Vítima expiatória

Santa Teresinha era singularmente bela, de traços regulares, olhar luminoso e vasto, porte firme e semblante resoluto; sua fisionomia deixa transparecer qualidades que parecem opostas – ao menos segundo a mentalidade revolucionária –, como a bondade e a firmeza, a distinção e a simplicidade, o perfeito e absoluto domínio de si e a mais atraente naturalidade.

Santa Teresinha do Menino Jesus é, a bem dizer, uma Santa de nossos dias. Celebraremos daqui a pouco o cinquentenário de sua morte, e muitas das pessoas que ainda temos a ventura de possuir entre nós são absolutamente contemporâneas da jovem carmelita que expirou aos vinte e quatro anos.

Procuraram ocultar o sentido profundo, admirável, heroico de sua existência

Felizmente, a fotografia já estava inventada em dias dela, pelo que conservamos o retrato autêntico da grande Santinha: singularmente bela, de traços regulares, olhar luminoso e vasto, porte firme e semblante resoluto, sua fisionomia deixa transparecer qualidades que parecem opostas entre si – ao menos segundo a mentalidade liberal –, como a bondade e a firmeza, a distinção e a simplicidade, o perfeito e absoluto domínio de si e a mais atraente naturalidade.
Se não possuíssemos fotografias da “Santa rosa do Carmelo”, que ideia teríamos dela? A que nos apresentam muitas de suas imagens: doce, de uma doçura sentimental e quase romântica; boa, de uma bondade puramente humana e sem o menor sopro de sobrenatural; enfim, uma jovem de boas inclinações, embora exageradamente sensível, nunca uma autêntica e genuína Santa, um luzeiro cintilante no firmamento espiritual da Igreja do Deus Verdadeiro. Certa iconografia, sem alterar os traços da Santa, alterou, contudo, sua fisionomia.

Certa literatura sentimental-religiosa, sem adulterar propriamente os dados biográficos de Santa Teresinha, encontrou meios de interpretar tão unilateral e superficialmente determinados episódios de sua vida, que chegou a desfigurar de algum modo seu significado. As deformações iconográficas e biográficas se fizeram todas em uma mesma direção: ocultar o sentido profundo, admirável, heroico da existência da imortal Santinha.
No cinquentenário de sua morte alguém que muito e muito lhe deve procurará saldar com respeitoso amor parte desta dívida, fazendo um comentário doutrinário à sua vida.

O tesouro da Igreja

O pecado original cometido por Adão e os pecados posteriormente praticados pela humanidade constituem ofensas a Deus. Para resgatar essas ofensas e aplacar a ira divina era preciso que a humanidade expiasse. Esta expiação era como que o pagamento de um preço que compensasse a falta cometida. Há nisto, de certo modo, uma restituição. Pelo pecado, o homem como que se apropriou indebitamente de prazeres, vantagens, deleites a que não tinha direito. Para reparar a justiça, era preciso que ele abandonasse, imolasse, sacrificasse tudo isto. O sacrifício reparador toma, assim, o aspecto de um preço de resgate pelo qual se repara a falta cometida. Para resgatar esses pecados, a Santa Igreja dispõe de um tesouro. Vejamos de que natureza ele é.
Evidentemente, não se trata de um tesouro de riquezas materiais. É moral e espiritual, como exige a natureza moral das faltas que se trata de resgatar. Ele se compõe, antes de tudo e essencialmente, dos méritos infinitamente preciosos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que no momento da Santa Morte do Salvador foram aceitos por Deus e produziram a Redenção da humanidade. Os sofrimentos, as virtudes, as expiações dos homens pecadores seriam totalmente incapazes de aplacar a cólera divina. O Santo Sacrifício do Homem-Deus bastaria plenamente para tal. Mais ainda: uma simples gota do precioso Sangue bastaria para redimir a humanidade inteira.
Contudo, por desígnios insondáveis da Providência Divina, de fato a Redenção não se operou no momento em que se verteu o primeiro Sangue do Redentor, mas só quando ele expirou por nós na Cruz, depois de um dilúvio de tormentos. Por uma disposição igualmente misteriosa, Deus não Se contenta com o sacrifício superabundantemente suficiente do Redentor. A humanidade está redimida, e em si mesma a obra da Redenção está concluída, mas para salvar os pecadores, para expiar seus pecados atuais, para que as almas transviadas aproveitem o Sacrifício do Homem-Deus é necessário que também nós alcancemos méritos.

Papel da graça divina

O tesouro da Igreja se compõe, pois, de duas parcelas. Uma, infinitamente preciosa, superabundantemente suficiente e eficaz: é a dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outra pequeníssima, insignificante: é a dos méritos dos homens, adquiridos ao longo da vida multissecular da Igreja. A parte pequena só vale em união com a parte infinita. Mas – mistério de Deus –, apesar de perfeitamente dispensável em si mesma, esta parte é indispensável porque Deus o quis: “Quem te criou sem ti, não te salvará sem ti”, diz Santo Agostinho. Deus nos criou sem nossa cooperação, mas para nos salvar Ele quer nossa cooperação. Cooperação de apostolado, sim, mas também na prece e no sacrifício. Sem os méritos dos homens, o tesouro da Igreja não estará completo e a humanidade não aproveitará inteiramente os frutos da Salvação.

Visto o assunto de outro ângulo, devemos lembrar o papel da graça para a salvação. Nenhum homem é capaz do menor ato de virtude cristã sem que seja chamado a isto pela graça de Deus, e por ela ajudado. Em outros termos, a primeira ideia, o primeiro impulso, toda a realização do ato de virtude sobrenatural se faz com o auxílio da graça. Isto de tal maneira que ninguém poderia praticar o menor ato de virtude cristã – nem sequer pronunciar com piedade os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria – sem o auxílio sobrenatural da graça. Tudo isto é verdade de Fé, e quem o negasse seria herege. Nossa vontade coopera com a graça, e sem o concurso dela não há virtude possível, mas por si só, sem a graça, ela é absolutamente incapaz de praticar a virtude sobrenatural.

Ora, como sem virtude ninguém agrada a Deus nem se salva, sendo a graça necessária para a virtude, é fácil perceber que ela é necessária para a salvação.

Todos os homens recebem graças suficientes para se salvar. Também esta é uma verdade de Fé. Porém, de fato, pela maldade humana, que é imensa, muito poucos seriam os homens que se salvariam só com a graça suficiente. É preciso que a graça seja abundante para vencer a maldade do abuso do livre-arbítrio humano. A abundância dessa graça, como obtê-la de Deus, justamente irado pelos pecados dos homens? Evidentemente com o tesouro da Igreja.
Entretanto, como vimos, esse tesouro se compõe de duas parcelas, uma das quais perfeita e imutável, a de Deus, e outra mutável e imperfeita, a dos homens. Quanto mais a parte humana do tesouro da Igreja for deficiente, tanto menos abundantes serão as graças. Quanto menos abundantes forem as graças, tanto menos numerosas serão as almas que se salvam. De onde decorre que um elemento capital para que as almas se salvem é que o tesouro da Igreja esteja sempre cheio de méritos produzidos pelos homens. Os grandes pecadores são filhos doentes para cuja cura se prodigalizam os tesouros da Igreja. Os grandes Santos são os filhos sadios e operosos, que repõem a todo momento, nesse tesouro, riquezas novas que substituam as que se empregam com os pecadores.
Tudo isto nos permite estabelecer uma correlação: para grandes pecadores, grandes gastos no tesouro da Igreja. Ou estes grandes gastos são supridos por novos lances de generosidade de Deus e das almas santas, ou as graças se vão tornando menos abundantes, e o número de pecadores aumenta.

Jamais fazer a vontade própria
Daí se deduz que nada mais necessário para a dilatação da Igreja do que enriquecer, sempre e sempre, seu tesouro sobrenatural com novos méritos.
Evidentemente, podem-se adquirir méritos praticando a virtude por toda parte. Mas há no jardim da Igreja almas que Deus destina especialmente a este fim. São as que Ele chama à vida contemplativa, em conventos reclusos, onde certas almas de escol se dedicam especialmente em amar a Deus e a expiar pelos homens. Estas almas corajosamente pedem a Deus que lhes mande todas as provações que quiser, desde que com isso se salvem numerosos pecadores. Deus as flagela sem cessar, de um modo ou de outro, colhendo delas a flor da piedade e do sofrimento, para com estes méritos salvar novas almas. Consagrar-se à vocação de vítima expiatória pelos pecadores: nada há de mais admirável. E isto tanto mais quanto muitos há que trabalham, muitos que rezam; mas quem tem a coragem de expiar?

Este é o sentido mais profundo da vocação dos trapistas, das franciscanas, dominicanas e carmelitas entre as quais floriu a suave e heroica Teresinha.

Seu método foi especial. Praticando a conformidade plena­ com a vontade de Deus, ela não pediu sofrimentos, nem os recusou. Deus fizesse dela o que entendesse. Jamais pediu a Deus ou a suas superioras que dela afastassem qualquer dor, qualquer mortificação. Submissão plena era o seu caminho. E, em matéria de vida espiritual, plena submissão equivale à plena santificação.
Seu método se caracteriza ainda por outra nota importante. Santa Teresinha não praticou grandes mortificações físicas. Ela se limitou simplesment

e às prescrições de sua Regra. Mas esmerou-se em outro tipo de mortificação: fazer a toda hora, a todo instante, mil pequenos sacrifícios. Jamais a vontade própria. J

amais o cômodo, o deleitável. Sempre o contrário do que os sentidos pediam. E cada um destes pequenos sacrifícios era uma pequena moeda no tesouro da Igreja. Moeda pequena, sim, mas de ouro de lei: o valor de cada pequeno ato consistia no amor de Deus com que era feito.

