Plinio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo a 13 de dezembro de 1908. Era filho do Dr. João Paulo Corrêa de Oliveira e de Dª Lucília Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira. Provinha, pois, de duas notáveis estirpes brasileiras.
De um lado, os Corrêa de Oliveira, senhores de Engenho em Pernambuco, descendentes de heróis da guerra contra os holandeses, e que contaram entre seus membros homens de destacada participação na vida pública como o Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, Senador vitalício do Império e membro, também vitalício, do Conselho de Estado.
Enquanto Primeiro-Ministro, João Alfredo referendou a Lei de libertação dos escravos, cognominada “Lei Áurea”, em 13 de maio de 1888. Este célebre homem de Estado teve por irmão o Senhor de Engenho de Uruaé, Leodegário Corrêa de Oliveira, do qual foi neto o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
De outro lado, sua mãe, Dª Lucília, pertencia à tradicional classe dos paulistas de “quatrocentos anos” – isto é, provenientes dos fundadores ou primeiros moradores da cidade de São Paulo – e contava entre seus ascendentes vários bandeirantes famosos. Dentre os antepassados maternos de Plinio Corrêa de Oliveira destacou-se, durante o reinado do Imperador D. Pedro II, o ilustre Professor Gabriel José Rodrigues dos Santos, catedrático da já então famosa Faculdade de Direito de São Paulo, advogado, orador de grandes dotes, deputado provincial e mais tarde nacional.
Inigualável educadora, Dª Lucília soube inculcar na alma de seu filho, de forma indelével mas com a suavidade que sempre a caracterizou, a Fé católica, apostólica, romana, pela qual ele batalharia durante toda a vida. Ao entregar sua alma a Deus, essa tradicional dama paulista mereceu o maior elogio que um filho pode fazer a sua mãe:
“Mamãe me ensinou a amar Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica”.
Após os primeiros anos de formação sob o olhar e os desvelos de seus pais, Plinio Corrêa de Oliveira ingressou no Colégio São Luís, dos Padres Jesuítas, em São Paulo.
Feitio muito lógico, já em sua primeira infância, entusiasmou-se pelos princípios da formação inaciana, e a esta devotou viva admiração até o fim de seus dias. Infelizmente encontrou também, entre ponderável número de seus colegas, manifestações de desregramento moral, vulgaridade e igualitarismo. Posto diante do contraste entre esse modo de ser e o ambiente casto e tradicional do lar materno, formou a resolução de dedicar sua existência inteira à defesa da Igreja e à restauração da Civilização Cristã.
Atitude admirável de quem tinha diante de um si futuro sorridente, mas preferiu uma vida consagrada à defesa de princípios que muitos começavam a impugnar com ênfase.
Com efeito, a Plinio Corrêa de Oliveira não faltavam dotes para obter êxito invejável na vida intelectual, política ou profissional. Berço e qualidades pessoais se abraçavam em um harmonioso conjunto dos melhores dons da inteligência e do espírito. Caso ele se conformasse com as brisas mornas da acomodação moral e do indiferentismo religioso que sopravam – e que procuravam impor-se – todas as portas para uma brilhante carreira lhe estariam abertas.
Mas, animado de Fé e de coragem, deliberou dar outro rumo a sua vida. Tal decisão, resumiu-a ele mesmo em algumas palavras de grande ressonância:
“Quando ainda muito jovem,
Considerei enlevado as ruínas da Cristandade,
A elas entreguei meu coração
Voltei as costas ao meu futuro,
E fiz daquele passado carregado de bênçãos
O meu Porvir…”
Em setembro de 1928, aos 19 anos, Plinio Corrêa de Oliveira, então jovem universitário, participa do Congresso da Mocidade Católica, onde toma o primeiro contato com as Congregações Marianas, nos primórdios da expansão destas. Nelas encontraria ambiente receptivo para as idéias e os ideais que desde menino vinham se formando em seu espírito. Ali tinha início a nobre gesta de sua vida pública.
Desde logo ele se fez notar pelos dons com que a Providência o favorecera, despontando como conferencista, orador e homem de ação. Em pouco tempo se tornou o principal líder do Movimento Católico no Brasil.
