O SANTO ROSÁRIO: inapreciável tesouro de graças

Como uma doce melodia que, superando a agressiva cacofonia hodierna, chama todos a se voltarem com confiança para a Mãe de Deus, assim ressoou nos corações católicos a Carta Apostólica “O  Rosário da Virgem Maria”, na qual o Papa João Paulo II proclama o “Ano do Rosário”  e acrescenta-lhe os “Mistérios Luminosos”. Desejosos de fazer eco à voz do Sumo Pontífice, oferecemos a nossos  leitores alguns comentários de Dr. Plinio sobre essa devoção.

 

Sempre me foi motivo de sumo agrado tratar das excelências do santo Rosário, na medida em que para isso auxiliem minha adesão a essa insigne prática, além das recordações que conservo dos fatos históricos que a concernem. Nelas me apoio, portanto, para traçar aqui mais algumas considerações sobre essa devoção de inestimável valor para a piedade católica.

A revelação a São Domingos

Como se sabe, o Rosário foi revelado por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, o grande fundador da Ordem Dominicana, numa época em que a Cristandade se via ameaçada pelo alastramento da heresia albigense por quase toda a Europa. Para detê-la, Deus suscitou aquele santo varão, que se empenhou de modo ardorosíssimo na conversão dos hereges, cujo foco de proselitismo se assentava na cidade de Albi, no sul da França.

Depois de muitos e baldados esforços, São Domingos se recolheu e passou três dias jejuando e rezando continuamente, a fim de obter do Céu o socorro de que tanto necessitava. Porém, como último resultado de preces tão fervorosas, não obteve senão o minguamento de suas forças. Ele, vigoroso, pugnaz e piedoso, acabou desfalecido.

E é tocante imaginá-lo nessa hora de esmorecimento, em que ele se volta a Nossa Senhora, e Lhe dirige uma derradeira súplica: “Minha Mãe, não tenho mais forças, mas em Vós eu confio. E continuo a rezar, a rezar e a rezar, enquanto meus lábios puderem articular alguma palavra. Vós sabereis o que fazer de minhas pobres orações”.

Depois de uma tão longa espera, diante de uma impetração tão meritória, o Céu afinal se manifestou. A Santíssima Virgem aparece e revela a São Domingos a devoção do Rosário, a suprema arma com a qual ele venceria a heresia. Mais ainda, entrega-lhe a prática piedosa que prolongaria por séculos a duração da Civilização Cristã, além e incutir alento a uma das maiores ordens religiosas da Igreja, em cujo seio floresceria São Tomás de Aquino e tantos outros heróis da Fé.

Torrentes de graças sobre a Igreja

E como se não bastassem esses benefícios, a recitação do Rosário se dilatou de tal maneira que, durante muito tempo, identificou-se com a piedade católica: uma e outra eram a mesma coisa. Fosse nos atos cotidianos da vida espiritual, fosse nas festas e celebrações de maior significado,  o Rosário — ou o terço — sempre esteve presente como expressão do fervor das almas devotas. São Domingos recebeu da Rainha do Céu este mesmo Rosário cuja forma hoje conhecemos: começando pelo Crucifixo, que devemos oscular pedindo à Mãe de Deus que seja nossa intermediária e apresente a seu Filho nossas orações; em seguida, um Padre-Nosso, três Ave-Maria, um Glória, e depois as cinco dezenas em que meditamos nos principais Mistérios da vida de Jesus e de Maria Santíssima — Gozosos, Dolorosos e Gloriosos.

É simplesmente incalculável a torrente de graças que se efundiu sobre a Igreja Católica com a prática de recitar assim o Rosário, de onde o número também imenso de papas e autoridades  eclesiásticas elogiando essa devoção. Louvores estes coroados pelas diversas aparições de Nossa Senhora, nas quais Ela se apresenta com o Rosário em suas mãos virginais, especialmente nas visões de Fátima, em Portugal, quando recomendou aos homens, com tocante insistência, a recitação diária do terço. Além disso, a Igreja enriqueceu o Rosário com muitos privilégios e indulgências, inclusive plenárias, de maneira a fazer dele um verdadeiro tesouros de bênçãos inapreciáveis.

A beleza material e simbólica do Rosário

Entretanto, a meu ver a beleza do Rosário não se restringe apenas a essas excelências de ordem espiritual que ele proporciona às almas. A sua maravilhosa eficácia impetratória, o quanto ele é  agradável a Deus e a Nossa Senhora, externam-se também na forma material do terço, cercada de imponderáveis que nos fazem sentir a pulcritude dessa devoção, e com algo de bonito e de  indizível que me parece superiormente adequado e insubstituível.

Recordo-me de quando eu era ainda aluno no Colégio São Luís, no início da década de 20, e percebi que começavam a difundir um tipo novo de terço, “mais discreto”, como pretendiam seus idealizadores. Tratava-se de um objeto parecido com certas máquinas calculadoras de então, com duas fileiras de contas superpostas, umas maiores em que se rezavam as Ave-Maria e Padre-Nosso, e outras menores que marcavam os Mistérios meditados.

Era um objeto pequeno, para tomar o mínimo de espaço no bolso e se fazer ver o menos possível pelos outros.  Tinha tudo a seu favor: prático, barato, portátil e “escondível” (o que representava uma grande vantagem para os católicos com respeito humano). Não vingou…Nada podia substituir o velho Rosário, o maravilhoso Rosário de sempre, nas suas mais variadas modalidades!

Rosários pequenos, rosários graciosos, elegantes, delicados, para crianças de trato. Rosários modestos, rosários de operários, de trabalhadores manuais, pesadões e rústicos como é tantas vezes o trabalho manual, mas rosários fortes, dedilhados por mãos fortes que vão por cima daquelas contas. Rosário sério, rosário varonil, de guerreiro. Rosários de princesas, de rainhas, lavorados como verdadeiras jóias, assim como os rosários preciosos que pendem das mãos das imagens de Nossa Senhora.

Quantas formas de Rosário! Algumas falam de graça, de charme, fazem-nos ver algo da suavidade e da bondade régias de Maria. Outras nos fazem vê-La como protetora das crianças; outras, enquanto auxiliadora do homem pobre e trabalhador como foi o principesco esposo d’Ela, São José, descendente de David e carpinteiro. Outras, ainda, nos falam da piedade do varão guerreiro, do  batalhador pelos ideais católicos, como foi o próprio São Domingos, enfrentando e vencendo com o Rosário a heresia albigense.

Aliás, esse atributo do Rosário como verdadeira arma do católico toda a vida me atraiu de maneira muito particular, razão pela qual sempre me pareceu que o terço ao lado de uma espada formava um conjunto de extrema beleza.