E que amor meritório! Santa Teresinha não tinha visões, nem mesmo os movimentos sensíveis e naturais que tornam, por vezes, tão amena a piedade. Aridez interior absoluta, amor árido, mas admiravelmente ardente, da vontade dirigida pela Fé, aderindo firme e heroicamente a Deus, na atonia involuntária e irremediável da sensibilidade. Amor árido e eficaz é sinônimo, em vida de piedade, de amor perfeito.
Grande caminho, caminho simples. Não é simples fazer pequenos sacrifícios? Não é mais simples não ter visões, do que as ter? Não é mais simples aceitar os sacrifícios em lugar de os pedir?
Caminho simples, caminho para todos. A missão de Santa Teresinha foi de nos mostrar uma via em que pudéssemos todos trilhar. Oxalá ela nos auxilie a percorrer esta estrada real que levará aos altares não apenas uma ou outra alma, mas legiões inteiras.

(Extraído de O Legionário
n. 790, 28/9/1947)

Cantou com Nossa Senhora e os Anjos

No convento do qual São Félix de Valois era Superior, certa madrugada um irmão esqueceu de soar Matinas. O varão de Deus foi, então, ao coro para fazer os arranjos necessários e viu Nossa Senhora sentada num trono magnífico, e os Anjos nas estalas. Todos trajavam o hábito de sua Ordem e começaram a cantar. Com serenidade, ele mesclou o seu canto com aquelas vozes celestes.

São Félix de Valois, da família real francesa, fundou com São João da Matha a Ordem dos Trinitários para resgate dos cativos. O modo em que viviam e eram tratados os cativos nos explica bem porque uma Ordem religiosa foi fundada especialmente para essa finalidade.

Libertar os cativos visava resgatar principalmente os irmãos na Fé

Um reino maometano não era, propriamente, um Estado organizado como nós o concebemos. Quem vê aqueles palácios, como Alhambra por exemplo, pensa que moravam ali reis com um mínimo de decência da praxe inerente a todo Estado organizado, com uma sucessão dinástica regular.

Ora, na realidade, tratava-se de uma espécie de Estado-bandido vivendo, como os bárbaros, numa luta habitual de saques e pilhagens contra quem não fosse eles, e muitas vezes contra eles mesmos também.
De maneira que cada um daqueles reinos, como o de Granada, não possuía uma verdadeira elite e constituía, até certo ponto, uma espécie de antro de bandidos que viviam de pirataria no mar e em terra, roubando como uma fonte habitual de renda e apoderando-se de cativos como um modo costumeiro de conquistar mão de obra e de incutir terror no adversário.
Notem o paralelismo: do lado católico o prisioneiro de guerra era muito melhor tratado do que do lado muçulmano. Assim, quando estavam em guerra, os católicos lutavam em inferioridade de condições, porque os mouros tinham menos medo de ser presos do que os cristãos, os quais, se fossem capturados, seriam pessimamente tratados ao chegarem à zona maometana. Por vezes, prisioneiros importantes eram desfigurados, horrorosamente maltratados, mortos e, com muita frequência, corrompidos moralmente. Era, portanto, uma situação miserável também do ponto de vista moral.
Então, a ideia de libertar os cativos visava resgatar os irmãos na raça, mas principalmente os irmãos na Fé. Era muito mais para salvar dos perigos da alma do que dos tremendos riscos do corpo. Pairava em toda a população uma preocupação: a perdição eterna daqueles que tinham sido aprisionados pelos maometanos.

 

Miséria do mundo atual: pactuar com os regimes perseguidores dos católicos

Muitas vezes, libertar os cativos era uma das razões das expedições católicas contra os muçulmanos. Os cristãos que delas participavam punham em risco suas vidas, sua liberdade e, de algum modo, sua própria salvação eterna, porque também eles podiam ser presos ao tentarem resgatar seus irmãos na Fé.
Havia alguns que não partiam em expedição, mas pediam esmolas para pagar o resgate dos cativos. Enfim, trabalhava-se constantemente com essa intenção de libertar os cristãos capturados pelos mouros.
A ideia de que uma parte da Cristandade estava sujeita ao regime pagão, a todos os sofrimentos e perigos do cativeiro entre os pagãos, gerava nos católicos uma imensa compaixão, um enorme zelo pela salvação daquelas almas, um grande senso de honra cristã.
Como sempre aconteceu na História da Igreja, quando há uma grande necessidade da Esposa Mística de Cristo a Providência suscita uma Ordem religiosa para socorrê-la, a qual é, ao mesmo tempo, uma família de almas e um instrumento de ação novo.
São Félix de Valois surgiu, portanto, como um dos Santos que encarnaram esse ideal, que sentia o problema com toda a energia das graças sobrenaturais que ele recebeu para isso e, por assim dizer, polarizou essa preocupação disseminada por todo o corpo social, chamando a si o encargo da fundação dessa Ordem.
A Ordem da Santíssima Trindade tornou-se famosa e realizou um trabalho prodigioso, atuando até o fim do século XVIII. As nações árabes do Norte da África perderam qualquer possibilidade de fazer novos cativos, e essa Ordem religiosa encheu-se de glória.
Chamo a atenção para o contraste entre a atitude dos católicos do tempo de São Félix de Valois em face dos cativos, e a indiferença reinante em nossos dias diante dos milhares de católicos que sofrem perseguição – muitas vezes tão brutal como outrora – por quererem permanecer fiéis à sua Fé.
Quase ninguém se incomoda com isso. Não se tem zelo nem vontade de combater. Pior ainda, há uma espécie de apetência de ceder, de pactuar com os regimes que promovem essa perseguição. Compreendemos, então, a miséria que se apoderou da Cristandade.

Ressuscitou um jovem príncipe

A respeito de São Félix de Valois, temos os seguintes dados biográficos extraídos do livro Vida dos Santos, do Abbé Daras:
São Félix de Valois foi grande por seu nascimento e maior ainda por suas virtudes. Seu pai era Conde de Vermandois e de Valois, filho do Duque de França e neto de Henrique I, Rei de França. Sua mãe era filha de Thibaud III, chamado o Grande, Conde de Blois e de Champagne.
Quando de sua gestação, sua mãe fez uma novena a São Hugo, Bispo de Rouen. No último dia da novena, estando de joelhos diante do altar do santo prelado, ela adormeceu e viu em sonho a Bem-aventurada Virgem Maria segurando seu Divino Filho em seus braços. Ao seu lado estava uma outra criança, bela e graciosa. Nosso Senhor levava uma cruz nos ombros, e a outra criança segurava uma coroa de flores nas mãos. Então fizeram uma troca: Nosso Senhor deu sua cruz à criança, que Lhe entregou a coroa.
A princesa procurava entender o sentido da visão quando São Hugo apareceu e lhe disse: “Esta criança que tu não conhecias é teu filho, que trocará as flores-de-lis de França pela cruz de Jesus Cristo, e ele a dividirá contigo para que ambos se assemelhem a Jesus Crucificado.”
Com efeito, o menino dividiu a cruz em duas partes, dando uma a sua mãe e guardando outra consigo.
Após a morte de sua mãe, São Félix foi chamado à corte onde tomou a cruz para acompanhar o rei numa Cruzada. Um dia em que se exercitava num torneio com o príncipe, este caiu do cavalo vindo a falecer. O Santo correu ao local, tomou a mão do cadáver e lhe disse: “Em nome da Trindade Santa, levanta-te!” No mesmo instante, o jovem levantou-se curado.

União da coragem militar à modéstia do religioso

ostras do seu valor e virtude. Mantinha, no meio do campo de luta, a vida austera de Claraval, unindo ao ardor e coragem militar a modéstia e discrição do religioso. Distinguiu-se em todas as batalhas das quais tomou parte e, quando voltou a Paris, quis se dar a Deus.
Embora fosse um dos mais próximos herdeiros do rei, trocou realmente a flor-de-lis pela cruz e fez-se religioso.
Após a fundação da Ordem dos Trinitários para a redenção dos cativos, São Félix foi encarregado da direção de um convento. Instruídos por sua palavra e seus exemplos, os religiosos levavam vida exemplar, de tal forma que a Santíssima Virgem e os Anjos dignaram-se honrar com sua presença esse mosteiro.
Em certa véspera da natividade de Nossa Senhora, tendo o sacristão esquecido de soar as Matinas, São Félix desceu ao coro para preparar o que era necessário. Mas ele já o encontrou ocupado pelos Anjos, vestidos com o hábito de sua Ordem. A Santíssima Virgem, também de hábito, sentada sobre um trono, presidia essa assembleia. Parecia que esperavam o Santo para começar as Matinas, porque logo que este entrou a Santíssima Virgem entoou a antífona, a qual foi continuada pelos Anjos com uma harmonia incomparável. E São Félix cantou com os Anjos. Quando a visão desapareceu, ficou em sua face extraordinário esplendor.