Em 1929, pouco antes de diplomar-se em ciências jurídicas e sociais, ainda quartanista na renomada Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo – tida na época como baluarte do laicismo – coordenou alguns congregados marianos e fundou a Ação Universitária Católica (AUC). Esta se tornou em breve uma realidade vitoriosa da vida acadêmica de então, estendendo-se rapidamente para as demais escolas superiores de São Paulo.
A convocação de eleições, no final de 1932, para a formação de uma Assembléia Federal Constituinte, levou-o a idealizar a Liga Eleitoral Católica (LEC) e a participar ativamente em sua organização. Elegeu-se apoiado por ela, tendo sido o deputado mais jovem e mais votado de todo o País, ao obter o dobro de votos do segundo candidato, o ilustre líder político Prof. Alcântara Machado. Plinio Corrêa de Oliveira atuou na Constituinte como um dos maiores líderes do grupo parlamentar católico.
Cessado seu mandato de deputado, dedicou-se ao magistério universitário. Assumiu a cátedra de História da Civilização no Colégio Universitário da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, mais tarde, tornou-se professor catedrático de História Moderna e Contemporânea nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras São Bento e Sedes Sapientiae, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Ao mesmo tempo, dedicou-se à análise filosófica e religiosa da crise contemporânea. As páginas do “Legionário”, que sob sua direção passou de simples folha paroquial a órgão oficioso (semanário) da Arquidiocese de São Paulo, registram muitas dessas penetrantes análises. A clarividência com que interpretava a marcha dos acontecimentos levou-o em diversas ocasiões a prever, com impressionante acerto, o acontecer futuro.
Como Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, em 1943, seu primeiro livro, Em defesa da Ação Católica, prefaciado pelo então Núncio Apostólico no Brasil, D. Bento Aloisi Masella, mais tarde Cardeal Camerlengo da Santa Igreja. A obra é uma análise perspicaz e penetrante dos primórdios da Ação Católica.
A calorosa carta de louvor dirigida ao Autor de Em defesa da Ação Católica, escrita em nome de Pio XII por Mons. J. B. Montini, então substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, futuro Papa Paulo VI, constituiu uma eloqüente confirmação, de parte da suprema autoridade eclesiástica, das teses contidas no livro, como atestam as seguintes passagens:
“Sua Santidade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica (…)”.
“O Augusto Pontífice de todo o coração faz votos que deste teu trabalho resultem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem poucas consolações. E como penhor de que assim seja te concede a Bênção Apostólica”.
Estavam estabelecidas as condições para a formação da futura TFP. Com os membros do “grupo do Plinio” – como era conhecido o núcleo congregado em torno do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para a redação e publicação do semanário “O Legionário”– lançou Dr. Plínio o prestigioso mensário de cultura “Catolicismo”, que se tornou um dos pólos de pensamento da imprensa católica do Brasil, e cujo renome atravessou as fronteiras do País e transpôs os oceanos. Em torno dele tornou-se um movimento de opinião mais amplo que ficou conhecido como grupo de “Catolicismo”.
Da expansão desse núcleo inicial, remanescente do “Legionário”, nasceu, em 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
Um mundo que tinha voltado as costas ao passado, levantar um estandarte em torno dessa trilogia era tal ousadia que muitos a consideravam até uma demência, votada fatalmente ao fracasso. Hoje, essa tríade – Tradição, Família, Propriedade – é, nos cinco continentes, um ponto de referência. A TFP recorda continuamente que só na fidelidade aos princípios eternos da verdade revelada, ensinada pela Santa Igreja Católica, será possível construir uma autêntica civilização, ou seja, a Civilização Cristã.
A obra mestra de Plinio Corrêa de Oliveira é Revolução e Contra-Revolução. Publicada em 1959, conta com sucessivas edições em vários países da Europa e das Américas, tendo-se tornado o livro de cabeceira de todos os sócios, cooperadores e correspondentes das TFPs.
Revolução e Contra-Revolução é uma análise histórica, filosófica e sociológica da crise do Ocidente, desde a eclosão do Humanismo, da Renascença e do Protestantismo até nossos dias. A obra estabelece a relação de causa e efeito entre esses movimentos e a Revolução Francesa de 1789, a Revolução Russa de 1917, a revolta estudantil da Sorbonne em 1968, e as transformações pelas quais vêm passando o mundo e o Ocidente.