Estando uma vez em Buenos Aires, fui convidado à casa de um senhor que possuía uma das mais lindas coleções particulares de armas que tenho visto. Dispostas primorosamente em vitrines e  estantes, eram de todos os tipos, sobretudo diversas formas de espadas e gládios. Ao contemplá-las me ocorreu  este pensamento: “Se eu tivesse liberdade com este homem, recomendar-lhe-ia que  constituísse uma coleção de rosários tão rica quanto esta de espadas. E que a cada dia, no centro desta sala, sobre uma bonita mesa coberta de um forro prestigioso, ele renovasse a espada e o rosário em honra de uma imagem de Nossa Senhora que presidiria a coleção inteira”. Creio que o seu museu particular tomaria outra vida e outra riqueza, de tal modo o rosário e a espada se  conjugam bem.

Nunca nos separemos do Rosário

E não será mesmo demasiado insistir nesta verdade: o Rosário é, para o católico, uma magnífica arma de guerra, dessa guerra mais importante e superior que é a batalha espiritual presente na vida de todo homem. Essa guerra que travamos diariamente contra as tentações e as ciladas do demônio que procura perder nossas almas. Dessa guerra, portanto, em que lutamos para resistir às investidos do inimigo de nossa salvação, para expulsá-lo, para vencê-lo, e para deixar nossos corações dispostos a receberem as graças de Deus.

Como já tive ocasião de comentar, o demônio tem ódio e horror ao Rosário, pois se este o põe em fuga é porque vem a ser um elo poderosíssimo que liga o homem a Nossa Senhora. E, portanto, se alguém se sente tentado, lembre- se de pegar logo o seu terço, e de pegá-lo fisicamente. Melhor e mais recomendável: nunca, nunca, nunca nos separemos dele. De tal maneira que o tragamos conosco quando dormimos, quando descansamos; quando estivermos lendo ou fazendo toda e qualquer coisa, que o Rosário esteja sempre junto a nós. Mais ainda: durante o sono da noite, procuremos ter o Rosário nas mãos. E se recearmos que ele caia — e ele deve ser tratado com muita reverência — penduremo-lo ao pescoço ou no braço, ou arranjemos um outro modo de o conservar ligado ao nosso corpo. Jamais larguemos o Rosário. É mesmo um conselho que se diria supérfluo para os autênticos devotos de Nossa Senhora.

E quando nossas mãos não puderem mais nem se abrir nem se fechar, mas forem fechadas por outros para a nossa última atitude de oração, que o Rosário esteja enleado no meio de nossos dedos. De maneira que, chegado o momento da grandiosa ressurreição dos mortos, e dentro do caixão em que fomos sepultados o nosso corpo recobrar vida, entre nossos dedos revivificados esteja o santo Rosário. Assim, com este anseio e esta esperança, concluo: eu quisera que, no augusto momento em que todos os católicos forem chamados à ressurreição, e eu também ressurgir, o meu primeiro ósculo fosse dado ao Rosário que eu encontrasse cingido às minhas mãos…

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Uma devoção de luta

O Rosário confere à meditação da vida de Nosso Senhor a nota marial por excelência, tendo por detrás a grande verdade de Fé a qual devemos anelar, do fundo de nossa alma, que se torne um dogma: a Mediação Universal de Maria.

 

Dada a grandeza da festa do Santo Rosário, é importante dizermos uma palavra sobre esta devoção que consiste na meditação dos mistérios gaudiosos, dolorosos e gloriosos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo feita em três terços, cada qual com cinco mistérios.

A pessoa verdadeiramente piedosa reza pelo menos um terço por dia

Sem dúvida, é magnífico meditar a respeito dos mistérios da vida de Nosso Senhor. Ademais, os mistérios ali apontados, naquela enumeração, embora não sejam os únicos, estão muito bem concatenados e expostos, e podemos facilmente compreender o proveito que as almas têm com essa meditação.

Entretanto, devemos reconhecer que outros métodos de meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor existem na Igreja. Nós temos, por exemplo, a meditação feita segundo os Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Essa técnica inaciana pode aplicar-se a cada um dos mistérios do Rosário. Existe outra devoção que medita os mistérios dolorosos magnificamente: a Via-Sacra.

Portanto, embora seja o Rosário uma devoção muito importante, considerado na sua última coerência ele não é senão uma outra apresentação de estilos de meditação e atos de piedade que a Santa Igreja, no seu empenho materno, multiplica de várias formas.

E, por causa disso, fica sem uma explicação muito clara a seguinte questão: Por que todos os inimigos da Igreja detestam tanto o Rosário? Detestam-no e combatem-no mais do que todas as devoções congêneres. Por que também, de outro lado, o Rosário é objeto de uma predileção especial dos verdadeiros filhos de Nossa Senhora e da Igreja, de maneira que tenham eles um grande apreço, não só ao método, mas a alguns imponderáveis ligados ao próprio objeto de piedade usado continuamente como uma espécie de garantia de bênção, de favor de Nossa Senhora, a ponto de, por exemplo, não se conceber uma pessoa verdadeiramente piedosa que não tenha sempre consigo seu terço e que não reze pelo menos um terço por dia? E não se concebe um membro do nosso Movimento que não reze o Santo Rosário, isto é, os três terços todos os dias; ou que, não o podendo fazer por justas razões, não tenha por isso um grande pesar e uma viva esperança de retornar a rezar o Rosário.

Uma das belezas da Igreja Católica

São numerosas as Ordens Religiosas que usam o Rosário como elemento integrante de seu hábito. É generalizado o costume de enterrar os defuntos com um Rosário entrelaçado nas mãos. Ou seja, para esperar a ressurreição dos mortos, o verdadeiro católico não se contenta em ir para a sepultura com um crucifixo, mas vai também com o Santo Rosário. As indulgências com as quais os Papas cobriram o Rosário são sem-número. A invocação de Nossa Senhora do Rosário é generalizadíssima: catedrais, dioceses, famílias religiosas, pessoas usando o nome “Rosário” em várias nações.

De todos os lados o Rosário goza de uma influência, de uma aceitação da parte dos bons comparável apenas ao ódio que experimenta da parte dos maus. Há vários fatos que narram como o demônio, procurando atormentar esta ou aquela alma, recua quando a pessoa atormentada acena para ele com o Rosário. Todo mundo que tem mau espírito odeia o Rosário, subestima-o ou diretamente o combate. Por exemplo, os jansenistas o odiavam, os protestantes o odeiam.

Poderíamos, então, nos perguntar a razão dessa glória tão especial do Rosário para a qual, afinal de contas, não encontramos um fundamento quando analisamos a última substância do Rosário, que é a meditação dos mistérios da vida e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Parece-me que, de início, devemos reconhecer ser esta uma das belezas da Igreja Católica. Sendo ela enormemente precisa no seu pensamento teológico, é, entretanto, cheia de imponderáveis, os quais, por alguns aspectos, constituem o suco da devoção.

Mediação Universal de Maria Santíssima

Tomemos como exemplo a devoção admirável da Via-Sacra. Nela se encontra algo da ternura de São Francisco de Assis, e seus imponderáveis convidam a uma meditação enternecida, comovida da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua morte sacratíssima, de um modo especial. Há um espírito que flutua em torno da Via-Sacra que constitui, talvez, o melhor de sua eficácia. É uma graça específica ligada a essa forma de devoção.