A Santíssima Virgem entoou a antífona

Que cena maravilhosa! Um convento com tanto fervor, onde se dá tal glória a Deus que, num dia, por um desígnio divino, um irmão esquece de soar Matinas e a Providência faz isso para operar uma maravilha maior!
Os Anjos vestidos de religiosos enchem as estalas do coro, Nossa Senhora, sentada num trono magnífico, entoa a antífona e todos os espíritos celestes cantam! São Félix de Valois chega ali e, em vez de se espantar e perder a cabeça, mistura o seu canto com o dos Anjos e da Santíssima Virgem!
Esse foi um ponto-ápice da vida desse príncipe, toda ela constante de uma série de fatos tão bonitos que davam para se fazer com eles um verdadeiro colar constituído de placas de esmalte, em que cada uma reproduzisse um desses episódios. Teríamos, assim, um dos mais belos colares da História, de tal maneira essa vida é maravilhosa.
Deparamo-nos, nesta narração, com o mistério da predestinação. Antes de o príncipe nascer, a Providência tinha resolvido fazer dele uma verdadeira maravilha. Donde aquele sonho admirável que sua mãe teve, no qual aparece o príncipe, o Menino Jesus e Nossa Senhora, e as relações que haveria entre o Divino Infante e São Félix são explicadas para a mãe.
Mais tarde vemo-lo como lutador, como grande guerreiro, e depois como religioso que renuncia a todas as coisas da Terra para se ocupar só com a Ordem religiosa. Afinal de contas, essa espécie de glorificação na Terra, que é a entrada de Maria Santíssima e dos Anjos no seu convento para junto com ele glorificarem a Deus.

 

O Reino de Maria será mil vezes mais esplendoroso

 

ria fazer uma iluminura ou um esmalte maravilhoso, constituindo-se uma biografia das mais bonitas que se possa conceber.
Em última análise, essa biografia significa o seguinte: a Idade Média dando muita glória a Nossa Senhora que, contente com essa era histórica, multiplica os prodígios para manifestar o quanto Ela estava satisfeita. Este é um desses gêneros de prodígios em série, feitos para exprimir a alegria de Maria Santíssima.
Devemos nos deter embevecidos na contemplação desses fatos, porque assim compreendemos o que é a misericórdia de Deus e de quantos esplendores a Civilização Cristã é capaz. Se esses episódios se passaram na Idade Média, que maravilhas veremos no Reino de Maria, o qual vai ser ainda superior àquela era histórica?
Assim, compreendemos que todo suor, sangue e lágrimas que vertemos atualmente para instaurar o Reino de Maria na Terra, estão muito bem recompensados. Quando contemplarmos essa época histórica vindoura e descobrirmos coisas ainda mais bonitas que as de outrora, e pensarmos que a Providência quis servir-Se de nós a fim de fazer cessar estes horrores contemporâneos para vir a era dessas maravilhas, então poderemos dizer, parafraseando Jó: “Bendito o dia que me viu nascer, benditas as estrelas que me viram pequenino, bendito o momento em que minha mãe disse: nasceu um homem!”
Realmente, cada um de nós poderá dizer isso, pois teremos, pela força de Nossa Senhora, derrubado toda a cidade da iniquidade e feito nascer o Reino de Maria, mil vezes mais esplendoroso do que esses esplendores que acabamos de considerar.v

(Extraído de conferências de 20/11/1964 e 19/11/1965)

 

Mártir da liberdade da Igreja

Admirável Lição de confiança

Estamos vivendo uma terrível hora de castigos, mas também uma admirável hora de misericórdia. A condição para isto é olharmos para Maria, a Estrela do Mar, que nos guia em meio às tempestades.

Durante mais de cem anos, movida de compaixão para com a humanidade pecadora, a Santíssima Virgem, em Lourdes, tem nos alcançado os mais estupendos milagres. Esta piedade se terá extinguido? Têm fim as misericórdias de uma Mãe, e da melhor das mães? Quem ousaria afirmá-lo? Se alguém duvidasse, Lourdes lhe serviria de admirável lição de confiança. Nossa Senhora há de nos socorrer.

Revista Dr. Plinio 275 (Extraído de Catolicismo n. 86, fevereiro de 1958)

O verdadeiro título de glória

Além de ser pobre, escrofulosa, magérrima, com a mão direita deformada, Santa Germana Cousin era desprezada pelo pai e perseguida pela madrasta. Apesar disso, ela enfrentou todas as dificuldades com extrema dignidade porque estava segura de ter um valor: ser filha da Igreja Católica Apostólica Romana. O título “católico” é o que realmente tem importância; todos os outros são secundários

 

No dia 15 de junho a Igreja celebra a memória de Santa Germana Cousin. A síntese biográfica dela que vamos comentar é tirada de Louis Veuillot1.

Sua casa era um lugar de martírio e não de repouso

Germana Cousin nasceu em 1579, em Vibrac, Toulouse, na época em que a França era assolada pelas guerras de religião.

Uma época, portanto, de muita pobreza porque as guerras de religião impediam, naturalmente, o desenvolvimento da agricultura, e a escassez de víveres era muito grande.

Era filha de Leôncio Cousin, pobre lavrador, e desde criança, quando perdeu sua mãe, sua vida foi um sofrimento constante. Magra, desnutrida, escrofulosa, tinha, além disso, a mão direita deformada. Sua aparência levou-a a ser rejeitada pelo pai, que nunca lhe manifestou o menor carinho e nunca impediu a cruel perseguição que sua segunda esposa movia à enteada. A casa paterna de Germana, portanto, para ela era um lugar de martírio e não de repouso. Sua madrasta repreendia-a constantemente, obrigando-a a dormir num estábulo sobre duras enxergas. Proibiu-a também de aproximar-se de seus oito irmãos.

Germana, sem se incomodar, amava as crianças com carinho especial, servindo-as sempre que podia. Deus inspirou-lhe o amor ao sofrimento e por isso aceitava com alegria essas humilhações, acrescentando-lhe outras austeridades. Em toda a sua vida só se alimentou de pão e água.

Aqui está um conjunto de dados que incutem muito respeito e admiração. Há determinadas figuras que nasceram para nos dar o exemplo da segurança sobrenatural em si mesma e não da segurança natural. Porque elas são, por desígnios da Providência, de tal maneira marcadas pela deformidade, por toda espécie de títulos que as colocam abaixo de todo mundo na ordem humana de valores, que bastariam para essas pessoas abrirem um buraco no chão e sumirem.

Assim vemos uma pobre coitada, órfã de mãe, escrofulosa, magérrima, com a mão direita deformada, uma coisa que de si desfigura qualquer pessoa, mas que ainda prejudica mais quando ela é pobre e tem que trabalhar com suas próprias mãos, torna-se mais ou menos inútil.

Extrema dignidade, sem nenhuma revolta

Essa pessoa mora, então, na casa de seu pai. E, sinal supremo do desprezo que todo mundo tem a ela, o seu próprio progenitor como que não a reconhece por filha, não lhe dispensa carinhos como a uma filha e a entrega à sanha e ao desprezo dessa megera. Ela vivia como uma criada na casa do pai, dormindo numa dependência sobre dura enxerga e fazendo o papel de pastora.

Ela podia, portanto, levada pela vergonha, pelo acanhamento, procurar fugir ou tornar-se uma revoltada. Não, ela se porta com extrema dignidade, aceita a situação em que está, não se revolta, procura agradar as crianças, filhos daqueles que a perseguem, e leva sua vida com simplicidade, segura de que ela tem um valor.

É criatura humana batizada e, portanto, filha de Deus. E sendo filha de Deus não precisa mais nada para conduzir a paz bem alto diante de todos os outros. Ei-la, portanto, com modéstia e naturalidade diante desse dilúvio de manifestações de pouco caso, conduzindo tudo com espírito sobrenatural e superior à sua vida.

Isso eu considero um lindo exemplo para nós compreendermos bem que não precisamos de títulos humanos para estar nos impondo ao respeito dos outros. Ainda quando nos desprezam, nós temos estes títulos: somos filhos de Deus, da Santa Igreja Católica e, a título especial, filhos de Nossa Senhora.

Deus, em sua grandeza infinita, sente-Se agradado com nosso louvor. Ele deseja nosso amor, aceita-o e corresponde a ele. Isso basta. Todo o resto não é nada, não tem importância. O título de filho de Deus basta para tudo.

Ufania de ser católico

Conta-se o caso de uma filha de Luís XV que, se sentindo mal atendida por uma criada, disse-lhe com energia:

— Você se esquece de que eu sou filha do Rei?

A criada, a qual achava que a Princesa não estava com a razão, afirmou:

— Vossa Alteza se esquece de que eu sou filha de Deus?

É uma linda lição! Uma resposta que indica bem a segurança e a altaneria da pessoa a quem basta a sua posição de católica. Eu sou católico, achem dessa posição o que quiserem, riam como entenderem, admirem como desejarem, nada se acrescenta nem se tira à enorme segurança que tenho, à alegria fundamental que sinto, à ufania que experimento em ser filho da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.

Não preciso mais nada. Isso me dá o título para eu me apresentar aos olhos de qualquer um com sobranceria. Não é necessário ser rico, inteligente, agradável, nem nobre ou qualquer outra coisa. Para eu ter a sensação da minha dignidade basta ser filho da Igreja Católica Apostólica Romana.

É claro que se, além disso, eu tiver outros títulos melhor será. Mas não colocarei nenhum título ao lado deste. É melhor ser lixeiro católico do que rei protestante, ser mendigo escrofuloso, com a mão direita ou todo o corpo deformado, mas católico, do que o homem mais rico do mundo, o qual não pertence à Religião Católica. Quer dizer, o nosso grande título, a grande razão de nossa ufania é sermos filhos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Vemos aqui a segurança, a paz, a tranquilidade feita de Fé de Santa Germana, diante de uma situação que dava para ela se acabrunhar.

