o cimento da rua, pode pensar: “Meu Anjo da Guarda está me vendo”. E se alguém está tentado, diga: “Meu Santo Anjo, protegei-me, afastai esse demônio de mim!”
Sem dúvida, todos nós quereríamos muito conhecer nossos Anjos da Guarda. Sabemos que existem, a Teologia nos dá informações sobre eles, mas não os vemos. Entretanto, eles nos veem. Ao mesmo tempo em que estão velando por nós, contemplam a Deus face a face e conversam uns com os outros sobre o que eles veem na Terra, o andamento da Revolução e da Contra-Revolução e os desígnios divinos. E como Deus não lhes conta muita coisa que vai fazer, eles examinam o que o Criador realiza para ver se deduzem pela inteligência o que Ele fará, e conversam uns com os outros sobre isso mas, à maneira de um cântico, porque são superiores a nós em toda linha.
O que vou dizer agora apresento como uma impressão exclusivamente pessoal, de maneira que se a Igreja disser que não é assim, rejeito imediatamente, porque Ela é infalível, eu sou falível.
Tenho a impressão de que, desde toda a eternidade, cada um de nós foi escolhido para ser beneficiado com a tutela, a proteção de um Anjo. E cada Anjo Custódio tem uma certa parecença com seu custodiado. Se nós o conhecêssemos ficaríamos pasmos de ver como ele “sente” como nós, quer aquilo que os nossos lados bons desejam, gosta do que gostamos, a ponto de nos sentirmos um parente próximo de um Príncipe celeste tão magnífico como aquele.
Anjos da Excelsa Rainha
Nossa Senhora, segundo muitos místicos, foi acompanhada na Terra por milhares de Anjos que A protegiam e A defendiam. Entre as meras criaturas, não há nenhuma que tenha, debaixo de nenhum ponto de vista, nenhuma medida, proporção com Nossa Senhora.
A Virgem Maria é de uma perfeição, santidade, até de uma formosura incomparável, que ninguém é capaz de conceber. E se tal é a excelcitude de Nossa Senhora, como imaginar a estatura dos Anjos que A custodiaram e que A circundam agora no Céu? É algo a perder de vista!
Pois bem, Ela é a Rainha dos Anjos; Ela tem pena de nós, olha-nos como para filhos doentes, de uma doença chamada pecado original, e reza por nós e nos obtém o que não poderíamos conseguir por nós mesmos. Daí o fato de dizermos na Salve Rainha: “Vida, doçura, esperança nossa, salve!”
Assim, sugiro que, quando tiverem dificuldades, tentações, façam uma jaculatória rápida: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina”. E voltem o olhar para Aquela que é nossa e dos Anjos Rainha.
Eis a gota de orvalho que eu tinha a oferecer.v
(Extraído de conferência de 30/7/1994)