Também os Exercícios Espirituais de Santo Inácio são um modo não propriamente de devoção, mas de meditação que traz consigo uma graça especial de lógica, de energia, de honestidade de consciência e de generosidade ao pôr-se o fiel diante dos problemas relacionados com sua salvação eterna.

No Rosário, a grande fonte de inspiração de nossa meditação e o alvo imediato de nossa oração é a Santíssima Virgem. A meu ver, é por causa dessa focalização muito especial de Nossa Senhora que o Rosário constitui a devoção marial por excelência, tendo por detrás a grande verdade de Fé que devemos anelar do fundo de nossa alma que se torne um dogma: a Mediação Universal de Maria.

O sistema de rezar o Rosário apelando para Nossa Senhora em tudo, rezando Ave-Marias enquanto se considera algum episódio, ora relacionando a oração com aquele fato, ora concentrando o principal da atenção no mistério, ora na Ave-Maria, em todo caso, sempre numa união contínua com Nossa Senhora, eis o caráter marial que, a meu ver, constitui o suco do Rosário, pois esta devoção não teria sentido se a Mediação Universal de Maria não fosse verdadeira.

Por representar um prelúdio de toda a teologia de São Luís Maria Grignion de Montfort, da verdade de Fé referente à Mediação Universal, o Rosário é tão odiado pelo demônio. E é por causa desse imponderável que nós nos devemos agarrar muito ao Rosário.

Em suma, por causa da nota marial que o Rosário confere à meditação da vida de Nosso Senhor, é um sinal de predileção de Nossa Senhora o fato de alguém ter uma devoção especial ao Santo Rosário. Também é um sinal de que Ela ama alguém o fato de, através do Rosário, levar a alma a amar uma posição que só se justifica em face da Mediação Universal. Portanto, o Rosário é o verdadeiro símbolo da devoção do fiel a Nossa Senhora, daquele que quer pertencer a Ela plenamente.

Que Nossa Senhora faça de nós lutadores inteiramente d’Ela

Isso se confirma pelo ódio do demônio e dos maus a essa devoção. Por vezes eles são mais perspicazes do que os bons; e quando odeiam muito algo, nós já podemos ter a certeza de que aquilo é muito bom.

A razão pela qual, ao decorarmos nossa sede principal, colocamos na porta da capela um Rosário pendente de uma espada, é para chamar a atenção para duas verdades ou dois pensamentos que devem marcar quem ali entra: antes de tudo, a fidelidade ao Rosário e, através dele, a essa devoção omnímoda a Nossa Senhora, que é, afinal de contas, a da Mediação Universal. Depois, a espada que nos lembra o espírito de luta.

Não é por mero enfeite que aquilo está lá, mas foi colocado de propósito, daquele jeito, para chamar a atenção daqueles que entram e marcar como um prefácio, preparando por uma espécie de golpe na mentalidade de quem entra o espírito com o qual deve-se estar dentro daquela capela. Esse simbolismo é um estímulo contínuo que nós quereríamos dar para que, cada vez mais, praticássemos a devoção ao Santo Rosário.

Fica, então, este pensamento para nos lembrar de que o Rosário é uma devoção de luta e nós estamos numa época de batalhas. Peçamos, pois, a Nossa Senhora que faça de nós autênticos lutadores inteiramente d’Ela. Não conheço melhor pedido para ser feito através do Santo Rosário. v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 6/10/1966)
Revista Dr Plinio 259 (Outubro de 2019)

O Rosário

Se algum apóstolo quiser saber como será julgada sua vida no tribunal do Eterno Juiz, não indague tanto dos caminhos que palmilhou, ou das gotas de suor que de sua fronte gotejaram. Indague, sim, das horas passadas de rosário em punho aos pés do Tabernáculo.

Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora do Rosário

Nossa Senhora do Rosário: a invocação é lindíssima! Rosário faz de Maria Santíssima a grande fonte de inspiração de nossa meditação e o alvo imediato de nossa oração durante a meditação.

Por causa dessa focalização muito especial de Nossa Senhora, o Rosário é a devoção marial por excelência.
Foi revelada pela Santíssima Virgem a São Domingos de Gusmão, que estava lutando contra uma “lepra” que infectava o Sul da França, com penetrações no litoral mediterrâneo da Espanha: a heresia albigense.
Para vencer esta heresia, Nossa Senhora revelou o Rosário que ficou, assim, o símbolo da alma ortodoxa e devota d’Ela.

Aquilo que matou o prenúncio da Revolução, adiando durante alguns séculos a eclosão da Revolução protestante, é indicado pela Mãe de Deus para o adiamento do fim do mundo e para obtermos a nossa própria fidelidade.

Santo Rosário é, pois, uma devoção de luta! Estamos numa época de luta. Peçamos a Nossa Senhora que faça de nós lutadores inteiramente d’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 6/10/1966 e 12/4/1985)

Excelências e belezas do Santo Rosário

Certa ocasião, Dr. Plinio afirmou que, se soubesse que algum de seus filhos espirituais tinha deixado a prática da comunhão diária, recearia muito por sua perseverança na vocação. Contudo, muito mais aflito ficaria se soubesse que o pobre homem tinha abandonado a reza diária do Rosário. Pois romper esse liame com a Mãe de Deus e nossa Mãe se- ria indício de grave derrapagem na vida espiritual.

Nos comentários de Dr. Plinio transcritos nestas páginas transparece seu alto apreço pela devoção marial por excelência.

Não há dúvida de que o Rosário ocupa privilegiadíssimo papel na história da piedade católica. Senhora, e atrai para ele toda sorte de graças celestiais.

Em segundo lugar, porque afugenta o demônio. Satanás tem ódio e terror do Rosário. Se alguém estiver sendo alvo de uma tentação, tome fervorosamente o Terço nas mãos e ver-se-á fortalecido contra a investida do inimigo de nossas almas.

Excelente meio de venerar a Mãe de Deus, é o Rosário causa de uma incalculável torrente de bênçãos efundida sobre a Cristandade. Por isso, os Papas – como outras autoridades eclesiásticas – não se cansam de elogiá-lo, enriquecendo-o com muitas indulgências. Se tal não bastasse, a Santíssima Virgem, querendo Ela mesma incentivar essa inestimável devoção, mais de uma vez apareceu trazendo nas mãos virginais o piedoso instrumento.

Mistérios gozosos e gloriosos

Meio tanto mais excelente quanto constitui uma meditação das vidas de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Cada dezena corresponde a um fato.

Os [mistérios] gozosos são aqueles que, no sentido nobre da palavra, deram razão para gáudio aos Sacratíssimos Corações de Jesus e de Maria. Começando pela alegria da Anunciação, quando se realizaram as castas e indissolúveis núpcias de Nossa Senhora com o Divino Espírito Santo, e Ela conheceu que Deus se servia de suas entranhas puríssimas para a encarnação do Verbo, o qual assim se tornava também filho d’Ela.