Eu creio que outra Santa que nos deu um grande exemplo disso foi Santa Joana de Valois. Também desprezada pelo pai, por todo mundo, e por fim repudiada pelo marido. Mas ela conduziu a vida com dignidade e serenidade. Fundou uma Ordem religiosa, governou muito bem o feudo que obteve depois de sua separação, morreu e recebeu a honra dos altares. Apesar de tudo quanto pudessem dizer dela, sendo católica bastava. Para a sua segurança, seu cartão de visita estava pronto: católica apostólica romana.

É um título lindíssimo e essa ufania de ser católico é a raiz daquilo que Camões chamava “cristãos atrevimentos”. Quando tem essa ufania de ser católico, a pessoa se atreve, se lança, avança. Por quê? Não porque é mais na ordem humana das coisas; até talvez seja menos do que alguns. Mas o que tem importância é ser católico, ter recebido o sinal do Batismo na fronte. O resto é acessório, secundário.

Agora, veremos os esplendores que a Divina Providência fazia para recompensar essa serva, a qual tanto se ufanava da sua dignidade de filha de Deus.

Enquanto ela vai rezar, os Anjos cuidam do rebanho

Germana era pastora.

Pastor é um ofício poético, mas na Europa considerado como uma ocupação muito humilde. É propriamente tomar conta de bicho, não tem nada de técnico, veterinário. É apenas uma espécie de guarda de burros, vacas, carneiros, cabras. Embora perseguida pelos familiares, ela zelava com verdadeiro desvelo pelos seus carneiros.

Conta-se que para ir à igreja deixava-os aos cuidados da Providência. Nunca nenhum animal extraviou-se ou ultrapassou os limites que ela estabelecia, marcando o chão com seu cajado; também nunca foram atacados por lobos.

Vejam que cena linda: a pastora feia, trôpega e deformada, mas que tem contato direto com o Céu; Deus, Nossa Senhora e seu Anjo da Guarda falam com ela. Em certas ocasiões ela tem vontade de rezar e, por uma inspiração interior – porque sem uma inspiração isso não se compreende –, vai com o cajado e traça os limites exatos. E depois com certeza avisa: “Olhem, vocês não saiam daqui.” Quando ela volta, estão todos lá. Mas há também uma proibição para os lobos entrarem, e de fato nenhum lobo entra. Os Anjos ficam zelando pelo rebanho, enquanto ela vai rezar e agradar a Deus Nosso Senhor.

A desprezada, a pisada, a humilhada vai à igreja e Deus opera um milagre. É hábito do Criador realizar milagres.  Entretanto Ele, na sua felicidade celeste inacessível, alegrar-Se com a companhia dessa pastora humilhada e desprezada por todo mundo causa-nos admiração.

Notem quanto vale uma pessoa desprezada por um título injusto, mas que sabe carregar bem o seu desprezo.

Vivia na pobreza, mas ajudava os pobres

No campo, Germana estava sempre em união com Deus. O terço era sua oração constante, assim como a saudação angélica. Grande era sua devoção à Santíssima Virgem, à qual pedia coragem para levar avante sua vida tão difícil.

Realmente é muito árduo levar avante uma vida assim. Porque é muito bonito pensar: “Ah, que beleza os carneirinhos, estou rezando as Ave-Marias, depois eu vou para o meu pobre catre.” Mas na hora de deitar no catre, sentir o frio, comer alimento ruim, aguentar a cara da megera quando, mentindo, contar para o pai que Germana tinha perdido uma ovelha, e o progenitor dar-lhe uma punição injusta, receber bem tudo isso e ainda agradar os filhinhos da megera, isso é muito poético, mas absolutamente não é fácil. É preciso ter força e ela sabia onde procurá-la: na oração, aos pés de Nossa Senhora. Porque exatamente na oração está a fonte de toda força.

Ensinava o Catecismo às crianças da vizinhança e era a protetora dos pobres, para quem levava os restos de sua casa.

Na realidade, aqueles que mais entendem de fazer esmola, em geral, são os pobres. As pessoas muito ricas dificilmente são esmoleres. As de fortuna média ou os pobres dão esmola.

Eu conheço o caso curioso de uma senhora riquíssima. Ela possuía uma casa que ocupava um quarteirão inteiro num bairro importante de São Paulo, e na qual ela morava. Essa senhora mantinha boas relações com o ramo pobre de sua família.

Entretanto, dois genros péssimos arruinaram a fortuna dela, fazendo-a cair numa pobreza igual ou maior que a dos seus parentes pobres. Então ela teve este comentário interessante: “Engraçado, não pensei que me tornando pobre fosse mudar tanto. Se eu soubesse que vocês estão passando as privações que hoje passo, quando tinha dinheiro teria ajudado vocês.” Isso diz muita coisa…

Santa Germana era pobre, mas encontrava jeito de ajudar os pobres. Então levava víveres, restos da casa para socorrer os mais necessitados.

Os pães se transformaram em flores

Com essa pobre pastora reproduziu-se um dia o mesmo milagre de Santa Isabel de Portugal. Sua madrasta perseguiu-a, julgando que houvesse furtado alimentos da despensa.

Podem imaginar que vida! Uma pessoa honestíssima e a megera:

— Você roubou a rosca?

— Não, não roubei.

— Roubou! Onde é que está?

Ao abrir seu avental, ao invés de pão, como previa, só encontrou flores raras, nunca vistas e de inigualável perfume.

Aqui se faz referência ao famoso milagre de Santa Isabel. Ela não podia contar ao marido que estava ajudando os pobres. Um dia ele aproximou-se e perguntou: “O que você leva aí?” Ela disse que eram flores. Abriu o avental e os pães estavam transformados em rosas.

Aqui se deu a mesma coisa para proteger Santa Germana contra a cólera da megera. É um fato de uma grandeza! Ela fica alta como uma estrela, toca com a mão nos astros, e a megera do tamanho de uma formiguinha enfezada e feia.

Humilde, modesta e combativa

Uma manhã Santa Germana não saiu, como de costume, para guardar seu rebanho. O pai foi encontrá-la morta sobre seu pobre leito. Era o ano de 1601, quando ela completava 22 anos.

Agora vem a glorificação.

O povo acorreu em massa ao seu enterro, pois histórias sem conta corriam a seu respeito.

Dentro de casa, relegada a dormir num catre, sob a cólera da megera e o desprezo do pai. Gloriosa em toda a região e pisada entre os seus.

Quarenta e quatro anos após sua morte seu corpo foi encontrado intacto, sendo reconhecida sua autenticidade pela mão deformada.

Isso é muito bonito. Encontrar o corpo intacto é um dos elementos que favorecem o processo de canonização. Portanto, o caminho para a glória dos altares foi aberto para ela através da mão deformada, símbolo de sua aceitação da vontade divina. É uma lição muito bonita que está expressa nesse fato.

Canonizada em 1867, no ano de 1901 iniciou-se em Pibrac a construção de uma grande basílica em sua honra.

Que Santa Germana nos dê a graça de ter essa enorme segurança de que nosso verdadeiro e único título de glória é sermos filhos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Que esta Santa pastora nos alcance esse amor à Igreja pelo qual não façamos questão de mais nada nesta vida a não ser pertencer à Igreja Católica.

Ademais, peçamos que nos alcance a combatividade que ela certamente teve. Ela tão humilde, tão modesta, tão apagada, parece o contrário da combatividade. Mas sempre que alguém tem uma virtude extrema, possui também no outro extremo a virtude oposta. Só as pessoas assim são verdadeiramente combativas. Como só são pessoas verdadeiramente combativas aquelas que na hora da compaixão sabem também se compadecer.

Então, vamos pedir-lhe que nos dê as virtudes necessárias para nosso estado, assim como ela teve as necessárias para o estado dela.       v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/6/1967)

Revista Dr Plinio 267 (Junho de 2020)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

 

Fidelidade perfeita, humilde e despretensiosa

Fundador, doutor e grande escritor, Santo Afonso atingiu os píncaros da sublimidade na inação, na oração e na dor. Não somente na dor física, mas sofrendo pelas aflições, tristezas e desmoronamentos que se operavam na Igreja Católica. Ele media bem o inconveniente terrível dos inimigos internos da Igreja, e não hesitava em chamá-los de Judas. Santo Afonso é um exemplo de fidelidade perfeita e sem jaça, sem esmorecimento, nem conformes, abnegada, humilde, despretensiosa!

 

No primeiro dia de agosto a Igreja comemora a festa de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja. Consideremos alguns dados a respeito de sua vida(1).

Uma preciosa existência coroada por uma morte prolongada sobre a cruz

De nobre família, foi grande devoto da Bem-Aventurada Virgem Maria. Doutor por excelência da Moral católica, que fora falseada pelo jansenismo. Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, viu-se excluído dela pela Santa Sé mal informada.

Os últimos anos de sua vida Santo Afonso Maria passou-os em casa dos redentoristas em Nocera. Desde então, sua vida foi apenas uma morte prolongada sobre a cruz. Estava velho, enfermo, sofrendo tentações violentas. Sua grande devoção era ao Santíssimo Sacramento e também à Virgem Mãe de Deus. Até então tinha pregado todos os sábados ao povo as virtudes de Maria, mas foi proibido de continuar pelo seu médico e seu confessor.

