Ao considerar a arte grega, Dr. Plinio discerne a profunda tendência desse povo para a harmonia.
Dotados de bom gosto extraordinário, os gregos tinham o talento de fazer coisas lindíssimas, até imortais, sem gastar muito dinheiro. O que custa, por exemplo, levantar uma coluna? Não é muita coisa.
Colunas que ficaram imortais
Com um muito bom golpe de vista, eles entendiam o que precisa ter uma coluna para ser maravilhosa. Que relação deve haver entre a base e o topo, por exemplo. Ela precisa ir estreitando lentamente, de tal maneira que em cima seu diâmetro seja menor do que o da base, e o observador tenha a impressão de que a coluna é mais alta, porque afinou e está longe da vista dele.
É feia a coluna gorducha em baixo e que vai ficando, de repente, mais fina. É preciso que ela vá adelgaçando-se de tal maneira que a pessoa, à primeira vista, não perceba que ela afinou.
Coluna lisa, sem graça, é um tubo que não vale nada.
Deve-se fazer coluna com adornos, com reentrâncias e saliências. Que profundidade devem ter as reentrâncias, que largura os bordos das saliências para serem bonitas? Qual é o tamanho de cada gomo da coluna em comparação com a altura e a largura? Como precisa ser a base para dar a impressão de que a coluna é forte? Como deve ser o capitel para causar a impressão de que ela é graciosa?
Por que razão a coluna precisa proporcionar a impressão de forte na base e graciosa no alto? Não seria bonita uma coluna graciosa na base e pesadona no alto? Não pode ser assim, a sugestão é desagradável. Uma coisa graciosa que aguenta uma pesadona é um pesadelo! Que proporção de força e de leveza deve ter uma coluna para agradar ao homem? Há colunas que ficam imortais. Às vezes, com o passar dos séculos, o templo inteiro cai, e uma coluna que reste é um monumento histórico, guardado hoje em dia com todo o cuidado, estudado nos álbuns de arquitetura do mundo inteiro.
Que indicam essas colunas? A tendência profunda desse povo para a harmonia, a capacidade de estabelecer as relações entre os vários elementos de um todo, de maneira a ficar agradável de ver.
Esta é a harmonia dentro da obra de arte.
Mesmo as praças de aldeolas eram de uma beleza, de uma harmonia célebre até o fim do mundo. Os gregos viviam ladeados, inundados pela harmonia, mas uma harmonia inteligente que exigia trabalho para perceber, e era filha do desejo de perfeição.
Vivacidade e distinção em ânforas de barro
As ânforas de barro fabricadas pelos gregos são admiradas até hoje em todos os museus bem equipados da Europa, porque se conservaram muitas. Ânforas de uma cor de terra avermelhada com uma faixa preta em cima, na ponta mais larga da ânfora. Eles não pintavam a parte que não tinha figura, de maneira que esta ficava com a cor vermelha do barro.
Eram as coisas mais comuns. Por exemplo, um homem levando um bezerro pela corda para vender no mercado. Nota-se a elegância do homem, o bezerro anda com classe e a própria corda tem uma linha extraordinária! O indivíduo que puxa o bezerro tem um estilo natural ao de um homem do campo, não é um nobre. Mas é todo distinto.
Na porta da casa está a mulher esperando. É uma figura de tragédia grega: uma Penélope qualquer com aquelas saias sucessivas e aquele ar, ao mesmo tempo simples, natural e distintíssimo. De maneira que se tem a impressão de um teatro vivo. Entretanto, é apenas uma moringa comprada na feira!
A harmonia na arte era a meta deles para ter harmonia na vida.
Plinio Corrêa de Oliveira (Revista Dr Plinio, fevereiro de 2017, p. 34)