A Visitação, em que Ela é saudada por Santa Isabel e entoa o Magnificat, o maior hino de alegria e de vitória que uma pessoa tenha cantado em toda a história! As ale- grias do Natal, de que podemos ter pálida ideia se recordarmos os natais que já festejamos, e a emoção que nos toma ao nos acercarmos de um presépio para oscularmos os pés do Menino Jesus. Isto nos permite imaginar a indescritível felicidade de Nossa Senhora naquela bendita noite em que veio ao mundo o Salvador, e a própria alegria d’Ele, ao nascer para a grandiosa missão que O trazia do Céu à terra!

A Apresentação no Templo. A felicidade com que o Menino-Deus se comunicou aos homens, de tal maneira que o Profeta Simeão cantou a glória d’Ele, profetizando tudo quanto Ele seria. E Nosso Senhor, frágil criança, na aparência sem entender, compreendia e inspirava aquele cântico.

Depois, o Encontro de Nossa Senhora e de São José com o Divino Infante no Templo. No momento em que, discutindo com os doutores da Lei, o Menino Jesus resplandecia por seu talento e por sua instrução acerca das Escrituras, viu seus pais se aproximarem… Para Ele deixou de haver tudo: só teve olhos para Nossa Senhora que entrava. A alegria de consolá-La, de pôr fim ao sofrimento d’Ela e ao de São José. Que felicidade!

Tudo isso constitui uma série de deleites extraordinários.

Apenas por facilidade de comentário, passemos dos Mistérios Gozosos do Rosário para os Gloriosos. Muito mais do que a simples alegria, a glória! Esta inicia-se com a Ressurreição: três dias após a morte de Jesus, o sepulcro onde Ele jazia se enche de Anjos, se põe a estremecer. As ataduras caem de seu corpo santíssimo, um perfume mais excelente que o dos unguentos se faz sentir, Nosso Senhor resplandece da glória dos ressurrectos. De cada uma de suas chagas, de cada lugar ferido em sua carne é um sol que nasce! Ele se ergue, atravessa de modo fulgurante a laje do sepulcro e vai ao Cenáculo, encontrar-se com Nossa Senhora!

Como se não bastasse o ressuscitar a si próprio, a glória da Ascensão: o Homem-Deus sobe aos Céus diante de seus apóstolos e discípulos. A atmosfera inteira está feérica de Anjos e de luzes, a natureza se faz dulcíssima, os pássaros cantam, as flores se abrem, as nuvens resplandecem, o azul do firmamento parece uma só e imensa safira. Encantamento geral. Em certo momento, percebem que Nosso Senhor está desaparecendo. Ele sobe, sobe, sobe… Na Terra ficam apenas os homens. Mas a glória d’Ele cobre tudo, de maneira que, quando já ninguém O vê, os homens caem em si: acabou.

Acabou? Não. Outra glória começa: está ali Nossa Senhora que reza recolhida, extasiada. Tem início a presença simbólica d’Ele, ali mesmo, por meio d’Ela.

Em seguida, o terceiro Mistério Glorioso. Nossa Senhora reza com os apóstolos no Cenáculo. A Igreja é pequena, nova, fraca, caminha indecisa entre tantos escolhos e perigos. De súbito, o Espírito Santo desce em forma de chama sobre a venerável cabeça da Rainha do Céu e da Terra. Essa chama se divide em doze e paira sobre os Apóstolos.

Transportados pelo Espírito Santo, transformam-se em outros homens que, entusiasmados, começam a pregar e a ensinar a doutrina do Divino Mestre. Mais uma vez, a glória de Deus resplandece.

Chega o momento da Assunção de Nossa Senhora. Cer- to dia, um sono ligeiríssimo se transforma em morte. Mais virginal do que nunca, conservando ainda todo o esplendor da juventude dentro da respeitabilidade da ancianidade, Maria Santíssima passou pelo sono dos justos, como um lírio que se colheu e se depositou sobre o altar. Sem conhecer a corrupção do túmulo, também Ela ressuscitou, e também começou a subir aos Céus, rodeada de Anjos que A glorificavam.

O Céu, morada eterna da alegria insondável, da felicidade e da glória imutáveis, tornou-se ainda mais paradisíaco quando Nossa Senhora ali ingressou. Ela, a Medianeira de todas as graças, tomou assento aos pés do Trono da Santíssima Trindade, e foi coroada pela Trindade Beatíssima. É o quinto Mistério do Rosário: a glória de Nossa Senhora no Céu.

Dois píncaros de suma elevação: um, cheio de suavidade, de doçura, de discreta resplandecência dos prazeres de alma íntimos e serenos. Outro píncaro, o das grandes e régias glórias.

Trágicas magnitudes dos Mistérios Dolorosos

Entre os dois ápices, porém, há um vale profundo… É o da dor! No que neste vale há de mais tenebroso, sanguino- lento e negro, ergue-se um monte, geograficamente pequeno, entretanto o mais alto monte da Terra: o Calvário! Neste Calvário, uma Cruz. Junto à Cruz, Nossa Senhora. De pé, heroica, vertendo seu pranto de Mãe transpassada de aflição. Cravado nessa Cruz, padecendo inenarráveis dores, com sofrimentos inimagináveis, o Homem-Deus que expira: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?…”

São os Mistérios Dolorosos!

A Agonia ou, como se costuma dizer, a Oração de Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. Agonia em grego significa luta. Por que luta?

Porque Ele sabia que Judas O estava vendendo. Ele sabia que [os esbirros dos fariseus e dos sacerdotes] viriam para prendê-Lo. Ele sabia que sua Paixão iria começar em breve. Ele conhecia todos os aspectos morais e físicos dessa Paixão. Media, ponto por ponto, todas as ingratidões, maldades, injúrias, friezas e perversidades que fariam contra Ele ao longo daquele caminho. E media as dores que tudo isso causaria à sua Mãe Santíssima. Gotas de sangue irrompem em sua Face, transformam-se em filetes que Lhe escorrem pela barba, embebem sua alva túnica e tingem o chão pedregoso do Getsêmani.

Aparece então um Anjo e Lhe dá de beber um cálice contendo algo que O consola, que Lhe confere forças extraordinárias de alma e de corpo. Ele se recompõe inteira- mente e se levanta como um gigante, como um sol, e parte para o supremo sacrifício da Redenção.

Na Agonia, a alma santíssima de Nosso Senhor sofreu de modo inenarrável. E por corolário, à maneira de refle- xo, esse sofrimento espiritual ocasionou o suor de sangue. Mas, de si, o corpo sagrado de Jesus ainda não fora atingi- do. Começou a sê-lo na flagelação. É o segundo Mistério doloroso. Um contraste pungente entre a mansidão, a bondade, a voluntária incapacidade de defender-se, de um lado; e o ódio brutal, estúpido, cruel, de outro lado. No meio de bofetadas, gargalhadas e empurrões, Nosso Se- nhor é preso à coluna. Com açoites tremendos, os esbirros começam a fustigá-lo furiosamente. Jesus se põe a gemer. Gemidos de insondável doçura, gemidos harmoniosos, saí- dos de um corpo que se contorce de dor pela brutalidade do tormento que padecia. Pedaços de carne caem no chão, e é carne do Homem-Deus! Seu sangue salvador corre aos borbotões.