O que mais o preocupava era a glória de Deus e os males da Igreja. Muitas vezes se oferecia em sacrifício por uma e por outra intenção. Tendo sabido que os jesuítas tinham se estabelecido na Rússia e na Prússia, não deixava de dar graças a Deus. “Afirma-se que eles [jesuítas] são cismáticos, dizia, mas não é justo. Sei que o Papa os reconhece como membros da Igreja e os protege. Roguemos a Deus por estes santos religiosos, porque o seu instituto é uma obra favorável ao bem das almas e da Igreja. Cismáticos, cismáticos, o que é isso? O Papa Ganganelli foi instrumento de Deus para os humilhar, e Pio VI é também instrumento para os exaltar. Roguemos a Deus e ele não os deixará de abençoar”.

Ficava profundamente emocionado quando sabia que alguns espíritos se mostravam incrédulos ou dispostos a se tornarem tais. Seu pesar era ainda maior ao saber do triunfo dos jansenistas. “Pobre sangue de Cristo, calcado aos pés e desprezado – repetia ele – e, o que há de pior, desprezado por pessoas que se dizem chamadas a restaurar a pureza da doutrina e o fervor dos primeiros fiéis. Por um beijo, Judas entregou Jesus Cristo, e também por um beijo eles traem Jesus e as almas. É um veneno oculto, dão a morte antes que se perceba.”

Introduzido na glória celeste com uma vida carregada de méritos

Quantos ensinamentos dentro desta ficha! Em primeiro lugar, o estado sacrifical de Santo Afonso de Ligório. Um fim de vida que era aflição e miséria, ele não podia mais fazer outra coisa senão sofrer, e esta foi provavelmente a parte mais preciosa de sua existência. Ele que tinha sido fundador, doutor, grande escritor, sublimava sua vida morrendo pregado na cruz para nos ensinar que a oração e o sofrimento valem incomparavelmente mais do que todas as obras, e quando um homem vive para rezar e sofrer, ele tem uma vida fecundíssima inteiramente justificada; enquanto que alguém, embora faça toda espécie de obras, mas não reza e não sofre é um homem inútil e, como tal, nocivo. É este o ensinamento que daí se desprende.

É claro que Nossa Senhora quis que esse grande Santo continuasse vivo para a sua alma chegar aos píncaros da sublimidade, e que esses píncaros fossem atingidos na inação, na oração e na dor. Não somente dor física, mas a que tanto devemos pedir: a dor pelas aflições, tristezas, pelos desmoronamentos que se operam na Igreja Católica.

Naquele tempo, a Santa Igreja estava sendo preparada para uma convulsão, a Revolução Francesa, e era necessário que o Corpo Místico de Cristo evitasse essa catástrofe ou pelo menos se preparasse convenientemente para ela. E Santo Afonso de Ligório, de seu leito de dor, comentando cada apostasia, sondando e lamentando as devastações perpetradas pelos jansenistas, mais preocupado com as chagas da Igreja do que com as suas próprias feridas, considerava essa real e trágica situação.

Quando sua alma chega à inteira crucifixão, dá-se com ele o que ocorreu com Nosso Senhor Jesus Cristo: o momento do “consummatum est”. Santo Afonso então foi chamado e entrou para a glória celeste com a vida carregada de méritos. Isto é viver, isto é morrer!

Quantos Judas temos em torno de nós?

Ele media bem o inconveniente terrível dos inimigos internos da Igreja, e não hesitava em chamá-los de Judas, considerando que eles combatem a Igreja por dentro, atraiçoando-a como Judas traiu o Divino Mestre; e Santo Afonso gemia por causa dessa traição.

Quantos Judas temos em torno de nós?  Em outros tempos, poder-se-ia afirmar que os dedos da mão bastavam para contar os Judas que eram conhecidos. Entretanto em nossos dias devo dizer outra coisa: os dedos da mão, em determinados setores, talvez fossem demasiados para contarmos quem não é Judas. Esta é a realidade, ao menos por omissão, superficialidade de espírito, falta de generosidade, de dedicação.

Nesta situação, como nós devemos ter uma dor maior pelo mal que padece a Igreja Católica do que teve Santo Afonso Maria de Ligório! Se ele, com muito menos, sofreu tanto, que direito tenho eu de, por exemplo, considerar como o grande acontecimento do dia tal coisinha que se passou comigo, e ferver, arder, aborrecer-me? O que é isso em comparação ao sofrimento da Igreja? Não é nada. Se eu elevasse a minha alma até a consideração das dores da Igreja Católica, eu passaria sobre tudo isso desapegado, desprendido, aceitando tudo o que fizessem contra mim, ainda que os outros não tivessem razão.

Mas tal é a debilidade da natureza humana que muitas vezes isso não é assim, e nós devemos preparar nossas almas para que sejam cada vez mais desse modo, dispostos a toda humilhação, a toda incompreensão, a aceitar o incompreensível se for preciso, para num ato de suprema lucidez conformarmo-nos com tudo e cumprirmos nosso dever de todos os modos. É isto que Nossa Senhora pede de nós.

Embora fracos, sejamos fiéis!

Por outro lado, vemos como Santo Afonso Maria de Ligório se condoía com o Sangue que Nosso Senhor Jesus Cristo derramou inutilmente. Há uma frase no Antigo Testamento, mas que se refere profeticamente ao Divino Redentor: “Quæ utilitas in sanguine meo?” – Qual a utilidade de meu sangue? (Sl 29, 10). Como se Ele dissesse: “Eu derramei todo o meu Sangue, e até o que restava de água e Sangue em meu Coração, mas afinal de contas por utilidade de quem? A quem aproveita, quem deseja isto?” Então Santo Afonso tem esta expressão: “Pobre Sangue de Cristo!” Quando presenciamos as abominações que se veem hoje, somos também chamados a dizer: “Pobre Sangue de Cristo…”

Para nós só há uma consolação: a de termos, pelo menos, a possibilidade de utilizar o Sangue de Cristo e as lágrimas de Maria em nosso favor, pedindo que Eles tenham pena de nós e façam com que nossa generosidade seja uma reparação a tantos ultrajes. De maneira que do alto do Calvário Jesus e Maria nos sorriam e encontrem alguma alegria na nossa fidelidade. E, embora fracos, sejamos fiéis de uma fidelidade perfeita e sem jaça, sem esmorecimento, nem conformes, nem condições, abnegada, humilde, despretensiosa! Eis o que devemos ser, mais do que nunca, nesta hora. É este espírito de fidelidade que nós precisamos pedir a Santo Afonso Maria de Ligório.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/8/1967)
Revista Dr Plinio 269 (Agosto de 2020)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

Um papa que expulsou os hereges de dentro da Igreja

São Leão II, referindo-se às faltas de seu predecessor, Honório I, declarou que este, “em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiu que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana”. Canonizando Leão II, a Esposa de Cristo quis mostrar que a plenitude e a vivacidade da Fé são opostas à tolerância, composição e inércia em relação à heresia, tão frequentes em nossos dias.

 

Tenho a comentar duas notas a respeito de dois Santos que viveram a uma grande distância no tempo.

São Leão II, Papa, que aprovou as Atas do VI Concílio Ecumênico para condenar a falta daquele que, no dizer do Santo, “em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiu que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana”. Século VII.

Santo Irineu, Bispo. Deus deu-lhe a graça de destruir as heresias pela verdade da doutrina. Lutou contra os gnósticos. Século II.

Tudo o que é vivaz tem horror ao que lhe é contrário

Quando ouvimos falar em séculos II e VII, temos a impressão de que foram muito próximos um do outro, pois se perdem no nosso olhar e no rumo do tempo, formando uma coisa só. Entretanto, a distância cronológica que havia entre esses dois Santos é mais ou menos a que separa o Brasil do tempo de seu descobrimento e o de hoje. Então, compreende-se como esses Santos viveram distantes um do outro.

Ora, apesar dessa distância, ambos possuem um traço comum, consignado nessas pequenas notas: combateram a heresia, expulsaram os hereges de dentro da Igreja e vingaram a honra da Esposa de Cristo. Porque o herege dentro da Igreja maculava-a por sua presença. Por causa disso, a honra da Igreja exigia essa expulsão, impunha que o herege fosse posto fora, porque não pode haver coexistência pacífica, coabitação normal entre o bem e o mal, a verdade e o erro. Não pode haver em nenhum lugar, mas sobretudo dentro da Igreja Católica que é, por excelência, a montanha sagrada da verdade e do bem, que repele de si, horrorizada, aquele que dentro dela toma a defesa do erro e do mal.

Alguém poderia objetar: “Mas, afinal de contas, qual é o papel da misericórdia dentro disso?”

A Igreja tem muita misericórdia e não expulsa de si aquele que reconhece que anda mal, bate no peito e pede perdão por andar mal. Mas quem dentro da Igreja afirma que o bem é o mal e o mal é o bem, luta para disseminar o erro, a este ela expulsa horrorizada.

Isso por duas razões: primeiro, porque o herege perde as almas que estão dentro da Igreja. Em segundo lugar, por uma razão mais alta de heterogeneidade fundamental: a Santa Igreja é heterogênea com quem dissemina a heresia, e não pode suportar junto a si quem faz isso.

Em última análise, essa incompatibilidade está na própria natureza do princípio de contradição. Tudo aquilo que é vivaz, pelo próprio fato de ser vivaz, tem um horror àquilo que lhe é contrário e o repele com toda força e vivacidade.