Tais movimentos e revoluções não constituem senão etapas de uma única Revolução, de cunho gnóstico e igualitário, que há cinco séculos vem paulatinamente desfigurando e demolindo a Civilização Cristã, outrora florescente, assim como a benfazeja influência da Santa Igreja sobre as nações.
À Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira opõe a Contra-Revolução, cujas metas e meios de ação delineia. Nobre ideal que conclama o homem contemporâneo a recusar em bloco as características da Revolução, e a restaurar em todo o seu esplendor as ordens espiritual e temporal cristãs.
Grande número de personalidades situadas nos mais altos escalões do mundo eclesiástico, bem como intelectuais e outras pessoas de destaque, enviaram ao autor de Revolução e Contra-Revolução cartas em que lhe manifestavam calorosamente seu apoio. Citamos apenas alguns trechos de uma das mais recentes, escrita pelo ilustre canonista de renome internacional, co-fundador do Institutum Juridicum Claretianum, em Roma, e consultor de diversos dicastérios vaticanos, o Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF:
“Revolução e Contra-Revolução” é uma obra magistral, cujos ensinamentos deveriam ser difundidos até fazê-los penetrar na consciência de todos os que se sintam verdadeiramente católicos (…). Em suma, atrever-me-ia a dizer que é uma Obra profética no melhor sentido da palavra; mais ainda, que seu conteúdo deveria ensinar-se nos centros superiores da Igreja (…).
“Não me resta senão congratular-me com a Instituição TFP por ter um Fundador da altura e qualidade do Prof. Plinio. Prevejo para a Instituição, e desejo com toda a minha alma um vasto desenvolvimento e um porvir cheio de êxitos contra-revolucionários”.
“Concluo dizendo que impressiona fortemente o espírito com que a obra está escrita: um espírito profundamente cristão e amante apaixonado da Igreja. A Obra é um produto autêntico da `sapientia christiana`. Emociona também ver em um leigo ou pessoa secular uma devoção tão sincera à Mãe de Jesus e… nossa: sinal claro de predestinação”.
As doutrinas magnificamente expostas em Revolução e Contra-Revolução são a mais fiel expressão do ideal de vida e dos objetivos que Plinio Corrêa de Oliveira se propôs alcançar ao longo de sua dilatada e fecunda existência.
Concretizando esse ideal de vida, Plinio Corrêa de Oliveira desempenhou, inegavelmente, um papel decisivo na história contemporânea de nossa Pátria, alertando e orientando a opinião pública nos momentos cruciais da vida nacional.
Suas numerosas intervenções públicas contra o agro-reformismo iniciadas em 1960 com o “best-seller” Reforma Agrária – Questão de Consciência, além de impedir a destruição da dinâmica agricultura brasileira, foram determinantes para despertar as forças vivas da nação. Evitou assim que o Brasil rolasse para o abismo.
A obra de maior impacto publicitário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, pela amplitude de sua divulgação (publicada na imprensa de 52 países, com uma tiragem total de 33,5 milhões de exemplares) foi a Mensagem das 13 TFPs – O socialismo autogestionário em face do comunismo: barreira ou cabeça-de-ponte? (1981) na qual o Autor faz uma ampla exposição e análise crítica do programa de François Mitterrand, recém-eleito Presidente da França naquela ocasião.
Em 1990, Plínio Correa de Oliveira lançou a TFP brasileira na campanha “Pro Lituânia livre”, com a adesão calorosa das várias TFPs, Bureaux-TFP e associações afins. Tal campanha, estendida assim a todos os continentes, resultou num monumental abaixo-assinado em favor da independência da Lituânia.
Tendo atingido 5.212.580 assinaturas, transformou-se, segundo o Guinness Book of Records, no maior abaixo-assinado da História, e exerceu inegável influência no processo de independência dos países bálticos, conforme testemunhou na época o Governo lituano.