Depois temos a Coroação de Espinhos. Por todos os títulos, divinos e humanos, Nosso Senhor Jesus Cristo foi e é verdadeiramente Rei. Insensíveis àquela realeza evidente, que se irradiava do Homem-Deus como a luz se irradia do sol, movidos por estados de espírito diversos, [seus cruéis e irredutíveis adversários] resolveram matá- Lo. E para provar que Ele não tinha poder, nem sabedoria, nem divindade nem realeza, colocam-Lhe, como numa encenação de comédia, a coroa de espinhos sobre a cabeça. Que padecimentos, não apenas físicos, mas sobretudo morais!

Porém, posto naquele trono de irrisão, sentado nele com a mansidão de um cordeiro, tinha Jesus entretanto a altanaria de um leão e a excelsa dignidade de um Rei sentado em seu régio sólio, como quem diz: “Ninguém me abaterá, porque Eu sou Eu, sou Filho de David, mas, sobretudo, sou Filho de Deus!”

Por fim, levam-No à morte. É o carregamento da Cruz até o alto do Calvário. Nosso Senhor não sorriu em face da dor. Quando sua hora chegou, tremeu, se perturbou, suou sangue diante da perspectiva do sofrimento. E neste dilúvio de apreensões, infelizmente por demais fundadas, es- tá a consagração do heroísmo d’Ele. Jesus venceu os brados mais imperiosos, as injunções mais fortes, os pânicos mais atrozes. Tudo se dobrou ante a vontade humana e divina do Verbo Encarnado. Acima de tudo, pairou sua de- terminação inflexível de fazer aquilo para que havia sido enviado pelo Pai. E quando levava sua Cruz pela rua da amargura, mais uma vez as forças naturais fraquejaram. Caiu, porque não tinha forças. Caiu, mas não se deixou cair senão quando de todo não era possível prosseguir no caminho. Caiu, mas não recuou. Caiu, mas não abandonou a Cruz. Ele a conservou consigo, como a expressão visível e tangível do propósito de a levar ao alto do Gólgota.

O Gólgota, o mais alto monte da terra…

Prece dos fortes e dos batalhadores

O Rosário é a prece dos fortes, é a súplica dos batalha- dores, porque é um conjunto de orações de tal eficácia que faz avançar o bem e recuar o mal.

Veja-se, por exemplo, o episódio da conversão dos albigenses. A heresia promovida por estes – que tiram seu no- me da cidade de Albi, na França – espalhou-se mais ou menos por toda a Europa.

Durante três dias, sozinho, São Domingos não faz senão rezar e jejuar, suplicando a Nossa Senhora que Ela vences- se a dureza de alma dos albigenses e os incitasse à conversão. Por fim, sem alcançar nenhuma resposta do Céu, ele cai desfalecido, elevando à Santíssima Virgem uma última prece: “Minha Mãe, não tenho mais forças, mas em Vós continuo a confiar. Vós sabereis o que fazer de minhas pobres orações”. E continuava a rezar, enquanto seus lábios pudessem articular alguma palavra.

É nesse momento de extrema angústia que Nossa Senhora lhe aparece e lhe revela, de uma vez, a grandeza e a magnificência do Rosário. Em seguida, encoraja São Do- mingos à luta contra a heresia. Munido da poderosa arma que lhe confiou a Mãe de Deus, o Santo corre para a Catedral, e começa a pregar. O Céu o prestigia: primeiro, os si- nos começam a tocar por mãos de anjo; logo depois, raios e trovões fizeram estremecer o povo ali presente.

Como o temor prepara para o amor! São duas escadas que, juntas, conduzem o homem à união com Deus. Uma, de nobre granito, o temor. Outra, de ouro, o amor.

Desejando a Providência preparar aquelas almas endurecidas para amarem a Deus na palavra inflamada de São Domingos, incutiu-lhes antes o terror da ira divina. Depois, à medida que São Domingos falava, sucedeu o mesmo que quando Nosso Senhor ordenou que a tempestade amainasse. A borrasca cessou, e os ouvintes compreenderam que a palavra daquele homem era poderosa diante de Deus. A Pro- vidência lhe conferira o duplo poder de desencadear e de suspender as punições, como lhe dera a força de tomar as almas arrependidas, trêmulas e envergonhadas, e trazê-las para o perdão, para a contrição, para o amor de Deus.

São Domingos, o que pregou? Ele pregou o Rosário.

Segundo a história da Igreja, a partir do momento em que o Rosário começou a se difundir, a heresia albigense foi perdendo terreno, porque sofrera irremediável golpe no que ela tinha de mais vital.

O Rosário representa, assim, magnífica arma de guerra. Dessa forma de guerra tão mais importante, na qual o católico luta pelos interesses da verdadeira Igreja de Deus, pela causa de Nossa Senhora, combate o demônio e os inimigos de sua própria salvação.

A prática do Rosário, portanto, deve ser uma característica do católico de todos os tempos, sobretudo os que vi- vem neste paganizado século XX, em que tudo conspira contra a virtude e a Fé. Tão eficaz nos dias de São Domingos, vitorioso contra os albigenses, o Rosário o será ainda mais contra a impiedade deste fim de milênio. Pois não há razão alguma para pensar que ele perderá sua força numa época em que ela se faz mais necessária.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora do Rosário, uma festa de glória!

Uma das linhas mestras da piedade de Dr. Plinio era promover a glória da Santa Mãe de Deus. Por ocasião da comemoração da festa de Nossa Senhora do Rosário, Dr. Plinio manifesta um de seus mais entranhados desejos.

 

Nós devemos festejar a data que a Igreja dedica a Nossa Senhora do Rosário com um empenho especial pela simples razão de que o Rosário é um dos símbolos mais característicos da piedade cristã. Houve tempos em que ele pendia dos hábitos de quase todos os religiosos, ele estava no bolso de todas as pessoas católicas, inúmeras eram as pessoas que eram enterradas com ele nas mãos. Quando se queria simbolizar a piedade, este símbolo era o Rosário.

De maneira que nós devemos olhar para esta festa do Rosário cheios de esperança, e pedir a Nossa Senhora, que ajudou aos cristãos vencerem a Batalha de Lepanto, que nos conceda a graça da vinda do Reino d’Ela, que será também o Reino do Rosário.

Eu já afirmei isso, e volto a fazê-lo: se o nosso Movimento parasse de rezar o Rosário, ele não durava três meses. Eu me pergunto se, na decadência dos dias atuais, ele duraria três dias! Porque para se deixar de rezar o Rosário, tanta coisa teria caído antes, e tanta coisa cairia logo depois, que eu acho que três dias era o máximo para ele se desfazer. Não percamos isto de vista. É a Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, a quem nós devemos tudo.