Isso ocorre até no mundo animal. Um bicho que está na força de sua idade, ao se deparar com um fator contrário, reage violentamente. Por exemplo, um gato. Se uma mosca pousa em um gato cheio de vitalidade, ele espanta o inseto com violência. Mas se se trata de um gato velho, a mosca pousa nele, o incomoda, mas ele faz um gesto com negligência e com um mínimo esforço. Porque na medida em que o ser possui vivacidade tem horror àquilo que lhe é oposto.

Devemos representar a intransigência da Fé dentro da Igreja

Assim, a Igreja, cuja vida é eterna, perene, sobrenatural, tem o horror normal e contínuo àquilo que lhe é contrário. Por isso, está na índole dela ejetar para fora de si o herege, o foco de mau espírito. E o fato de ela se manifestar indolente, preguiçosa, pouco apressada na repressão do mal, indica que aqueles de seus representantes ou filhos que são assim possuem a Fé num estado de declínio, de ocaso.

Quando a Fé se encontra no estado de aurora ou no meio-dia, ela é intransigente. Quando a Fé definha, começa a envelhecer, a murchar, então surgem os conchavos, pois ela já não sente aquela fundamental incompatibilidade com aquilo que lhe é hostil.

Então compreendemos a razão pela qual a Liturgia, quando canta louvores a um Santo, insiste como título de glória desse Santo o fato de que ele ejetou para fora da Igreja os maus. A Igreja quer mostrar como a plenitude e a vivacidade da Fé e da virtude são opostas a essa composição, a esse transigir que hoje tão frequentemente se vê, e que exatamente deve ser considerado com um dos sintomas mais alarmantes existentes dentro da Igreja atualmente, ou seja, o senso da tolerância, da composição, da inércia em relação à heresia.

Temos, assim, mais um ângulo para considerarmos nosso apostolado: devemos representar na Igreja a intransigência, pois dessa maneira representamos a Fé viva, porque só aquilo que é muito vivo não transige. É, portanto, a vivacidade, a intransigência da Fé que nos compete representar dentro da Igreja. É para isso que nossa vocação nos chama. E devemos reconhecer humildemente que este dom desce do Céu e pousa sobre nós como um favor obtido pelas orações de Nossa Senhora, nos vem de fora, e a ele simplesmente nos cabe corresponder e pedir sempre à Santíssima Virgem que nos dê um acréscimo deste dom.

As circunstâncias dentro das quais nós vivemos são muito difíceis e se prendem à vida de São Leão II. A ficha a seu respeito afirma que ele aprovou as atas do VI Concílio Ecumênico, o qual condenara a falta daquele que, no dizer do Papa São Leão II, “em vez de purificar esta Igreja Apostólica, permitiu que a Imaculada fosse maculada por uma traição profana”. Aquele cujo nome não está dito era o Papa Honório I.

O Papa São Leão II disse isto de seu predecessor, ele passou por essa dificuldade tremenda de ter vivido no tempo em que se podia afirmar isso de um papa, em relação ao qual o Concílio tomou uma atitude de condenação.

Se alguém viver em dias assim, estude a situação e peça a São Leão II que lhe dê toda aquela medida de superior fidelidade à Igreja e ao Papado que fez com que ele, Santo e Papa, entretanto se julgasse no direito e no dever de usar uma frase como essa.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 3/7/1965)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

Homem da destra de Deus

Santo Olavo II teve uma longa e acidentada existência, como a de outros Santos, fundadores da Idade Média. Foi um desses homens da destra de Deus, a quem a Providência faz mercê de uma força especial para realizarem obras de caráter extraordinário.

Este Santo Rei da Noruega tornou-se o defensor da independência nacional, movido não por um patriotismo comum, mas por desejar a liberdade de seu país para a glória da Igreja, fazendo todo o possível para que sua nação fosse profundamente católica, aspirando aos bens temporais como meio para a glória de Deus e vitória dos interesses da Santa Igreja Católica.

Se, como devemos esperar, a Noruega voltar algum dia ao grêmio da Igreja Católica, as tradições, o exemplo, as orações e o sangue de Santo Olavo terão, por certo, uma relação muito grande com essa conversão.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 29/7/1965)
Revista Dr Plinio 268 (Julho de 2020)

O verdadeiro título de glória

Além de ser pobre, escrofulosa, magérrima, com a mão direita deformada, Santa Germana Cousin era desprezada pelo pai e perseguida pela madrasta. Apesar disso, ela enfrentou todas as dificuldades com extrema dignidade porque estava segura de ter um valor: ser filha da Igreja Católica Apostólica Romana. O título “católico” é o que realmente tem importância; todos os outros são secundários.

 

No dia 15 de junho a Igreja celebra a memória de Santa Germana Cousin. A síntese biográfica dela que vamos comentar é tirada de Louis Veuillot(1).

Sua casa era um lugar de martírio e não de repouso

Germana Cousin nasceu em 1579, em Vibrac, Toulouse, na época em que a França era assolada pelas guerras de religião.

Uma época, portanto, de muita pobreza porque as guerras de religião impediam, naturalmente, o desenvolvimento da agricultura, e a escassez de víveres era muito grande.

Era filha de Leôncio Cousin, pobre lavrador, e desde criança, quando perdeu sua mãe, sua vida foi um sofrimento constante. Magra, desnutrida, escrofulosa, tinha, além disso, a mão direita deformada. Sua aparência levou-a a ser rejeitada pelo pai, que nunca lhe manifestou o menor carinho e nunca impediu a cruel perseguição que sua segunda esposa movia à enteada. A casa paterna de Germana, portanto, para ela era um lugar de martírio e não de repouso. Sua madrasta repreendia-a constantemente, obrigando-a a dormir num estábulo sobre duras enxergas. Proibiu-a também de aproximar-se de seus oito irmãos.

Germana, sem se incomodar, amava as crianças com carinho especial, servindo-as sempre que podia. Deus inspirou-lhe o amor ao sofrimento e por isso aceitava com alegria essas humilhações, acrescentando-lhe outras austeridades. Em toda a sua vida só se alimentou de pão e água.

Aqui está um conjunto de dados que incutem muito respeito e admiração. Há determinadas figuras que nasceram para nos dar o exemplo da segurança sobrenatural em si mesma e não da segurança natural. Porque elas são, por desígnios da Providência, de tal maneira marcadas pela deformidade, por toda espécie de títulos que as colocam abaixo de todo mundo na ordem humana de valores, que bastariam para essas pessoas abrirem um buraco no chão e sumirem.

Assim vemos uma pobre coitada, órfã de mãe, escrofulosa, magérrima, com a mão direita deformada, uma coisa que de si desfigura qualquer pessoa, mas que ainda prejudica mais quando ela é pobre e tem que trabalhar com suas próprias mãos, torna-se mais ou menos inútil.

Extrema dignidade, sem nenhuma revolta

Essa pessoa mora, então, na casa de seu pai. E, sinal supremo do desprezo que todo mundo tem a ela, o seu próprio progenitor como que não a reconhece por filha, não lhe dispensa carinhos como a uma filha e a entrega à sanha e ao desprezo dessa megera. Ela vivia como uma criada na casa do pai, dormindo numa dependência sobre dura enxerga e fazendo o papel de pastora.

Ela podia, portanto, levada pela vergonha, pelo acanhamento, procurar fugir ou tornar-se uma revoltada. Não, ela se porta com extrema dignidade, aceita a situação em que está, não se revolta, procura agradar as crianças, filhos daqueles que a perseguem, e leva sua vida com simplicidade, segura de que ela tem um valor.

É criatura humana batizada e, portanto, filha de Deus. E sendo filha de Deus não precisa mais nada para conduzir a paz bem alto diante de todos os outros. Ei-la, portanto, com modéstia e naturalidade diante desse dilúvio de manifestações de pouco caso, conduzindo tudo com espírito sobrenatural e superior à sua vida.

Isso eu considero um lindo exemplo para nós compreendermos bem que não precisamos de títulos humanos para estar nos impondo ao respeito dos outros. Ainda quando nos desprezam, nós temos estes títulos: somos filhos de Deus, da Santa Igreja Católica e, a título especial, filhos de Nossa Senhora.

Deus, em sua grandeza infinita, sente-Se agradado com nosso louvor. Ele deseja nosso amor, aceita-o e corresponde a ele. Isso basta. Todo o resto não é nada, não tem importância. O título de filho de Deus basta para tudo.

Ufania de ser católico

Conta-se o caso de uma filha de Luís XV que, se sentindo mal atendida por uma criada, disse-lhe com energia:

— Você se esquece de que eu sou filha do Rei?

A criada, a qual achava que a Princesa não estava com a razão, afirmou:

— Vossa Alteza se esquece de que eu sou filha de Deus?

É uma linda lição! Uma resposta que indica bem a segurança e a altaneria da pessoa a quem basta a sua posição de católica. Eu sou católico, achem dessa posição o que quiserem, riam como entenderem, admirem como desejarem, nada se acrescenta nem se tira à enorme segurança que tenho, à alegria fundamental que sinto, à ufania que experimento em ser filho da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.

Não preciso mais nada. Isso me dá o título para eu me apresentar aos olhos de qualquer um com sobranceria. Não é necessário ser rico, inteligente, agradável, nem nobre ou qualquer outra coisa. Para eu ter a sensação da minha dignidade basta ser filho da Igreja Católica Apostólica Romana.