O último livro de Plinio Corrêa de Oliveira foi Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana (1993). Nessa obra, o autor comenta as catorze alocuções dirigidas pelo ilustre Pontífice ao Patriciado e à Nobreza romana, as quais contêm um apelo a que sejam preservados cuidadosamente, nos países com tradição nobiliárquica, as aristocracias respectivas. Plinio Corrêa de Oliveira salienta o importante papel que, mesmo em nossos dias, cabe a essas diversas elites, realçando o valor religioso e cultural das tradições de que são portadoras, e a árdua missão que lhes cabe a serviço do bem comum espiritual e temporal no conturbado mundo de hoje. Inicialmente lançado em Portugal, seguiram-se-lhe edições na Itália, França, Espanha, Estados Unidos, Chile e Argentina.
Entre as diversas manifestações de apoio e mensagens de felicitações que o Autor recebeu, destacam-se as cartas dos Cardeais Silvio Oddi, Mario Luigi Ciappi, Alfons Stickler e Bernardino Echeverría Ruiz; do mencionado Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF, bem como dos renomados teólogos, Pe. Raimondo Spiazzi, OP, e Pe. Victorino Rodríguez y Rodríguez, OP.
Fez-se menção, acima, à penetrante clarividência com que Plinio Corrêa de Oliveira interpretava a marcha dos acontecimentos e discernia seu rumo. As previsões com as quais encerra seu último livro, quiçá se tornem realidade no futuro não muito:
“No momento em que escrevemos, estão desagregadas as nações que outrora constituíram a URSS. As fricções entre elas vão-se acentuando, agravadas notavelmente pelo fato de que algumas dessas nações possuem meios de deflagrar uma guerra atômica”.
“O que está a resultar para o mundo senão a exalação de uma confusão geral que promete a todo o momento catástrofes iminentes, contraditórias entre si, que se desfazem no ar antes de se precipitarem sobre os mortais, e ao fazê-lo geram a perspectiva de novas catástrofes, ainda mais iminentes, ainda mais contraditórias? As quais quiçá se evanesçam, por sua vez, para dar origem a novos monstros, ou quiçá se convertam em realidades atrozes (…)”.
“Quem o sabe? Quem sabe se será isso? Se será só (!) isso? Se será ainda mais e pior do que isso?”
Tal quadro seria desalentador para todos os homens que não têm Fé. Pelo contrário, para os que têm Fé, do fundo deste horizonte sujamente confuso e torvo, uma voz, capaz de despertar a mais alentadora confiança, faz-se ouvir:
“Há, portanto, razões para esperar. Esperar o quê? A ajuda da Providência a qualquer trabalho executado com clarividência, rigor e método, para afastar do mundo as ameaças que, como outras tantas espadas de Dâmocles, estão suspensas sobre os homens”.
“Importa, pois, orar, confiar na Providência, e agir”.
A vida de Plinio Corrêa de Oliveira, não se caracterizou unicamente por uma fecunda operosidade.
Foi ele, sobretudo, homem de Fé. Não uma fé comum, mas uma Fé profunda, reverente e entusiasmada na Igreja Católica, Apostólica, Romana.
Exemplo dessa Fé e desse amor entranhado e ardoroso à Santa Igreja é o seguinte trecho de uma Via-Sacra, por ele composta em março de 1951:
“No Véu [da Verônica], a representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana ela é feita como num espelho”.
“Em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo. (…)”
“Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera. Em outros termos, supõe o sacrifício de uma existência inteira”.
Como corolário de seu profundo amor à Santa Igreja sobressaía continuamente em Plinio Corrêa de Oliveira um grande devotamento ao Sumo Pontífice. A tal ponto que em uma de suas últimas palestras, para um grupo de jovens cooperadores da TFP, afirmou ele que ao chegar ao termo desta vida, seu último alento seria um ato de amor, de veneração e de fidelidade ao Papado.
Não era outro o espírito que o animava ao escrever a conclusão de seu livro Revolução e Contra-Revolução. Não quis ele encerrar aquela obra “sem um preito de filial devotamento e obediência irrestrita ao `doce Cristo na terra`, coluna e fundamento infalível da Verdade (…).
“`Ubi Ecclesia ibi Christus, ubi Petrus ibi Ecclesia`.É pois para o Santo Padre que se volta todo o nosso amor, todo o nosso entusiasmo, toda a nossa dedicação”.
“Sobre cada uma das teses que o constituem [o livro Revolução e Contra-Revolução] não temos em nosso coração a menor dúvida. Sujeitamo-las todas, porém, irrestritamente ao juízo do Vigário de Jesus Cristo, dispostos a renunciar de pronto a qualquer delas, desde que se distancie, ainda que de leve, do ensinamento da Santa Igreja, nossa Mãe, Arca da Salvação e Porta do Céu”.