E assim como dizemos “Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto, sicut erat in principio et nunc et semper…”, talvez pudéssemos afirmar “Glória a Nossa Senhora, como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém”, desde que pela expressão  “no princípio” não entendêssemos que Maria Santíssima é a criadora de todas as coisas — o que seria uma aberração —, mas que desde todo o sempre Ela foi a obra-prima da Criação, e estava presente na mente de Deus, que intencionou criá-La para ser, logo abaixo da humanidade santíssima de Jesus Cristo, a maior de todas as perfeições por Ele realizada.

Essa noção da glória de Nossa Senhora, que se traduz nas homenagens que fazemos a Ela, é reflexo do que nós trazemos dentro da alma. E essa glória de Nossa Senhora nós a queremos realizada agora e no Reino de Maria!

A verdadeira glória de Maria

O que é glória?

São Tomás de Aquino define a glória como o efeito que se volta para sua causa e a louva. Então o movimento pelo qual os filhos se voltam para seus pais, os alunos para seus mestres, os súditos para seus governantes e os louvam, os homens — sobretudo — se voltam para Deus e O louvam; todo esse movimento é de glória. Há nisto algo de circular. É o louvor perfeito dado por aquele que deve gratidão perfeita, tributo perfeito, àquele que está na origem, ou da vida terrena, do talento, ou da cultura, das ações acertadas etc., e sobretudo a Deus Nosso Senhor que está na origem de todas as coisas, é a Causa das causas.

Esse conceito de glória nós o verificamos a respeito de Nossa Senhora da seguinte maneira:

A Virgem Santíssima é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e, enquanto Mãe d’Ele, é Mãe do Corpo Místico de Cristo. Por meio d’Ela todas as graças vem aos homens, e todas as orações sobem até Deus. Evidentemente, Ela está, portanto, logo abaixo de Deus, e por desígnio de Deus, no ponto de partida de todas as coisas. E a glória d’Ela será completa quando todos os homens se voltem para Ela e A louvem.

Mas esse louvor não pode ser apenas um cântico da grandeza e da bondade de Nossa Senhora. Tem de ser também o reconhecimento efetivo desta grandeza e desta bondade, o qual se traduz nos atos. Quer dizer, louva Maria Santíssima quem vive de acordo com as virtudes das quais Ela deu exemplo, e pratica essas virtudes com o intuito de honrá-La.

Louva Nossa Senhora, portanto, quem vive conforme as virtudes que a Igreja Católica inculca, porque a Mãe de Deus possui e praticou no mais alto grau todas as virtudes que a Igreja Católica ensina. A Virgem Maria era uma espécie de representação viva da Igreja Católica.

Uma pessoa que olhasse para Nossa Senhora teria, num só golpe de vista, a noção de toda a sabedoria, de toda a continuidade da Igreja, do esplendor de todos os seus santos, do talento dos seus doutores, da beleza de sua liturgia em todas as épocas, do heroísmo de todos os cruzados e de todos os mártires. Enfim, não houve coisa bela que a Igreja tivesse engendrado, e por onde manifestasse o seu espírito, que não brilhasse em Maria Santíssima completamente e com fulgor extraordinário.

Nós, portanto, louvamos a Nossa Senhora, sendo, vivendo e fazendo como a Igreja Católica manda. E exatamente o que fazemos agora, se fará continuamente no Reino de Maria.

Como fazer a vontade de Nossa Senhora?

Como fazemos isto agora? Pode-se dizer que a Igreja se divide em três partes: a Igreja Gloriosa que está no Céu, a Igreja Padecente, no Purgatório e a Igreja Militante, na Terra. Enquanto a Igreja estiver na Terra, ela será militante, lutará. Então os pensamentos da Santíssima Virgem para nosso século não podem deixar de ser pensamentos de luta.

Lembro-me de uma linda escultura gótica que representa Nossa Senhora com um manto todo cheio de dobras e com uma espada na mão, investindo contra o demônio. É esta a tarefa de Maria Santíssima em nossa época.

Alguém dirá: “Mas Nossa Senhora é Mãe, Ela é apresentada na Igreja e nos templos sob o aspecto da misericórdia!”

É verdade. Esta Mãe de misericórdia olha com bondade para a Terra, mas observem os pés d’Ela: esmagam a cabeça da serpente! Quer dizer, é uma luta que só cessará no fim do mundo, quando os demônios que pairam nos ares forem atirados no Inferno, e todos os homens receberem o seu julgamento solene e final, e com isso se terá feito completamente a justiça.

Portanto, se a Virgem Maria se encontrasse, nesta Terra, de maneira visível, estaria estimulando a todos nós à dedicação pela causa d’Ela. Por isso, lutando por Nossa Senhora, estamos fazendo a vontade d’Ela.

E uma das melhores provas de que alguém tem de estar fazendo a vontade da Santíssima Virgem, consiste em ser combatido pelos inimigos d’Ela. Se é verdade que um homem se define por seus amigos, acho que é muito mais verdade que ele se define por seus inimigos. Aquela expressão clássica: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”, eu gostaria de completá-la com esta outra: “Diga-me quem te odeia que te direi quem és”.

Porque, com o homem bom, os ruins não erram. E se todos os ruins detestam um homem, este não pode ser ruim, tem que ser bom.

Os maus vivem divididos entre si, e só se coligam contra o bem e contra o bom. De maneira que quando se veem todos os maus cessarem as rixas entre si e se voltarem contra um, este um é necessariamente um bom, porque ele é o denominador comum contra o qual todos os outros se conciliaram e se ergueram. Por exemplo, vemos Anás, Caifás, Herodes e Pilatos apaziguarem as lutas que tinham na pequena Judeia e se ligarem para matar a Nosso Senhor.

Esplendor de Nossa Senhora

Nós tratamos da glória. Mas como será o esplendor de Nossa Senhora?

Na Idade Média, a devoção por excelência, embora não empregassem esta fórmula, era Cristo Rei. Nosso Senhor era cultuado como o grande triunfador. As catedrais do auge daquela época histórica tinham um ar de triunfo magnífico. Eram majestosas, solenes, se levantavam ao céu com uma tranquilidade de quem se sente dono do céu e da Terra. Suas torres davam a impressão de tocar nas nuvens, e seus fundamentos de descer até o centro da Terra.

Tinha-se a ideia de que elas dominavam todo o universo. Os vitrais, triunfantes, exprimiam em geral a glória de Cristo que venceu a morte, por quem os mártires venceram as perseguições, os cruzados lutaram; de Cristo por cuja virtude a civilização se erguia, com esplendor nunca igualado, das entranhas de um mundo onde havia o paganismo, o bárbaro e uma latinidade católica sumamente decadente e tíbia. Nosso Senhor Jesus Cristo aparecia como um Pantocrator, sentado sobre um arco-íris e ensinando a toda a Terra.

Daí também o som triunfal dos sinos das catedrais, dos grandes órgãos tocando em todos os seus registros, os grandes cânticos de triunfos da liturgia, as grandes procissões públicas. A Igreja desenvolveu durante o período final do apogeu da Idade Média, em toda a sua plenitude, a sua grandeza e o senso de sua soberania.