É claro que se, além disso, eu tiver outros títulos melhor será. Mas não colocarei nenhum título ao lado deste. É melhor ser lixeiro católico do que rei protestante, ser mendigo escrofuloso, com a mão direita ou todo o corpo deformado, mas católico, do que o homem mais rico do mundo, o qual não pertence à Religião Católica. Quer dizer, o nosso grande título, a grande razão de nossa ufania é sermos filhos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Vemos aqui a segurança, a paz, a tranquilidade feita de Fé de Santa Germana, diante de uma situação que dava para ela se acabrunhar.

Eu creio que outra Santa que nos deu um grande exemplo disso foi Santa Joana de Valois. Também desprezada pelo pai, por todo mundo, e por fim repudiada pelo marido. Mas ela conduziu a vida com dignidade e serenidade. Fundou uma Ordem religiosa, governou muito bem o feudo que obteve depois de sua separação, morreu e recebeu a honra dos altares. Apesar de tudo quanto pudessem dizer dela, sendo católica bastava. Para a sua segurança, seu cartão de visita estava pronto: católica apostólica romana.

É um título lindíssimo e essa ufania de ser católico é a raiz daquilo que Camões chamava “cristãos atrevimentos”. Quando tem essa ufania de ser católico, a pessoa se atreve, se lança, avança. Por quê? Não porque é mais na ordem humana das coisas; até talvez seja menos do que alguns. Mas o que tem importância é ser católico, ter recebido o sinal do Batismo na fronte. O resto é acessório, secundário.

Agora, veremos os esplendores que a Divina Providência fazia para recompensar essa serva, a qual tanto se ufanava da sua dignidade de filha de Deus.

Enquanto ela vai rezar, os Anjos cuidam do rebanho

Germana era pastora.

Pastor é um ofício poético, mas na Europa considerado como uma ocupação muito humilde. É propriamente tomar conta de bicho, não tem nada de técnico, veterinário. É apenas uma espécie de guarda de burros, vacas, carneiros, cabras. Embora perseguida pelos familiares, ela zelava com verdadeiro desvelo pelos seus carneiros.

Conta-se que para ir à igreja deixava-os aos cuidados da Providência. Nunca nenhum animal extraviou-se ou ultrapassou os limites que ela estabelecia, marcando o chão com seu cajado; também nunca foram atacados por lobos.

Vejam que cena linda: a pastora feia, trôpega e deformada, mas que tem contato direto com o Céu; Deus, Nossa Senhora e seu Anjo da Guarda falam com ela. Em certas ocasiões ela tem vontade de rezar e, por uma inspiração interior – porque sem uma inspiração isso não se compreende –, vai com o cajado e traça os limites exatos. E depois com certeza avisa: “Olhem, vocês não saiam daqui.” Quando ela volta, estão todos lá. Mas há também uma proibição para os lobos entrarem, e de fato nenhum lobo entra. Os Anjos ficam zelando pelo rebanho, enquanto ela vai rezar e agradar a Deus Nosso Senhor.

A desprezada, a pisada, a humilhada vai à igreja e Deus opera um milagre. É hábito do Criador realizar milagres.  Entretanto Ele, na sua felicidade celeste inacessível, alegrar-Se com a companhia dessa pastora humilhada e desprezada por todo mundo causa-nos admiração.

Notem quanto vale uma pessoa desprezada por um título injusto, mas que sabe carregar bem o seu desprezo.

Vivia na pobreza, mas ajudava os pobres

No campo, Germana estava sempre em união com Deus. O terço era sua oração constante, assim como a saudação angélica. Grande era sua devoção à Santíssima Virgem, à qual pedia coragem para levar avante sua vida tão difícil.

Realmente é muito árduo levar avante uma vida assim. Porque é muito bonito pensar: “Ah, que beleza os carneirinhos, estou rezando as Ave-Marias, depois eu vou para o meu pobre catre.” Mas na hora de deitar no catre, sentir o frio, comer alimento ruim, aguentar a cara da megera quando, mentindo, contar para o pai que Germana tinha perdido uma ovelha, e o progenitor dar-lhe uma punição injusta, receber bem tudo isso e ainda agradar os filhinhos da megera, isso é muito poético, mas absolutamente não é fácil. É preciso ter força e ela sabia onde procurá-la: na oração, aos pés de Nossa Senhora. Porque exatamente na oração está a fonte de toda força.

Ensinava o Catecismo às crianças da vizinhança e era a protetora dos pobres, para quem levava os restos de sua casa.

Na realidade, aqueles que mais entendem de fazer esmola, em geral, são os pobres. As pessoas muito ricas dificilmente são esmoleres. As de fortuna média ou os pobres dão esmola.

Eu conheço o caso curioso de uma senhora riquíssima. Ela possuía uma casa que ocupava um quarteirão inteiro num bairro importante de São Paulo, e na qual ela morava. Essa senhora mantinha boas relações com o ramo pobre de sua família.

Entretanto, dois genros péssimos arruinaram a fortuna dela, fazendo-a cair numa pobreza igual ou maior que a dos seus parentes pobres. Então ela teve este comentário interessante: “Engraçado, não pensei que me tornando pobre fosse mudar tanto. Se eu soubesse que vocês estão passando as privações que hoje passo, quando tinha dinheiro teria ajudado vocês.” Isso diz muita coisa…

Santa Germana era pobre, mas encontrava jeito de ajudar os pobres. Então levava víveres, restos da casa para socorrer os mais necessitados.

Os pães se transformaram em flores

Com essa pobre pastora reproduziu-se um dia o mesmo milagre de Santa Isabel de Portugal. Sua madrasta perseguiu-a, julgando que houvesse furtado alimentos da despensa.

Podem imaginar que vida! Uma pessoa honestíssima e a megera:

— Você roubou a rosca?

— Não, não roubei.

— Roubou! Onde é que está?

Ao abrir seu avental, ao invés de pão, como previa, só encontrou flores raras, nunca vistas e de inigualável perfume.

Aqui se faz referência ao famoso milagre de Santa Isabel. Ela não podia contar ao marido que estava ajudando os pobres. Um dia ele aproximou-se e perguntou: “O que você leva aí?” Ela disse que eram flores. Abriu o avental e os pães estavam transformados em rosas.

Aqui se deu a mesma coisa para proteger Santa Germana contra a cólera da megera. É um fato de uma grandeza! Ela fica alta como uma estrela, toca com a mão nos astros, e a megera do tamanho de uma formiguinha enfezada e feia.

Humilde, modesta e combativa

Uma manhã Santa Germana não saiu, como de costume, para guardar seu rebanho. O pai foi encontrá-la morta sobre seu pobre leito. Era o ano de 1601, quando ela completava 22 anos.

Agora vem a glorificação.

O povo acorreu em massa ao seu enterro, pois histórias sem conta corriam a seu respeito.

Dentro de casa, relegada a dormir num catre, sob a cólera da megera e o desprezo do pai. Gloriosa em toda a região e pisada entre os seus.

Quarenta e quatro anos após sua morte seu corpo foi encontrado intacto, sendo reconhecida sua autenticidade pela mão deformada.

Isso é muito bonito. Encontrar o corpo intacto é um dos elementos que favorecem o processo de canonização. Portanto, o caminho para a glória dos altares foi aberto para ela através da mão deformada, símbolo de sua aceitação da vontade divina. É uma lição muito bonita que está expressa nesse fato.

Canonizada em 1867, no ano de 1901 iniciou-se em Pibrac a construção de uma grande basílica em sua honra.

Que Santa Germana nos dê a graça de ter essa enorme segurança de que nosso verdadeiro e único título de glória é sermos filhos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Que esta Santa pastora nos alcance esse amor à Igreja pelo qual não façamos questão de mais nada nesta vida a não ser pertencer à Igreja Católica.

Ademais, peçamos que nos alcance a combatividade que ela certamente teve. Ela tão humilde, tão modesta, tão apagada, parece o contrário da combatividade. Mas sempre que alguém tem uma virtude extrema, possui também no outro extremo a virtude oposta. Só as pessoas assim são verdadeiramente combativas. Como só são pessoas verdadeiramente combativas aquelas que na hora da compaixão sabem também se compadecer.

Então, vamos pedir-lhe que nos dê as virtudes necessárias para nosso estado, assim como ela teve as necessárias para o estado dela.       v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/6/1967)
Revista Dr Plinio 267 (Junho de 2020)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

 

O Papa que travou uma batalha decisiva

São Gregório VII travou uma batalha decisiva, depois da qual não houve mais luta séria entre o papado e o império, ou qualquer monarquia, a respeito do princípio contra o qual Henrique IV se levantou. Posteriormente houve escaramuças, mas fundamentalmente a batalha estava ganha por esse Santo.

 

São Gregório VII teve um importante papel contrarrevolucionário ao reivindicar a prioridade das coisas espirituais sobre as temporais, do papado sobre o império, ao impor, com palavras magníficas, o castigo necessário ao Imperador rebelde que, assim contido, teve reprimida na sua pessoa, durante séculos, a marcha da Revolução a qual, como serpente que saía de sua toca, tentava começar a caminhar na História, quando o cajado firme desse pastor lhe quebrou a cerviz.

Vibrou contra Henrique IV a punição mais alta, profunda e intransigente

Tudo isso constituiu a glória desse Santo o qual pôde dizer que morria no exílio porque tinha amado a justiça e odiado a iniquidade, cumprindo desta forma inteiramente o seu dever de pastor, e dando o magnífico testemunho de si mesmo.