Essa submissão incondicional ao Supremo Magistério da Igreja, que se refletia em todos os seus atos, palavras e escritos, foi merecidamente reconhecida pela Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades, em carta de elogio, assinada pelo Cardeal Giuseppe Pizzardo, então Prefeito da mencionada Congregação. Afirmava o ilustre Purpurado na referida missiva:
“Congratulamo-nos (…) com o egrégio autor, merecidamente célebre por sua ciência filosófica, histórica e sociológica, e auguramos a mais ampla difusão ao denso opúsculo, que é um eco fidelíssimo de todos os Documentos do supremo Magistério da Igreja, inclusive as luminosas Encíclicas `Mater et Magistra`, de João XXIII, e `Ecclesiam Suam` de Paulo VI.”
Plinio Corrêa de Oliveira foi ainda, em grau eminente, um paladino da devoção a Nossa Senhora no Brasil hodierno. Seu exemplo edificante, seus livros e artigos, seus discursos, estavam sempre imbuídos da devota união que o católico deve ter com Aquela que é a Mãe de Deus e a Medianeira de todas as graças.
Incansável em recomendar o recurso a Nossa Senhora, nunca perdia uma oportunidade de conseguir para Ela um novo devoto, de exaltar seu nome, de introduzir em algum local adequado uma imagem dEla, de recomendar um ato de piedade marial.
Quantas e quantas vezes, ao lhe pedir algum jovem cooperador da TFP um conselho, ouvia de seus lábios:
“Tenha mais devoção a Nossa Senhora”.
A recitação do Rosário, a renovação diária de sua consagração como escravo de Maria – segundo o ensinamento de São Luís Maria Grignion de Montfort – a recitação da Ladainha Lauretana, o uso da Medalha Milagrosa, a recitação dos Salmos do Pequeno Ofício da Santíssima Virgem, a visita aos santuários marianos, ou a simples imagens piedosas, eram algumas de suas devoções assíduas.
A par da devoção a Maria, não era menos ardente, na alma desse batalhador impertérrito, a piedade eucarística. Desde seu ingresso no movimento católico, em 1928, foi grande incentivador da comunhão diária, prática que ele mesmo cultivou, fonte de graças onde retemperava as forças para levar adiante a árdua luta ideológica contra-revolucionária.
“Exemplo vivo da cordialidade brasileira”, segundo a afirmação do maior diário paulista, Plinio Corrêa de Oliveira – por sua inigualável bondade e afabilidade de trato, que cativava todos quantos o conheceram; por sua inteligência ágil e intuitiva; por seu espírito universal e abarcativo, sempre pronto a reconhecer e admirar as qualidades das outras nações, especialmente daquelas onde com maior esplendor floresceu outrora a Civilização Cristã – era de fato a personificação das melhores qualidades do povo brasileiro.
Amava de forma particular sua Pátria, convencido de que para ela, por cima e para além da terrível crise em que se debate atualmente – crise muito mais religiosa e moral do que política, social e econômica – está reservado um futuro grandioso, à altura da generosidade de alma de seu povo e da imensidade de seu território; futuro nas vias da Civilização Cristã, e sob o signo da Cruz – o Cruzeiro do Sul – que a Divina Providência gravou admiravelmente em nosso firmamento como que a nos recordar continuamente nossa vocação.
Em memorável discurso proferido em São Paulo, por ocasião do IV Congresso Eucarístico Nacional de 1942, Plinio Corrêa de Oliveira, ovacionado entusiasticamente por centenas de milhares de católicos que lotavam o Vale do Anhangabaú, afirmava:
“Tempo houve em que a História do mundo se pôde intitular `gesta Dei per francos`. Dia virá em que se escreverá `gesta Dei per brasilienses`”.
“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o `lumen Christi` que a Igreja irradia. (…) Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do mundo inteiro: `Sejam entre vós os que governam como os que obedecem`, diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade. Realmente, se soubermos ser fiéis à Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro”.
Uma das principais credenciais de uma associação, de um movimento, de uma escola de pensamento é a personalidade de seu fundador ou inspirador. As TFPs não são exceção a esta regra.