Que beleza seria contemplarmos a Idade Média! Sinos começam a tocar diante de um povo que, ao ouvi-los, cessa de trabalhar e começa a fluir para a catedral. Abrem-se os portais enormes. Nobres, corporações, povos esparsos da cidade vão chegando e entram de Rosário na mão. Uns rezando em grupos, outros isoladamente, em voz baixa. Em determinado momento, tudo se estaca e entra o cortejo dos clérigos: um Bispo com sua mitra, seu báculo, tendo à sua frente todo um clero de mãos postas e que salmodia em latim.

Quando o Bispo, revestido de trajes esplêndidos, transpõe o portal da catedral, ele encontra o povo genuflexo. Alguém lhe oferece água benta, ele se benze, toma o hissope e começa a abençoar a todos. O órgão toca, pelos vitrais entra a luz do Sol, o incenso começa a subir. O povo não cabe em si de alegria e põe-se a cantar também, louvando Jesus Cristo, Nossa Senhora, os Apóstolos, a Santa Igreja Católica!

Pois bem. Isto é tão maravilhoso, mas eu digo que é um prenúncio de uma coisa incomparavelmente maior que virá!

A glória do Reino de Maria

Nós teremos catedrais mais belas, mais sacrais, mais esplêndidas do que Notre-Dame, talvez até instrumentos de música que superarão os órgãos e todos os instrumentos anteriores, uma liturgia cuja santidade vai brilhar de um modo mais refulgente que a liturgia anterior, a qual é, entretanto, tão santa e admirável, que se tem vontade de oscular cada uma de suas letras.

Enfim, haverá todo um conjunto de pompas e esplendores que vão simbolizar um domínio radioso e muito mais glorioso de Deus sobre a Terra. E tudo quanto a Igreja tem ensinado ao longo dos séculos, a respeito de Maria Santíssima, vai ser posto na liturgia de um modo muito mais evidente, mais marcante. De maneira que de ponta a ponta, na liturgia, estará presente o princípio da Mediação universal de Nossa Senhora, ensinado por São Luís Grignion de Montfort.

Nossa Senhora será como a lâmpada colocada no mais alto dos candelabros, logo aos pés da imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, junto ao Santíssimo Sacramento. E nessa esplêndida irrupção da glória de Maria veremos, então, a confirmação de todos os nossos desejos e aspirações.

Se alguém me perguntar: “Dr. Plinio, o senhor não poderia dar um pouco a ideia de como será a glória do Reino de Maria?”, eu digo: “Faltam-me completamente os talentos para isto”. Mas uma coisa todos nós sabemos: a figura dessa glória já começou a nascer no interior de nossas almas. Pela beleza do movimento de alma com que todos juntos desejamos esta glória para Nossa Senhora, pela pulcritude da esperança com que, pela graça de Maria Santíssima e apesar de nossas infidelidades, nós desde já pressentimos com foros de certeza como vai ser esta glória.

E na noite e na tempestade, e dentro do lodo, ver este sol de esperança que se levanta, é muito mais do que um simples lírio que nasce na noite e na tempestade; é um sol que fará cessar a tempestade e secará o lodo. A beleza das primeiras cintilações deste sol em algumas almas, que se conservam puras dentro deste lodo, contém na sua raiz toda a pulcritude da glória do Reino de Maria.

Uma meditação dos mistérios gloriosos do Rosário

Para marcar este dia de Nossa Senhora do Rosário, proponho rezar especialmente os mistérios gloriosos do Santíssimo Rosário em homenagem àquelas várias manifestações de glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora.

A Ressurreição de Nosso Senhor deve ter sido uma cena de uma majestade inimaginável! A sepultura parada, quieta, escura… De repente um anjo começa a remover a pedra e legiões angélicas entram no sepulcro e enchem-no de luz, e Nosso Senhor sai de dentro da sepultura com o seu Corpo glorioso. Quem pode ter ideia de como foi essa glória?

A Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Céus: Ele, subindo lentamente e falando, até que sua voz não mais pudesse ser ouvida. Entretanto, cada vez mais resplendente, magnífico e bondoso, comunicando-Se pela irradiação de sua Pessoa mais do que quaisquer palavras. Maria Santíssima e todos os Apóstolos estavam olhando para o céu; os anjos aparecem e dizem: “Homens da Galileia, não temais! Aquele que subiu ao Céu etc”. Quem pode imaginar a beleza e a glória de uma coisa dessas?

Qual terá sido a glória da descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos? A coisa mais bonita que tenho visto em minha vida é uma alma se converter ou se santificar. Ver alguém que abandona um defeito e volta para uma qualidade que possuía; ou que regressa ao bom caminho que havia deixado; ou que adquire uma qualidade que ainda não tinha! Nada é mais bonito na Terra do que ver diretamente nas almas a santificação delas operada pelo Espírito Santo.

Alguém será capaz de imaginar o que foi ver o fogo do Divino Espírito Santo cair sobre Maria Santíssima e os Apóstolos? Nossa Senhora habitualmente tão sublime, esplendorosa de alma, de repente recebeu um grau de esplendor que não se imaginava existir.

E as pessoas, olhando a Nossa Senhora, tinham a impressão de estar vendo Nosso Senhor Jesus Cristo em figura feminina, mas, por fim, diriam: “Não, esta é a Mãe de Deus, a Mãe do Salvador!”, de tal maneira Nossa Senhora estava cheia do Espírito Santo. Isso é mais uma glória da qual não podemos fazer ideia.

Depois vem a glória delicadíssima, suavíssima, virginalíssima, maternalíssima de Nossa Senhora assunta ao Céu. Como deve ter sido o “luto” de toda a natureza com Nossa Senhora morta? Eu não posso imaginar! Mas depois, a alegria: Nossa Senhora que ressurge! Nossa Senhora que sai da sepultura! E depois é carregada pelos anjos, ressurrecta e que vai subindo!

Enquanto Nosso Senhor manifestava grandeza e bondade na sua Ascensão, Ela manifestava mais bondade do que grandeza. Um sorriso materno, e todos olham para Ela, conhecendo-A mais, compreendendo-A mais, e sendo cada vez mais atraídos por Ela, à medida que vai Se elevando ao Céu, até o momento em que Nossa Senhora desaparece. Mas uma claridade fica espalhada sobre tudo e sobre todos, como quem diz: “Eu, em realidade, fiquei. Rezai porque estarei sempre presente, unida a vós”.

E por fim a festa no Céu, que só os bem-aventurados daquele tempo assistiram: Maria Santíssima entrando no Paraíso, conduzida pelos anjos e sendo recebida por Nosso Senhor Jesus Cristo! Há alguém que possa pintar Nosso Senhor recebendo a Nossa Senhora?