Mas há um aspecto da vida de São Gregório VII o qual, embora reluza com todo o brilho e seja notado por todo mundo, não vi ninguém que comentasse. Que aspecto é esse?

Ele travou uma batalha decisiva depois da qual não houve mais luta séria entre o papado e o império, ou qualquer monarquia, a respeito do princípio contra o qual ele se levantou. Sobre aplicações colaterais ou transgressões desse princípio, punidas justamente pela Igreja, ainda houve escaramuças, mas fundamentalmente a batalha estava ganha por esse Santo. Portanto, o golpe desferido por ele foi certeiro, atingindo o ponto que deveria.

Em segundo lugar, São Gregório VII teve que enfrentar o maior potentado da Terra, e não tentou ladear a questão. Ele não procurou mandar emissários incumbidos de deformar o problema, atenuando-o com meias palavras e por meio de inadequadas contemporizações.

“O Imperador se levantou e sustentou tal coisa? Eu, Gregório, sucessor de São Pedro, declaro que esta coisa é falsa, e digo a ti, ó Imperador: Tu és o maior potentado civil da Terra, tu te encontras no meu caminho como o homem mais poderoso que a mim poderia se opor. Está bem, eu travo esta batalha contigo! Entesto o meu poder contra o teu, e vamos ver qual é o poder que vale mais. Eu te deponho e excomungo, escorraço-te da Igreja Católica. Mais ainda: amaldiçoo-te, declaro que tens parte com satanás e pertences à grei maldita que Deus expulsa da sua presença. Vai, sai!”

Quer dizer, contra esse potentado ele vibra a punição mais alta, profunda e intransigente que se poderia imaginar. Não tem medo de nada. E se tiver que acontecer qualquer coisa, aconteça. “Eu estou aqui para a glória de Deus, para a vida ou para a morte desta minha pobre existência terrena. Mas lutarei até o fim.”

Um fato sem precedentes na História

O Imperador vai a Canossa. De lá para cá, “ir a Canossa” ficou uma expressão consagrada na literatura de bom quilate. Diz-se que vai a Canossa a pessoa que, em linguagem corrente, vulgar, banal de hoje em dia, entrega os pontos, não tem mais resistência a fazer e se declara derrotada.

Canossa é uma comuna italiana, próxima a Toscana – Norte da Itália –, onde a Condessa Matilde, fervorosa devota do papado, possuía um castelo no qual abrigara o Santo Pontífice contra quem o furor do Imperador Henrique IV estava por se desatar.

Esse Imperador, em pleno inverno, toma trenós e, percorrendo os desertos gélidos da Suíça, particularmente inóspitos nessa época, vai a Canossa e pede perdão, porque não tinha outro remédio. Nos últimos dias em que ele permaneceu no poder, até os criados fugiam de sua casa, de maneira a não ter sequer quem lhe prestasse os serviços domésticos. Não é só dizer que não possuía apoio político, ele não tinha quem lhe preparasse o banho! Por quê? Porque era o homem maldito sobre o qual caíra a excomunhão do representante de Cristo na Terra, do sucessor de São Pedro. Por isso ninguém queria nada com ele.

Henrique IV atravessa as vastidões perigosas da Suíça durante o inverno, e naquele tempo a qualquer momento podia acontecer que caísse por um abismo abaixo, ficando sepultado na neve. Com a excomunhão, na neve ficaria o seu corpo e no fogo sua alma para todo o sempre, se não houvesse um arrependimento perfeito.

Enfim, ele se apresenta e pede perdão. Fato sem precedentes na História: um imperador humilhado a este ponto, por uma mera palavra de um papa. É o mais alto potentado da Terra contra quem o Sumo Pontífice pronuncia uma fórmula, e ele cai no chão. Era o caso de dizer: “Sed tantum dic verbum – dizei uma só palavra, e a Igreja será salva deste inimigo.” São Gregório VII disse a palavra, e a Igreja ficou libertada.

“Excomungado aqui não entra!”

No castelo da Condessa Matilde, o Papa é informado que o Imperador estava ali. Alguém mais fraco – não só um homem que não fosse santo, mas mesmo um santo não assistido por uma graça especialíssima – talvez tivesse pensado em acolher o penitente de imediato. Mas estava ali o varão cuja vocação era dar o exemplo do que é o gládio da Igreja, e fazer amar de modo todo especial essa integridade de alma pela qual a Igreja não cede. São Gregório VII manda fechar as portas do castelo:

— Excomungado aqui não entra!

— Mas o que ele pode fazer, pois está do lado de fora das muralhas, ajoelhado no gelo e pedindo perdão.

— Que fique!

Nesse gesto tão duro e admirável nota-se a mão maternal da Igreja. Ele poderia ter dito: “Que vá embora!” Entretanto, disse: “Fique!” Na ponta do gesto floresce uma vaga esperança de perdão. Mas antes a penitência, a humilhação. Durante três dias e três noites, o soberano deposto sofreu essa humilhação.

A História nos conta que só depois disso São Gregório VII admitiu Henrique IV e, tendo este pedido perdão com toda a humildade, o Papa o perdoou, reconciliou-o e permitiu que fosse embora. Estava quebrado o cetro que satanás levantara contra o papado. São Gregório VII tinha obtido uma grande vitória.

Que a maldita Revolução gnóstica e igualitária seja punida!

Qual é a lição que tiramos disso? A de ser rijo, firme, ir ao fundo, até o fim dos princípios, às últimas consequências, enfrentar qualquer adversário de viseira erguida e de gládio em punho, não se contentar com meios termos, com palavras vazias, nem com esperanças vãs, mas, ao pé da letra, exigir que se quebre o poder que se levantou e se anule o risco que se constituiu; só então ter misericórdia.

Porque a misericórdia é admirável enquanto chama para o arrependimento o pecador e o perdoa. Ela não seria admirável e não seria verdadeira misericórdia se fosse a paz com o pecador que não se arrepende. É preciso que o pecador se arrependa sinceramente e peça perdão. Depois disso ele deixou de ser empedernido. Então é a vez da misericórdia; antes não.

Mesmo depois de pedir o perdão ainda há a penitência a cumprir. É o que nos ensina esse entrecruzamento maravilhoso de justiça e de misericórdia que é o Purgatório. Almas de pessoas que faleceram piedosamente em Jesus Cristo, morreram rezando, pediram perdão de seus pecados e comparecem diante de Deus. Entretanto, em número incontável, são mandadas para o Purgatório. Por quê? Porque é preciso expiar, pagar de algum modo o mal feito. E a alma que se arrepende tem vontade de reparar esse mal praticado.

Assim, em nossa luta devemos considerar os desígnios da Providência: desejar, com toda a nossa alma, que o adversário da verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana em nossos dias seja punido: a maldita Revolução gnóstica e igualitária. Mas seja punida ainda mais do que o Imperador Henrique IV foi, porque ela ousou coisa pior: tentou penetrar no próprio Santuário e transformá-lo num reduto da Revolução. Ela desbastou a Terra inteira, e é preciso que o castigo seja proporcional. A Revolução, enquanto tal, tem que desaparecer!

Eis a lição do grande São Gregório VII. Em última análise, levar o bem, a verdade, a beleza e a fidelidade à Igreja até as suas últimas consequências.

Devemos nos preparar para a grande luta que nos espera

Esse Pontífice não viveu no tempo de Carlos Magno, em cujo gládio estavam inscritas as palavras: “Defensor dos Dez Mandamentos”. Que coisa maravilhosa! Entretanto, São Gregório VII foi o Carlos Magno da Igreja Católica. A glória carolíngia, de proporções mais angélicas do que humanas, a Igreja a viveu nos dias de São Gregório VII magnificamente.

Nós, que queremos a glória da Santa Igreja porque desejamos a glória de Deus, devemos pedir a São Gregório VII que faça voltar à Terra esses dias de glória. Por meio dele, voltemo-nos para Nossa Senhora e peçamos a Ela, cuja intercessão é onipotente, que abrevie os dias tremendos nos quais estamos; faça com que atravessemos corajosamente todos os obstáculos que temos diante de nós e sejamos capazes da grande luta que nos espera.

São Gregório VII disse: “Eu odiei a iniquidade e amei a justiça, por isso morro no exílio.” Nós devemos afirmar: “Odiamos a iniquidade e amamos a justiça, por isso vivemos no exílio.” A nossa vida é um longo exílio, tivemos que nos exilar de tantas coisas, de tantos ambientes, de tantas circunstâncias; nós somos os exilados! Mas que belo exílio esse no qual um tão pulcro sentimento fraterno, uma tão bela conformidade de todos os espíritos e de todos os desígnios, no mesmo amor à mesma causa, nos reúnem.

O glorioso São Gregório VII, que morreu no exílio, dê força e ânimo a quem deve viver e, mais tarde, morrer no exílio. Como também àqueles destinados a ter suas vidas ceifadas durante os castigos profetizados em Fátima, para que morram com bravura. E os chamados a viver no Reino de Maria, vivam igualmente com coragem nessa ideia: o exílio acabou, mas se ainda hoje eu devesse me exilar, repetiria o meu passo e me exilaria novamente. Não tenho apego nem ao prêmio da minha vitória. Eis o nosso pedido a esse grande Santo, no dia em que se comemora a sua festa.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 25/5/1985)
Revista Dr Plinio 266 (Maio de 2020)