Embora seja uma associação civil, a TFP brasileira não deixa de ter certos traços de analogia com uma Ordem ou Congregação religiosa. Em conseqüência, havia entre os membros desta e Plinio Corrêa de Oliveira uma relação análoga à existente entre o Fundador de uma instituição religiosa e seus discípulos.
Seu exemplo de vida, sua Fé inabalável, sua piedade intensa foram, e continuam a ser, depois de que Deus o chamou a Si, o sustentáculo espiritual de todos os componentes da TFP brasileira, bem como das demais TFPs autônomas e coirmãs. Não poucos lhe devem a graça imensa da perseverança na Fé; muitos outros, que andavam transviados pelos caminhos tortuosos do mundo, devem às suas palavras, dedicação e sacrifícios o retorno ao bom caminho.
Sua solicitude por todos e cada um dos que integram as fileiras da TFP era imensa, podendo-se dizer que não há sócio ou cooperador que não o tenha como um verdadeiro pai. Seu desvelo paternal atingia o auge quando se tratava do bem espiritual daqueles que a Providência tinha posto, de alguma forma, sob seus cuidados, não perdendo nunca ocasião de dar um bom conselho, ter algum gesto de atenção, ou uma palavra de estímulo.
Sobretudo nessas ocasiões, tornava-se patente um dom sobrenatural com que a Providência o tinha favorecido de forma inteiramente extraordinária: o de perscrutar as intenções e os segredos dos corações. O acerto de seus conselhos, o discernimento profundo da psicologia do interlocutor e até de cogitações inconfessadas dele, não deixavam lugar a qualquer dúvida sobre a origem sobrenatural de tal dom.
Plinio Corrêa de Oliveira foi indiscutivelmente, homem de ação.
Até seus últimos dias manteve uma atividade incansável. Fazia quatro conferências semanais para o plenário da TFP brasileira, além de atender diariamente membros das mais diversas comissões de trabalho ou de estudo, existentes na entidade. A tal ponto que sua jornada se prolongava, de modo habitual, noite adentro, até às 3h da manhã. Se o número de livros e ensaios que escreveu (16), bem como de artigos, manifestos e outros escritos publicados (mais de 2.500) refletem bem seu intenso dinamismo, mais notável, ainda, é o total de conferências e palestras de formação por ele feitas, na TFP, ao longo destes últimos 35 anos, que ultrapassa 20 mil.
As inesquecíveis conferências semanais denominadas “Reunião de Recortes” constituíam momentos dos mais solenes na vida interna da TFP. Tiveram elas sua origem nos remotos tempos do “grupo do Legionário”, quando o ainda jovem congregado mariano Plinio Corrêa de Oliveira, reunindo seus primeiros companheiros de luta, instruía-os com análises penetrantes dos acontecimentos da atualidade, à luz da Doutrina Católica. O nome “Reunião de Recortes” se deve ao fato de ser com base em recortes de jornais da imprensa nacional e internacional, por ele próprio selecionados, que Plinio Corrêa de Oliveira tecia seus clarividentes comentários.
Ao longo dos anos e das décadas, ele foi diversificando os temas e os tipos de exposição, segundo o interesse manifestado por seus ouvintes. Aos olhos destes reluzia sua lógica irrepreensível, bem como a clareza cristalina de seu pensamento, que ele sabia de tal modo embelezar que tornava extremamente atraente e leve tudo quanto dizia.
Plinio Corrêa de Oliveira deixa fundada uma escola de pensamento e de ação. Esta é caracterizada, antes de tudo, por uma adesão total e entusiasmada à doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, expressa nos ensinamentos dos Romanos Pontífices e do Magistério eclesiástico em geral.
“Sou tomista convicto”, era a afirmação clara e categórica com a qual ele iniciava seu “Auto-retrato filosófico”.
A partir da análise direta da realidade, à luz da Fé, deduziu uma série de princípios não apenas teóricos, mas também teórico-práticos, muitos dos quais encontram-se expostos de forma metódica e sintética no magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução, e grosso modo em todos os seus escritos.
Uma de suas preocupações primordiais era a explicitação dos princípios que devem nortear a construção de uma sociedade plenamente inspirada na Doutrina Católica. Em Revolução e Contra-Revolução, assim condensava ele suas conclusões:
“Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal” (p. 97).