A recompensa demasiadamente grande

Eu creio que só houve uma cena que pudesse dar ideia disso: a Virgem acolhendo Nosso Senhor durante a Via-Sacra. Toda a ternura e adoração d’Ela para com Ele, todo o amor filial, e ao mesmo tempo do Criador, de Jesus para com Ela se manifestaram ali, na dor, de modo admirável. E era preciso ter visto o olhar recíproco entre Eles. Houve algum diálogo, uma pergunta e uma resposta, uma coisa fugidia porque Ele era obrigado a continuar. Mas Nossa Senhora indo depois ao encalço de Nosso Senhor, a troca de olhares do alto da Cruz até o último olhar d’Ele que, com certeza, foi para Ela. E o supremo olhar d’Ela para Ele antes do “consummatum est”.

Era preciso ter visto assim as relações entre Eles para compreender o que foi o olhar com que Nosso Senhor, do alto do trono de sua glória, considerou-A no momento em que Ela entrou para o Céu!

Alguém conseguiria imaginar com que espécie de respeito Nosso Senhor Jesus Cristo — que é Deus! — coroou a Ela, que de corpo e alma estava presente no Céu? Essa glória ninguém consegue descrever, pois excede a tudo quanto se possa cogitar.

Se Nosso Senhor é para cada um de nós a nossa recompensa demasiadamente grande, de que tamanho terá sido a recompensa que Ele foi para Ela? Entretanto, Ele o foi para Nossa Senhora, pois Ele é infinito.

Essas glórias nós as devemos considerar, pedindo a Maria Santíssima que acelere o dia da glória d’Ela!

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 7/10 dos anos: 1970, 1971 e 1987)

 

Uma devoção de luta!

Nossa Senhora do Rosário: a invocação é lindíssima!

O Rosário faz de Maria Santíssima a grande fonte de inspiração de nossa meditação e o alvo imediato de nossa oração durante a meditação.

Por causa dessa focalização muito especial de Nossa Senhora, o Rosário é a devoção marial por excelência.

Foi revelada pela Santíssima Virgem a São Domingos de Gusmão, que estava lutando contra uma “lepra” que infectava o Sul da França, com penetrações no litoral mediterrâneo da Espanha: a heresia albigense.

Para vencer esta heresia, Nossa Senhora revelou o Rosário que ficou, assim, o símbolo da alma ortodoxa e devota d’Ela.

Aquilo que matou o prenúncio da Revolução, adiando durante alguns séculos a eclosão da Revolução protestante, é indicado pela Mãe de Deus para o adiamento do fim do mundo e para obtermos a nossa própria fidelidade.

O Santo Rosário é, pois, uma devoção de luta!

Estamos numa época de luta. Peçamos a Nossa Senhora que faça de nós lutadores inteiramente d’Ela.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 6/10/1966 e 12/4/1985)

A prece dos fortes

No dia 7 de outubro celebra-se a festa de Nossa Senhora do Rosário, estabelecida pelo Papa São Pio V a fim de manifestar a jubilosa gratidão da Igreja para com a Santíssima Virgem, cuja solícita intercessão determinou a vitória da causa católica na batalha de Lepanto.

Ardoroso devoto do santo Rosário, por ele rezado diariamente, Dr. Plinio não perdia oportunidade de enaltecer as excelências dessa prática mariana, sendo-lhe — como afirmava — “motivo de sumo agrado” recomendá-la e incentivá-la entre seus filhos espirituais. Nesse intuito, fazia-lhes compreender como o Rosário “ocupa privilegiadíssimo papel na história da piedade católica. Em primeiro lugar, porque une o fiel a Nossa Senhora, e atrai para ele toda sorte de graças celestiais. Em segundo lugar, porque afugenta o demônio. Alguém que se sinta tentado, tome fervorosamente o Terço em suas mãos, e ver‑se‑á forte contra a investida do inimigo de nossas almas.

“Excelente meio de venerar a Mãe de Deus, é incalculável a torrente de bênçãos que a recitação do Rosário efundiu sobre a Cristandade. Por isso, Papas e autoridades eclesiásticas não se cansam de elogiá‑lo. Se tal não bastasse, a Santíssima Virgem, querendo Ela mesma incentivar essa inestimável devoção, mais de uma vez apareceu trazendo em suas mãos virginais o piedoso instrumento. De modo particular, nas aparições de Fátima, em Portugal, quando recomendou aos homens, com tocante insistência, a recitação diária do Terço. Além disso, a Igreja enriqueceu o Rosário com muitos privilégios e indulgências, inclusive plenárias, de maneira a fazer dele um verdadeiro tesouros de bênçãos inapreciáveis.

“A recitação do Rosário se dilatou de tal maneira que, durante muito tempo, identificou-se com a piedade católica: uma e outro eram a mesma coisa. Fosse nos atos cotidianos da vida espiritual, fosse nas festas e celebrações de maior significado, o Rosário — ou o Terço — sempre esteve presente como expressão do fervor das almas devotas.

“São Domingos recebeu da Rainha do Céu este mesmo Rosário cuja forma hoje conhecemos: começando pelo Crucifixo, que devemos oscular pedindo à Mãe de Deus que seja nossa intermediária e apresente a seu Filho nossas orações; em seguida, três Ave-marias, um Glória, e depois as cinco dezenas em que meditamos nos principais Mistérios da vida de Jesus e de Maria Santíssima — Gozosos, (Luminosos[1]), Dolorosos e Gloriosos.

“Ainda que rezado por almas mais frágeis, o Rosário é a prece dos fortes, é a súplica dos batalhadores, porque é um conjunto de orações de tal eficácia que faz avançar o bem e recuar o mal. A par das riquezas espirituais que encerra, temos a pluralidade dos feitios e coloridos com os quais é utilizado: rosários pequenos, graciosos, delicados, para crianças de trato; modestos e rústicos, mas fortes, dedilhados por mãos vigorosas que passam sobre aquelas contas; sério, varonil; rosários de princesas, de rainhas, lavorados como verdadeiras jóias, preciosos como esses que pendem das mãos das imagens de Nossa Senhora. Todos nos fazem ver algo da suavidade e da bondade régias de Maria, protetora dos débeis, amparo dos fortes, como foi o próprio São Domingos, enfrentando e vencendo com o Rosário a heresia albigense.”

E após recomendar com incansável empenho a recitação do santo Rosário, necessária aos fiéis de todos os tempos, Dr. Plinio ainda oferecia este tocante conselho:

“Nunca nos separemos do Terço. Que ele esteja sempre junto a nós, em todos os momentos: quando dormimos, quando descansamos, quando estivermos lendo ou fazendo toda e qualquer coisa. Jamais o larguemos. E quando nossas mãos não puderem mais nem se abrir nem se fechar, mas forem fechadas por outros para a nossa última atitude de oração, que o Rosário esteja entrelaçado em nossos dedos. De sorte que, chegado o momento da grandiosa Ressurreição dos mortos e nosso corpo recobrar vida, nosso primeiro gesto possa ser o de oscular o Terço que encontraremos cingidos às nossas mãos…”

[1]) Dr. Plinio faleceu em 1995, antes de o Papa João Paulo II enriquecer o Rosário com os Mistérios de Luz, na sua Carta “Rosarium Virginis Mariae”. Motivo pelo qual acrescentamos os mesmos entre colchetes, para o presente comentário adquirir ainda mais atualidade.