Relatam as crônicas medievais que o ilustre Duque da Baixa Lorena, Godofredo de Bouillon, chefe da primeira Cruzada, era homem de força extraordinária.
Em vista de suas proezas, indagavam-lhe qual a origem de tal força, ao que ele respondia resolutamente:
“Sou forte porque sou casto”.
A cruzada ideológica de Plinio Corrêa de Oliveira exigiu de seu mentor uma força de alma em muitos aspectos superior à daquele intrépido guerreiro.
Teve a coragem de, sem temor servil nem respeito humano, rumar sozinho contra a maré daquilo que outrora se qualificava de modernidade, e enfrentar de viseira erguida todo o tipo de perseguições que seus adversários lhe moveram, fossem absurdas campanhas de calúnias ou o implacável silêncio.
A fortaleza de alma para levar adiante essa luta, encontrou-a ele sobretudo no auxílio maternal da Santíssima Virgem, mas poderia ele afirmar também, tal como Godofredo de Bouillon, “sou forte porque sou casto”.
Castidade combativa, castidade destemida, ideal de vida que ele transmitiu a seus discípulos da Contra-Revolução.
Aristocrata pelo sangue, e ainda mais pelo espírito, em Plinio Corrêa de Oliveira brilharam em alto grau as principais qualidades que, segundo Pio XII, devem ser apanágio da Nobreza: fortaleza de ânimo, prontidão para a ação, generosa adesão aos princípios da doutrina e da vida cristã, cavalheirosidade aristocrática, humildade cheia de grandeza. A estas se acrescentavam um notável senso de honra, de lealdade, de veracidade, a distinção de um gentil-homem, o tino e argúcia de um diplomata, a perspicácia de um estrategista.
Um dos aspectos mais originais da batalha incruenta conduzida por Plinio Corrêa de Oliveira foi o método de propaganda por ele idealizado, e posto em prática por todas as TFPs: campanhas de rua em contato direto com o público, nas quais os propagandistas arvoram altaneiros estandartes rubros, marcados com o leão heráldico, e envergam capas vermelhas, evocando a simbologia da cavalaria cristã medieval. São das ocasiões em que mais reluz o “charme grandioso da TFP”, no dizer de um conhecido jornalista paulistano.
Pode-se afirmar que Plinio Corrêa de Oliveira, batalhador clarividente e incansável contra todos os fatores de degradação que corroem nossa sociedade, foi, a justo título, o Cruzado do século XX.
“A Santa Igreja Católica é a luz de meus olhos”, afirmou algumas vezes Plinio Corrêa de Oliveira.
Para apressar o triunfo do Imaculado Coração de Maria – como a Virgem prometera em Fátima – pareciam-lhe necessárias almas que se oferecessem em sacrifício.
Na noite de 1º de fevereiro de 1975, durante uma reunião na TFP, Plinio Corrêa de Oliveira ofereceu-se explicitamente, nessa intenção, como vítima de holocausto.
Três dias depois era gravemente ferido em acidente automobilístico, numa estrada de Jundiaí.
As seqüelas de tal acidente perduraram até seu falecimento. Foram vinte anos de múltiplos sacrifícios, levados por ele com ânimo admiravelmente resoluto.
Suportados com inteira resignação e na mais absoluta paz de alma, até que a mão de Deus veio colhê-lo para o conduzir à glória celeste.
Desde os longínquos anos da infância de Plinio Corrêa de Oliveira até os presentes dias, mudaram, num turbilhão confuso, não apenas os cenários e os atores, os ventos e as situações, mas a própria medula do que geralmente se entende por viver.
Plinio Corrêa de Oliveira, entretanto, manteve-se fiel a seus ideais primevos. E é precisamente por essa coerência que o respeitaram até mesmo muitos de seus adversários. Vencendo ou experimentando reveses, voltando à carga ou recuando, nunca se vergando ao sopro das mais furiosas tempestades, mas, em qualquer caso, mantendo bem alto o estandarte de suas convicções e proclamando-as com galhardia, ele continuou sempre idêntico a si mesmo.
É grato olhar para o caminho percorrido por alguém, quando é luminoso e aponta para soluções verdadeiras.
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